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Não tropece na língua

Livro traz lições e curiosidades do português brasileiro

Texto: Ediane Mattos (   edimattos@gmail.com  )
Arte: Mariana Moreira ( rmoreira.mariana@gmail.com ) e Pâmela Carbonari ( pamelacarbonari@gmail.com)

Quem nunca ficou em dúvida enquanto escrevia e precisou pesquisar no dicionário a ortografia de uma palavra? A maioria das pessoas já passou por aquele momento de não lembrar se é “encomodado” ou “incomodado”. E como dizer que não estou bem? “Estou mal” ou “Estou mau”. E quando o assunto é crase, aquelas inúmeras explicações que acabam cansando e você desiste de saber ou acaba mudando a frase.

O problema com a língua portuguesa é mais comum do que se imagina e para ajudar com estas e outras tantas dúvidas, a professora de Português Maria Tereza de Queiroz Piacentini lançou no começo deste mês, em Florianópolis, o seu mais novo livro Não Tropece Na Língua: lições e curiosidades do português brasileiro. A obra é resultado de sete anos de trabalho no site Língua Brasil e da sua experiência como revisora. “Eu fui recolhendo as dificuldades das pessoas através de perguntas enviadas ao site. Quando várias pessoas faziam o mesmo tipo de perguntas é sinal de que é uma questão comum. E também trabalhei com questões gramaticais, fruto da minha observação durante pelo menos os 20 anos na função de revisora.”.

A professora Piacentini avalia que o problema não está na língua, mas na formação de base. “Não é porque a língua portuguesa seja difícil. Não existe língua difícil. Se você nasce num país, você tem a facilidade de aprender. Existem outras até mais difíceis como o chinês,  por exemplo. Porém, o problema é quando o ensino foi ruim principalmente no início e foi assim a vida toda. Quando a pessoa adquiri uns erros na base fica com maus hábitos difíceis de erradicar.”

Há quem defenda que o fato de alguém escrever errado é falta de leitura. Uma pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, revelou que o brasileiro lê, em média, 4 livros por ano. Sendo 2,1 livros até o final. Para Piacentini a falta de leitura não pode ser considerado o principal nem o único fator responsável. “Não é só pegar um livro de português e ficar lendo e achar que isso resolve. Falta estudo, em função do pouco tempo de ensino, só leitura não basta para escrever o português. Português não é uma simples transposição da oralidade.”

 Português x internet

A dificuldade que os brasileiros têm em usar a norma culta da língua ficou mais evidente com a internet, através das redes sociais. O Brasil é o quinto país que mais utiliza a rede. A informação ganha em pouco tempo uma dimensão incalculável e os erros digitados também. “Os erros ficaram mais evidentes, não é que agora as pessoas estão escrevendo pior, ou estão errando mais, ou não estão sabendo escrever. Acontece que todo mundo escreve, seja no facebook ou no twitter, então ficou mais evidente que nós saímos despreparados da escola.”, declarou a professora.

 

“Quando algum contato da minha rede social escreve errado eu dou um jeito de escrever a palavra de forma correta, que é para ver se ela se toca. Tenho uma amiga que faz assim comigo e não vejo problema nisso. Às vezes você acaba se confundindo e cometendo uma gafe”, conta a operadora de caixa Solange Silva. Ela parou de estudar quando engravidou e depois de 11 anos decidiu recuperar o tempo perdido e resolveu fazer supletivo. Foi quando percebeu que tinha grande dificuldade com a língua portuguesa. “Antes de voltar a estudar eu escrevia errado sem saber que estava errado. Hoje, se escrevo algo errado, já me dá um certo estranhamento e vou consultar na internet mesmo. E quando não é possível, acabo mudando a palavra.”

Para a professora Piacentini, o fato de uma pessoa ter uma formação regular, fazer supletivo ou ensino a distância não define quem vai escrever melhor ou da forma mais correta. “Tem pessoas que fizeram supletivo e conseguem avançar e superar muitas das dificuldades. É preciso ter motivação e tempo para se dedicar. O adulto não precisa mais de um tutor, mas precisa ter alguém que ensine, mesmo que seja através de um livro. Às vezes mais experiência até ajuda a aprender mais rapidamente. A aprendizagem é um contínuo.” Ela também revela qual é o segredo para se comunicar bem e da forma correta. “A chave é essa: leitura, estudo, interesse e curiosidade”.

Confira algumas dicas para não ficar em dúvida na hora de escrever

 

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