Reportagens

Estudantes acampam em frente à BU por permanência

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Por Leila Haddad e Victor Lacombe

Foi sob a luz fraca que ilumina a entrada da Biblioteca Universitária da UFSC que seis estudantes, munidos de cobertores, tendas e travesseiros, acamparam no noite de 13 de abril, depois de não conseguirem se cadastrar para concorrer à assistência estudantil. Com prazo final até sexta-feira (15) para completar o cadastro socioeconômico, documento necessário para que se concorra a uma bolsa, mais de cinquenta estudantes não tiveram a oportunidade de iniciar o processo, que deve ser feito pelo site, devido a uma sobrecarga do sistema. Os alunos passaram dois dias em frente ao prédio da biblioteca. Expostos à chuva que costuma encerrar um dia de muito calor em Florianópolis, o grupo foi forçado a se mudar para o mal iluminado ponto de ônibus da BU, que embora oferecesse alguma cobertura, os deixava expostos a outro problema: falta de segurança.

A situação começou no início de abril, quando o sistema online da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), órgão responsável pela assistência, deixou de dar conta da quantidade de pedidos a serem processados. Para tentar realizar seu cadastro, os estudantes se viram forçados a comparecer ao centro de atendimento da PRAE, que fica no prédio da Biblioteca Universitária, em horários cada vez mais incomuns: dez da noite, cinco da manhã. Mas a quantidade dos pedidos somada ao número reduzido de funcionários (a PRAE tem seis assistentes sociais trabalhando regularmente) e as condições estressantes às quais as profissionais estavam submetidas fez com que, até o dia do prazo final, 51 estudantes estivessem prestes a perder a oportunidade de pleitear uma bolsa permanência.

 

“No primeiro dia choveu muito, e tivemos que correr para o ponto de ônibus [da BU]. Éramos seis, se revezando para dormir. Foi uma situação humilhante. “

 

Após o segundo dia de acampamento, os 51 alunos entregaram um abaixo-assinado para a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis, Denise Cord, exigindo que o prazo fosse prorrogado ou que fosse realizado um mutirão para que os alunos pudessem se cadastrar. Na manhã da quinta-feira, a PRAE soltou uma nota em seu site, dizendo que “em nenhum momento se objetivou vivenciar a situação de estudantes que passam o dia inteiro na recepção do setor, ausentando-se em suas disciplinas ou privando-se de sono e alimentação”.Contudo, a nota não oferecia nenhuma solução para as demandas apresentadas em abaixo-assinado, embora classificasse a situação dos alunos como “humilhante”. Camila concorda com a descrição. “É uma situação muito ruim. E agora estamos pedindo uma melhoria que não é só pra mim, é uma melhoria para todos, para o próximo semestre”.

Diálogo

Foi às 17h da quinta, que os alunos obtiveram uma resposta por e-mail da Pró-Reitoria que informou a decisão de prorrogar o prazo para agendamento do Cadastro Online. Além de aprovar a isenção do Restaurante Universitário para alunos ingressos por cotas autodeclarados negros e aumentar o número de bolsas ofertadas, de 250 para 300 — ainda abaixo do valor do ano passado, 350. Para esse aumento, um novo edital de bolsas será aberto em 29 de abril, com um período de inscrição de 2 a 23 de maio. Já a o prazo para concorrência das bolsas já existentes foi ampliado para 13 de abril. Essas medidas, comunicadas por meio do despacho da PRAE, foram confirmadas em uma reunião ocorrida na segunda-feira, dia 18.

Porém, essas decisões não contemplam o novo universo de alunos da UFSC. Além das dificuldades financeiras, causadas pelo corte de R$10,7 bilhões* que o Ministério da Educação sofreu em 2015, o vestibular de 2016 foi o primeiro a reservar 50% das vagas para ações afirmativas, principalmente de alunos provenientes de escolas públicas. Entretanto, esse aumento no número de alunos economicamente vulneráveis não foi acompanhado por melhorias na infraestrutura dos programas de permanência da PRAE.

*valor corrigido de acordo com a inflação

Além disso, uma das preocupações dos alunos é o cumprimento dessas promessas com a posse da nova gestão, dos professores Luís Carlos Cancellier e Alacoque Erdmann, vencedora das eleições de 2015 e que assume a reitoria em maio. De acordo com o chefe de gabinete da atual reitora, Carlos Vieira, “tudo está sendo feito para minimizar as falhas do nosso processo, incluindo um fórum sobre permanência estudantil que será realizado em breve. Esperamos que a nova gestão participe desse evento para que se inteirem da situação da permanência nessa universidade”.

Problema recorrente

Apesar da situação vivida pelos alunos, documentos mostram que não é a primeira vez que esse problema acontece. Segundo o relatório anual da PRAE de 2015: “No processo de inscrição do primeiro semestre houve problemas no sistema de cadastro socioeconômico (…). No segundo semestre, também surgiram problemas (…) Isso demandou um grande esforço da equipe de apoio administrativo do órgão”. No segundo semestre, foram 36 alunos que não conseguiram se candidatar.

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