Reportagens

Sabores do mundo na Ilha de Santa Catarina

Conheça a culinária estrangeira trazida por imigrantes intercontinentais para Florianópolis

Reportagem de Luiza Casali e Sthefany Martins

Não dá para negar que comida e cultura se entrelaçam. Um prato típico é capaz de nos transportar para lugares distantes. Ingredientes e modos de preparo podem nos contar histórias que carregam lembranças e vivências de quem está “fora de casa”.

Em especial, histórias de imigração que estão permeadas de sonhos, decisões difíceis, coragem e esforço para se adaptar à nova realidade. Há mais de 1,3 milhão de imigrantes residentes no Brasil, de acordo com dados do Observatório das Migrações Internacionais.

Florianópolis está entre as três cidades catarinenses mais procuradas por estrangeiros para viver, segundo dados de 2022 do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM). Eles vêm em busca de melhores condições de vida, seja por necessidade ou por escolha.

Nesta reportagem em vídeo, você vai conhecer três restaurantes de pessoas que migraram ao Brasil e compartilham um pouco de sua terra natal com os moradores e visitantes de Florianópolis através da gastronomia.

Receita chinesa tradicional passa de geração em geração

Guiozas do Novo Oriente

Espalhar a cultura chinesa pela capital catarinense é o que motiva Qi Zhi Chao, administrador do restaurante familiar Novo Oriente. Na verdade, ele é mais conhecido como Edson aqui no Brasil, onde mora há mais de 20 anos. Pelas mãos de sua mãe, com o auxílio de seu pai, nascem os gyozas, prato principal do restaurante que a chef de cozinha aprendeu a preparar com a própria mãe.

Gyoza é um bolinho com uma massa recheada de carne de porco, vaca ou frango, e até camarão. A opção vegetariana tem cogumelo shitake, ovo, um macarrão transparente e fino, chamado de harussame, e abobrinha com temperos orientais. Ainda dá para escolher o tipo: o tradicional (Jiao Zi), que é cozido no vapor, o grelhado (Guo Tie) ou em caldo (Hun Tun).

Administrador Qi Zhi Chao e a jornalista Sthefany Martins na recepção do Novo Oriente. Foto: Luiza Casali

“O gyoza é uma comida de origem chinesa. Na culinária japonesa, coreana e malasiana, você encontra também, com outros temperos e outros nomes. Mas foi inventado na minha província e eu cresci comendo gyoza. A gente come geralmente nas datas festivas, como o Ano Novo Chinês”

Qi Zhi Chao

Edson nasceu na cidade de Weihai, que fica em uma província no Leste da República Popular da China, e emigrou ao Brasil com os pais aos 12 anos de idade. Eles escolheram viver em Foz de Iguaçu, no Paraná, e foi em 2015 que se mudaram para a capital catarinense, onde criaram o Novo Oriente. O restaurante fica no segundo andar do Shopping Trindade, próximo à UFSC, no bairro Trindade, em Florianópolis.

Assista ao vídeo para conhecer melhor o Novo Oriente:

Marrocos e Brasil se encontram no coração da universidade

Toda quarta-feira, em meio ao vai e vem de estudantes e professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), barraquinhas oferecem uma variedade de comida aos passantes. Uma das opções que chamam a atenção é a culinária marroquina de La Maison du Maroc, que pode ser traduzida do francês como “A Casa do Marrocos”. Quem está por trás da tenda, quase sempre conversando com os clientes, é Abdelaziz Bahsain.

“Me interessa conversar com os alunos porque eu aprendo com eles, e eles também aprendem. É uma troca de experiência. Esse é um dos motivos por que eu gosto muito de ficar aqui”

Abdelaziz Bahsain

Nascido em 1968, na cidade de Tétouan, no noroeste do Marrocos, Bahsain trabalhou em restaurantes e hoteis da Europa, passando por Portugal, Espanha, França, Holanda e Alemanha.

“São quase 40 anos só de imigração”

Abdelaziz Bahsain

O marroquino veio ao Brasil pela primeira vez em 2010, pois é casado com uma brasileira-portuguesa, e já completou cerca de 8 anos frequentando a Feira da UFSC. Os pratos mais vendidos são cuscuz, lanche de frango com limão siciliano e bolinho de grão de bico, que é uma versão marroquina do falafel.

Confira o vídeo:

“Mi casa, su casa”: um lar gastronômico argentino em Floripa

Prato de milanesas argentinas da Lupular. Foto: Sthefany Martins

De braços sempre abertos, logo ali na região continental da capital manezinha, o restaurante e bar Lupular comprova que os nossos hermanos acertam em cheio quando o assunto é culinária afetiva, acompanhada de um bom chopp artesanal. 

A cervejaria foi criada há mais de dois anos e fica no bairro Abraão. Seu nome vem da junção de duas palavras: lúpulo, planta responsável pelo aroma e sabor da cerveja; e lar, já que a ideia é oferecer um espaço em que todos se sintam em casa. “O que tem de bom nesse lugar é que foi construído com o coração”, diz o administrador da Lupular, Matias Sanchez.

“Queremos que as pessoas possam viver uma experiência argentina aqui em Floripa”

Matias Sanchez

Há nove anos morando no Brasil, Matias é natural de Mar del Plata, uma das 10 cidades mais populosas da Argentina. O administrador e fotógrafo pisou pela primeira vez em solo brasileño antes da virada do século. Foi quando conheceu a praia da Guarda do Embaú, um dos cartões postais do litoral Catarinense, que Mathias se apaixonou pelo país verde e amarelo. Quando a oportunidade surgiu, ele se mudou para a capital fluminense em busca de oportunidades na área da fotografia. No Rio de Janeiro, conheceu a atual esposa, que hoje o ajuda com a administração da cervejaria. 

O casal chegou para ficar em Florianópolis na época da pandemia. A semente do que hoje é a Lupular já havia sido plantada pelos sobrinhos do fotógrafo, antes mesmo da chegada dos dois. Hoje, quem comanda a cozinha é o irmão de Matias. Para eles, é muito difícil definir um carro chefe da casa, muitos dos fregueses já tiveram alguma experiência gastronômica internacional em Buenos Aires e outras cidades argentinas. Mesmo assim, a surpresa é boa a cada garfada das famosas milanesas, prato típico de carnes marinadas com temperos especiais, empanadas com farinha de rosca. 

Para conhecer a Lupular de perto, acesse o vídeo:


Reportagem e edição: Luiza Casali e Sthefany Martins. Apoio técnico: João Lucas Buzuti. Série produzida para a disciplina de Jornalismo Online e Narrativas Digitais do Curso de Jornalismo da UFSC. Orientação da professora Stefanie Carlan da Silveira.


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