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Ícone do Dia dos Mortos, caveira mexicana se populariza como tatuagem

Texto: Bruna Andrade (brunandrade92@gmail.com)

Nos últimos tempos, os desenhos alegres das caveiras ganharam popularidade no mundo das tatuagens. Pelo Pinterest e diversas outras redes sociais de fotos, modelos é que não faltam. Mas de onde vem e qual o significado das caveiras mexicanas?

As caveiras têm origem na festa do Dia dos Mortos do México, que é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Diferente do Brasil, por lá a data é momento de festa. Os mexicanos cultuam os que se foram com música, tequila e flores pelas cidades. As caveiras coloridas de açúcar tornam-se enfeite, com os nomes do mortos colocados em seu interior. Os cemitérios viram ponto de encontro, muito bem enfeitados com homenagens e papéis coloridos picados.

A festa com raízes nas culturas indígenas Astecas, Maias, Nahuatls e Totonecas, era vinculada ao calendário agrícola e acontecia na época da colheita, sendo comemorada durante todo o mês de agosto. Os missionários católicos durante a colonização tentaram acabar com os costumes indígenas do culto aos mortos sem sucesso. O que conseguiram foi transferir para a data cristã do dia de “todos os santos” e dos “fiéis defuntos”, nos dias 1 e 2 de novembro. Mas a celebração permaneceu muito semelhante aos costumes originais. Assim, a população deu destaque à festa do dia dos mortos, sendo parte do imaginário e da tradição mexicana, mas também passou a vivê-la de maneira sincrética, misturando as culturas indígenas e o catolicismo popular.

A figura da caveira mexicana, representação icônica da morte, foi desenvolvida por José Guadalupe Posada. Nascido em 1852, o gravurista e cartunista desenhava figuras de esqueletos agindo como gente comum e ajudou a consolidar a festa do Dia dos Mortos. Seu trabalho retrata as vaidades dos poderosos da época ao lado das desigualdades sociais, uma forma de denunciar a alta sociedade e mostrar que depois de mortos todos eram iguais. A produção de Posada é estimada em vinte mil gravuras, marcadas pela imaginação e sentido humorístico da morte.

Não se sabe ao certo quando as caveiras mexicanas começaram a ganhar espaço na pele dos apreciadores da arte, mas trata-se de um movimento recente. O tatuador Yuri Schnabel acredita que a disseminação se deve à informatização, que faz com que as pessoas tenham mais acesso à informação e aos desenhos através na internet. Schnabel explica que a tatuagem começou nos Estados Unidos e foi levada a outros países através dos marinheiros americanos, mas não há registros dessa época sobre as tatuagens de caveiras mexicanas.  “Acredito que tenha se tornado popular apenas de 20 anos para cá”.

O estilo dos desenhos é da Old School Tattoo, tradicionalmente americanos. O tatuador Ugo Tissiani credita a inserção das caveiras mexicanas na arte da tatuagem aos imigrantes mexicanos que vivem nos Estados Unidos. O sucesso da figura sobre a pele se deve ao apelo visual. “A maioria das pessoas não sabe o significado da caveira mexicana, tatuam pela questão estética”, afirma Tissiani.

O modelo mais visto na internet é a tradicional caveira colorida e com flores, como as caveiras de açúcar que ornam os cemitérios e casas durante a tradicional festa do México. Fernanda Costa, 21 anos, possui uma dessas no braço, mas ainda não coloriu. Conta que gostava do tema e escolheu o modelo na internet, com algumas modificações com o tatuador. “Eu sempre achei linda, e depois pelo significado, que no caso é vida, celebração e alegria, totalmente o inverso da caveira normal”.

Há também a La Catrina, personagem de Posada inspirada na deusa Mictecacíhuatl, que presidia as comemorações dos mortos. É a representação humorística de uma dama da alta sociedade, com um desenho mais realista. A figura tem a função de lembrar que somos todos iguais diante da morte. Nos desenhos originais ela aparece de chapéu, objeto que distinguia a alta sociedade do século XX, mas nas tatuagens existem também desenhos com o cabelo solto ou com flores.

 

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