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O tempo como valor para impulsionar negócios e serviços

Reportagem: Júlia Mallmann (juliamallmann4@gmail.com)

No Banco de Tempo de Florianópolis (BTF) os participantes realizam tarefas e pagam com uma moeda diferente, o tempo. Seja através de projetos, prestação de serviços ou oficinas, troca-se tempo por tempo, independente do serviço trocado todas as horas tem o mesmo valor. Os membros do grupo, após se cadastrarem, podem oferecer seu tempo para realizar serviços em favor de outros membros e assim, também desfrutar dos serviços disponíveis.

A iniciativa do BTF possibilita que as pessoas tenham acesso aos mais variados serviços, desde aulas de inglês até a produção de camisetas ou alimentos, por exemplo. O grupo do BTF no Facebook foi criado em 20 de setembro de 2015, a partir de uma reunião do grupo Zeitgeist Florianópolis. O propósito era constituir uma rede onde um novo tipo de economia pudesse ser praticado, além de gerar iniciativas que tragam mudanças consistentes para a comunidade, explica Geovana Madeira Narcizo, uma das administradoras do grupo.

O grupo do Banco de Tempo funciona assim: a primeira coisa é cadastrar suas habilidades através de um formulário, o participante pode postar no grupo que serviço gostaria de fornecer e por quantas horas. Ao se cadastrar no Banco de Tempo, os dados do participante e o serviço vão para uma lista que fica fixada no grupo do Facebook. Quando um membro solicita um serviço, ele deve combinar tudo com o fornecedor. Depois que o serviço for realizado, as atualizações das horas são preenchidas via formulário de atualização pelos membros e são atualizadas manualmente por administradores do banco. Assim, se o serviço foi oferecido por 1 hora, na contabilização, 1 hora de quem solicitou vai ser passada para quem realizou o serviço. O mesmo vale para aulas em grupo.  Em projetos sociais, o Banco é quem fornece as horas para os voluntários.

Quando um novo membro é adicionado ao grupo e realiza seu cadastro, ganha 4 horas de crédito para desfrutar dos serviços oferecidos. Existem também os créditos do Banco, os serviços dele são divididos por áreas de interesse, como por exemplo, beleza e educação. O Banco pode usar créditos que as pessoas geram para promover projetos sociais e palestras. Geovana diz que os créditos funcionam em lógica circular: “existem as trocas diretas – pessoa – pessoa, as aulas em grupo – que geram excedente para o Banco, o proponente recebe a quantidade de horas que ofereceu, e o restante vai para o caixa de projetos sociais e os projetos sociais retornam esses créditos para a “conta” dos associados, pois o Banco financia horas para trabalho em projetos sociais. Além disso, é claro, existem minúcias relacionadas ao fluxo de caixa e metas”.

Jackeline Nass participa do grupo desde o início de 2017, ela oferece acompanhamento nutricional e preparação de alimentos saudáveis. A nutricionista conta que sua experiência tem sido positiva até o momento. Nass vê muita viabilidade em utilizar o tempo como moeda de troca, mas com ressalvas: “isso depende do quanto as pessoas estão dispostas a desapegar do dinheiro. É interessante deixar de fazer comparações de valor monetário e pensar no tempo necessário para desenvolver alguma tarefa”.

O fisioterapeuta Eduardo Estel, membro desde outubro de 2016, diz que suas experiências no grupo foram boas, tanto quando recebe os serviços quanto fornece: “os usuários são sempre atenciosos, com boas histórias para contar, com uma energia muito especial. Todos se sentem muito gratos e valorizam muito o tempo e o trabalho do outro”. Eduardo afirma que é viável realizar atividades em que o tempo é a moeda de troca quando há o entendimento completo de que o trabalho e o tempo de todos tem o mesmo valor: “seja do médico, da cozinheira, do rapaz que colheu os abacates no seu quintal, dos terapeutas ou dos professores. Enfim, acho que o mais importante é se sentir grato por poder trocar, da forma mais justa possível”.

Narcizo acredita que uma grande rede está sendo formada, interligando pessoas com interesses comuns: “cada troca traz algo muito além do que só o serviço sendo prestado, estamos juntos tecendo algo imenso no intangível, que se faz sentir por todos e vai se materializando através das nossas relações”.

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