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Das prateleiras empoeiradas aos acervos virtuais

Texto e fotos: Guilherme Longo (guilherme.longo93@gmail.com)

Em um tempo que as vendas através da internet têm ganhado uma importância cada vez maior na rotina das pessoas, um setor em especial, geralmente associado com produtos antigas, esquecidas e empeiradas, tem se destacado no país. É o de vendas de livros usados online. Os sebos tem dividido sua atenção entre as vendas físicas e as online, que passaram a ser até mais lucrativas. E tudo isso começou por causa de um momento de necessidade.

Em 2004, durante uma busca por materiais para um mestrado em Psicologia Social que André Garcia, fundador do portal Estante Virtual, teve a ideia de agrupar os sebos em um único local na internet para facilitar a procura e o comércio dos livros usados. Durante doze meses, em um quarto de empregada na casa de seu avô, foi colocando sua ideia em prática e em 20 de outubro de 2005, o site foi lançado.

Nos primeiros meses, apenas 12 sebos tinham seus acervos cadastrados, mas o número aumentou rapidamente. Foram necessários cerca de nove meses para que o portal começasse a dar lucro. Agora já são cerca de seis funcionários, além do fundador, que trabalham em uma casa alugada em São Paulo para funcionar como sede. Atualmente a Estante Virtual possui em seu sistema o acervo de mais de 2.000 lojas, que representam cerca de 80% do negócio no país. Mas por causa do conservadorismo de alguns donos, não há expectativas de que um dia todos os sebos estarão cadastrados. Antônio Soares, dono do sebo Armazém do Livro, no centro de Florianópolis, é um exemplo. Em seu acervo disponibilizado na Estante Virtual, encontram-se somente 20% do total de livros que possui em loja. O motivo, de acordo com Antônio, é a preferência pelo contato físico com o cliente. “Gosto que venham à minha loja, de dar sugestões às pessoas que vêm procurar livros. Trato isso aqui como um hobby”, explica.

Por dia, mais de 300.000 buscas são feitas no portal, mas o recorde do site é de quase um milhão de pesquisas diárias. Desse total, cerca de cinco mil acabam se concretizando em vendas para os sebos.

Atualmente, o faturamento do portal vem de duas formas. A primeira são as mensalidades pagas pelos vendedores para terem seu acervo no sistema. São disponibilizadas diversas opções, com valores diferentes. A de menor valor é para acervos com até 200 livros, com isenção da mensalidade. A mais utilizada são as de acervos com até 2.000 títulos, de R$29,90. Para sebos com um número acima de 60.000 unidades, a mensalidade é de R$132,90. Mais recentemente, foi introduzida uma nova taxa de pagamento para o portal: a cada venda, cerca de 2% do valor fica para o site.

Uma das consequências da criação do portal foi o aumento da procura por livros em sebos ao redor do país. Para Márcia Nascimento, dona do sebo Ilha das Letras, a Estante Virtual e seus concorrentes como o Livronauta e o Sebo Online foram essenciais no aumento das vendas, já que em Florianópolis e em Santa Catarina, a busca por livros usados é pequena se comparada a outros estados. Com as vendas na internet, houve a possibilidade de aumentar a área de vendas para todo o país. Em 2013, a venda de livros no sebo de Márcia foi de aproximadamente 600 títulos por mês, um aumento de 30% em comparação com 2010, quando a loja surgiu e ainda não possuía seu acervo nos sites. Desse total, cerca de 70% das vendas são realizadas através da Estante Virtual,

Atualmente, o site detém 97% do mercado de vendas de livros usados online. O estado de São Paulo aparece como o maior comprador. Livros teóricos das ciências sociais, como sociologia, filosofia e comunicação representam boa parcela do comério. Mas os livros de literatura nacional e estrangeira representam a maior parcela de vendas.

Mas para Márcia, a Estante Virtual não potencializou somente as vendas no meio online. A venda presencial também foi incentivada, uma vez que os clientes podem olhar o acervo na internet e se dirigir até o local para comprar o livro desejado. “Para os clientes locais, aumentou a confiança na hora da compra, porque eles já sabem em que condições se encontram os livros”, afirma a dona do sebo.

Por mais que a venda online não possua o contato com o cliente que a venda presencial possibilita, também é possível lembrar-se de algumas histórias. Para Márcia, uma das histórias mais legais desde que abriu a loja aconteceu por causa de um livro chamado “Os sapatinhos vermelhos”, da autora Joanne Harris, que foi comprado pela livreira em 2010. Foi o título que ficou disponível em seu acervo por mais tempo: cerca de três anos, sendo que a média de permanência dos livros não é maior que dois meses. Mas a livreira sempre teve certeza de que a venda aconteceria eventualmente. No início desse ano, ele foi adquirido através da Estante Virtual por uma pessoa em Santa Catarina e foi motivo de festa para Márcia e suas irmãs, sócias no negócio.

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Atual forma de pagamento divide opiniões

No início de 2012 foi introduzido um novo modo de pagamento no site, o sistema PayPal, que pertence ao eBay. Durante os primeiros dias, diversas reclamações foram feitas pelos clientes e pelos livreiros. Entre as principais reclamações por parte dos clientes estão a lentidão no processamento das compras, erros na cobrança (como duplicação de valores) e dificuldades de cadastramento. Já os vendedores protestam contra o aumento das taxas e a obrigatoriedade de usar o PayPal – e, consequentemente, de aceitar transações via cartão de crédito, mais custosas do que opções como o depósito bancário.

Segundo a equipe do site, as reclamações se limitaram a menos de 10% das tentativas feitas entre janeiro e fevereiro de 2012. “Fizemos inúmeros testes antes de implementar o novo sistema, mas havia detalhes impossíveis de prever”, afirmou. Esta é a operação mais complexa realizada pelo PayPal no Brasil.

Márcia afirma nunca ter tido problema com o sistema. Para a livreira, a introdução do PayPal para pagamentos na Estante Virtual foi um facilitador em seu negócio. Antes do sistema automático, o pagamento era feito através de depósito bancário. “Era um problema, porque o cliente podia esquecer ou desistir da compra e não avisar e o livro ficava reservado, sem podermos vender”. Agora, além de permitir o pagamento automático, possibilita o pagamento por cartão de crédito, algo que poucos sebos aceitavam antes.

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