Deputada Vanessa da Rosa (Foto: Bruno Collaço / Agência AL)
Reportagens

SC volta a ter deputada negra no parlamento depois de 89 anos

Vanessa da Rosa ocupou uma cadeira na Alesc por um mês; a primeira e última mulher negra no mesmo cargo foi Antonieta de Barros

Reportagem por Marcela Catelan

A professora Vanessa da Rosa (PT) finaliza nesta segunda-feira (20) seu período como deputada estadual de Santa Catarina, no Dia da Consciência Negra. Ela tomou posse na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) em 19 de outubro de 2023.

A primeira e última vez que uma mulher negra havia assumido uma vaga na Alesc, foi há quase um século, em 1934, com a também professora Antonieta de Barros.

Vanessa da Rosa é ex-secretária da Educação de Joinville (SC) e atua como professora há 33 anos, passando pela Educação Básica ao Ensino Superior. Em 2022, obteve 16.832 votos na disputa por uma cadeira da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, sendo a primeira suplente de deputada estadual pelo PT.

“Não foi simples chegar aqui. Não é simples para as mulheres do Brasil de uma forma geral. Nós temos um parlamento extremamente masculino e branco. Então a gente precisa furar essa bolha, mudar esse mecanismo enraizado no Brasil de fazer política a partir da ótica do homem branco e hétero”, destaca a deputada.
Atualmente, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina possui apenas 7,5% de parlamentares mulheres e negras. Vanessa ocupou o cargo por um mês em função da licença do titular da vaga, Padre Pedro (PT).

Posse da deputada Vanessa da Rosa (Foto: Bruno Collaço / Agência AL)

Iniciativas da deputada no parlamento catarinense

Em seu período como deputada, ela protocolou o Projeto de Lei 433/2023, que visa instituir o 20 de Novembro como o Dia Estadual da Consciência Negra, tornando a data feriado oficial em Santa Catarina.

O objetivo do projeto é reconhecer a colaboração do povo negro na construção do Estado e construir uma sociedade mais igualitária e consciente da diversidade cultural e histórica, na unidade federativa mais branca do país, segundo o IBGE.

A parlamentar também protocolou o Projeto de Lei 425/2023, que propõe criar espaços de acolhimentos para crianças em situação de vulnerabilidade social e atender a demanda das famílias que desempenham atividades profissionais ou acadêmicas no período noturno.

“As mulheres negras são as mais violentadas [no Brasil] e também são as que estão em maior número quando se trata de ser mãe solo. Elas vivem sozinhas com as crianças, isso impede que elas terminem seus estudos e tenham uma ocupação formal com carteira registrada. Aumentando assim o índice desvantajoso para o povo negro em relação à taxa de empregabilidade e de elevação dos estudos”, salienta Vanessa da Rosa.

Conforme pesquisa do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), as mulheres são 75% das vítimas de violência física e sexual no Brasil. Mulheres pretas e pardas são ainda mais afetadas. Em algumas regiões do país elas têm mais do que o dobro do risco de sofrer algum tipo de violência em relação às brancas.

A deputada reforça que “a gente precisa sim fomentar políticas públicas que combatam a violência contra a mulher, combatam a violência doméstica, combatam a violência de gênero e raça e a violência parlamentar”.

Educação anti racista e ocupação de lugares de direito pelo povo negro

Vanessa da Rosa levanta a bandeira da educação anti racista. Para ela, a escola tem um papel fundamental na missão de combater o racismo.

“Ninguém nasce racista, as pessoas se tornam racistas nas relações sociais. A escola é um ambiente que pode ser promissor para acolher as crianças, para que elas socializem e vivam a diversidade, mas também pode ser um ambiente hostil em relação a essas interações”.

A deputada afirma também a relevância e impacto da ocupação de lugares como a Assembleia Legislativa pelo povo negro.

“Durante muitos anos de escravização e de teorias racistas, o que mais se pregava é que o povo negro não tem inteligência, cognição e por isso só servia para o serviço braçal. E quando a gente chega e o ocupa um espaço importante como esse, a gente legitima a epistemologia no povo negro”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.