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Satélite da UFSC ganhará o espaço em 2024 para ajudar moradores de SC diante de eventos extremos

Tecnologia desenvolvida por alunos e professores dos cursos de engenharia de Florianópolis e Joinville está em etapa final e deve ser submetida a testes em dezembro

Por Felipe Bottamedi

Diante de eventos extremos cada vez mais recorrentes devido à emergência climática, órgãos como a Defesa Civil precisam de dados sobre o tempo. Quanto antes chegarem, e quanto mais detalhados, melhor para as pessoas se precaverem. Um nanossatélite em produção por alunos e professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) deve ganhar espaço no primeiro semestre de 2024 justamente com a missão de aprimorar esse monitoramento meteorológico.

Modelo de caixa com placas e circuitos
Nanossatélite A1 tem o tamanho de uma caixa de sapato, com dez centímetros de largura, 10 de altura e outros dez de profundidade | Constelação Catarina/Divulgação/Cotidiano

O desenvolvimento começou em 2021, quando a UFSC recebeu a verba necessária por meio do projeto Constelação Catarina, iniciativa da Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão federal, que visa fomentar a indústria espacial em SC. O nanossatélite custa cerca de R$ 1,7 milhão, detalha  Talita Sauter Possamai, coordenadora do projeto e professora do curso de Engenharia Aeroespacial da UFSC.

 

Ainda em um veículo terrestre, o nanossatélite em produção percorre com certa frequência os 180 quilômetros que separam a Capital de Santa Catarina de Joinville, a maior cidade do Estado. Isso porque a construção é realizada conjuntamente entre os dois campi – um esforço que envolve mais de 20 pessoas, entre professores e alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado nos cursos de engenharia.

 

As funções são bem divididas: o desenvolvimento fica com o SpaceLab, da UFSC de Florianópolis, onde alunos das engenharias Mecânica, Computação e Elétrica programam e eletrificam placas, integram sistemas, inserem peças no satélite, entre outras funções. Os de Engenharia Aeroespacial da UFSC em Joinville são responsáveis pelos testes: submetem o equipamento às baixas temperaturas – para garantir que não congelará na atmosfera – fazem testes de vácuo e de vibração, para que o nanossatélite milionário não se desintegre, a título de exemplo.

 

Agora os pesquisadores finalizam um protótipo do nanossatélite para teste. Caso funcione corretamente, será feita uma cópia do nanossatélite, que será a versão final a ser enviada à atmosfera. “Devemos fazer os testes no fim deste ano. O lançamento será feito no primeiro semestre de 2024. Ainda não sabemos onde”, destaca Passamai. Os satélites são lançados em plataformas instaladas em outros países, como Japão e Estados Unidos, no qual se compra os chamados “espaços de carona” em foguetes.

As funções são duas: captar dados e distribuí-los

Do tamanho de uma caixa de sapato, com exatos 10 centímetros
de largura, altura e profundidade – por isso o ‘nano’ no nome – o equipamento
batizado de “A1” tem um porte que não faz jus a sua engenhosidade: ele rodará a
Terra em apenas 90 minutos, colhendo dados de todo o país. Em um único dia
passará pelo menos três vezes pelo mesmo ponto, explica Possamai.

“Eles têm diferenças dos satélites, que são grandes e
geoestacionários [ou seja, ficam parados em relação a uma área, se movimentando
apenas para permanecer ‘em cima’ da respectiva região]”, diferencia a
professora. Os nanossatélites percorrem o entorno do globo mais rápido que o
movimento de rotação da Terra.

Na sua viagem pela órbita da Terra, o A1 captará os sinais encaminhados pelas chamadas PCDs  (Plataformas de Coletas de Dados), que são estações instaladas em diferentes regiões do Estado e que geram informações meteorológicas como temperatura, pressão, direção e velocidade dos ventos, umidade, segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

São os dados gerados por essas estações que auxiliam meteorologistas nas previsões do tempo e na produção dos alertas. Após colher elas, o satélite da UFSC encaminhará para os sistemas do INPE, que por sua vez disponibilizam gratuitamente para quem quiser – a Defesa Civil de Santa Catarina utiliza as informações disponibilizadas pelo Instituto.

“Quando há PCDs em lugares remoto, como em montanhas, é mais difícil alguém ir até as plataformas e coletar os dados. Tem locais onde nem rede de celular transmite, é necessário a pessoa precisa ir até lá. O satélite cumpre esse papel, aproveitando a instalação que está no solo”, detalha Possamai.

Homem mexe em equipamento acoplado a uma torre em campo vazio.
Ciclone bomba deixou rastro de destruição em Santa Catarina | Defesa Civil de SC/Divulgação/Cotidiano

Ciclone bomba impulsionou desenvolvimento

A destruição provocada pelo ciclone bomba que atingiu Santa Catarina em junho de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, impulsionou a produção do nanossatélite. Segundo a Defesa Civil do Estado, o fenômeno ocorre devido a uma queda brusca de pressão, responsável por acelerar os ventos – na ocasião foram registrados ventos de quase 170km/h. Na ocasião, pelo menos 11 pessoas morreram e 230 cidades foram atingidas.

 

A Defesa Civil previra um ciclone quatro dias antes dos fatos, mas a intensidade surpreendeu o órgão, conforme matéria da repórter Andrea Aparecida publicada na época. “Quando o radar conseguiu detectar a intensidade, tivemos pouco tempo para emitir os alertas. Com ventos que ultrapassaram os 100 km/h, o deslocamento foi tão rápido que do começo da tempestade na região Oeste, até chegar ao litoral, levou poucas horas. Se a gente soubesse da severidade antes, teríamos emitido outro nível de alerta”, afirmou o então o coordenador de Monitoramento e Alertas da Defesa Civil do Estado, Frederico Rudorff, ao ND+.

 

O A1 não é o único nanossatélite da Constelação Catarina: neste primeiro momento serão lançados dois equipamentos para o espaço. A proposta é justamente manter as informações atualizadas por meio de uma frota de satélites. A título de exemplo: se o nanossatélite da UFSC envia informações de uma PCD por volta das 12h30, um segundo satélite passará por este mesmo ponto momentos depois atualizando os dados meteorológicos, enquanto o A1 continua sua viagem pela atmosfera.

 

O outro satélite “tripulante” dessa fase inicial do projeto Constelação Catarina é desenvolvido pelo ISI Sistemas Embarcados, do Instituto SENAI de Inovação. Segundo Paulo Alberto Macedo Vieira Violada, pesquisador-chefe da instituição, um dos diferenciais do satélite desenvolvido pelo SENAI é o sistema de comunicação do computador de bordo do aparelho com os demais componentes. O da UFSC utiliza a tecnologia já desenvolvida pelo INPE.

 

Na ocasião do lançamento do projeto Constelação Catarina, a AEB destacou que o intuito de lançar mais satélites é acelerar as previsões meteorológicas para minimizar os efeitos dos fenômenos climáticos. Afinal quanto antes souberem da previsão de ciclone, por exemplo, as pessoas terão mais chance de se abrigar em locais seguros.

Dentre os outros satélites desenvolvidos pela UFSC, está o SERPENS (lançado em 2015), e o Floripa Sat-1, que ganhou o espaço em 2019.

 

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