Reportagens

Zé Hamilton Ribeiro abre a 16ª Semana de Jornalismo UFSC

Palestra do jornalista abordou a construção da pauta para grandes reportagens

Reportagem: Júlia Mallmann (juliamallmann4@gmail.com)

zé hamilton
Zé Hamilton Ribeiro durante a palestra. Foto: Divulgação/ 16ª Semana de Jornalismo UFSC.

 

O auditório do Espaço Físico Integrado (EFI/UFSC) estava cheio. Os professores, os alunos e a comunidade esperavam ansiosamente pelas palavras do mestre José Hamilton Ribeiro, o Zé. A espera incômoda se devia ao falecimento prematuro e inesperado do reitor da universidade, Luis Carlos Cancellier de Olivo, na segunda-feira, dia 2 de outubro. O clima de luto logo tomou conta do ambiente. Com pouco mais de meia hora de atraso, o jornalista de 82 anos, que começou sua carreira há mais de vinte anos na Folha de S.Paulo, finalmente chegou para falar sobre a construção da pauta para grandes reportagens.
A chefe de Departamento do curso, a professora Maria José Baldessar, abriu a 16ª Semana de Jornalismo da UFSC com pesar, o clima era de muita tristeza e perplexidade. Na sequência, Vitor Sabbi, um dos alunos organizadores da Semana, pediu um minuto de silêncio. Em um gesto cordial e respeitoso, todos os presentes levantaram-se e permaneceram em silêncio. “Estou triste e consternado por estar aqui num dia como hoje. Muita coisa me entristece nesse Brasil que julga sem ouvir”, iniciou Zé, ao dizer que “é sempre muito bom estar na UFSC”, apesar dos fatos daquele dia em especial.
As cerca de 200 pessoas presentes aplaudiram de pé as primeiras falas de Ribeiro, que logo deu início aos temas abordados no encontro. Após as considerações iniciais, destacou que o maior aprendizado de seu trabalho no programa Globo Rural vem do fato de a TV ser resultado de um trabalho de equipe. Além disso, a grande reportagem, segundo ele, dá a oportunidade para o repórter pensar mais sobre o assunto. “Ali tenho tempo para a elaboração, para fazer uma entrevista e passar para o telespectador o que de fato entendi, como repórter”.
A fórmula para uma grande reportagem (GR), de acordo com definição do próprio palestrante, é GR = BC +BF (T.T’) n. “Quem aplicar [a fórmula] faz uma boa reportagem, se não der certo, pode reclamar comigo ou com algum professor da UFSC”, brincou. Para o experiente repórter, um bom começo (BC), um bom fim (BF), multiplicados por talento (T) e trabalho duro (T’) rendem sempre um bom produto jornalístico.
“Olha, mas mesmo tendo muito material, pode dar tudo errado, por fatores que eu chamo de imponderáveis”, comentou Zé ao falar sobre as dificuldades de depender da natureza para a produção de matérias no Globo Rural. Para ele, os fenômenos naturais como a chuva, por exemplo, e os bloqueios pessoais dos entrevistados, são os principais imponderáveis.
Sentado, Zé contou empolgado algumas de suas experiências, procurando destacar a percepção que o repórter deve ter para tudo o que acontece durante a apuração, porque, no inesperado, pode estar o bom começo ou o bom final. Quanto à TV, fez questão de destacar que ela é “imbatível no flagrante”. E para isso ilustrou suas colocações com lembranças das apurações que fez, como quando quase presenciou a cena de uma sucuri engolindo um pato ou de quando conheceu um mineirinho muito sábio, já na casa dos 80 anos, dono de um pomar maravilhoso e de uma criação de galos capões. Capões, explicou Ribeiro, são os galos castrados logo no primeiro canto e que passam a ajudar a chocar ovos e criar os pintos, liberando as galinhas para continuar procriando.
Sempre com bom humor, Ribeiro respondeu às perguntas da plateia, tirou fotos e concedeu entrevista coletiva. Contou um pouco sobre a sua experiência durante a guerra do Vietnã e sobre a rotina de preparo das reportagens. Depois de tantos prêmios, ele concluiu que ganhou todos eles “porque estou durando demais”. Ainda deu uma dica aos futuros repórteres. “Repórter tem que ter sorte, mas precisa trabalhar e ter talento também”.
Em um vídeo compartilhado no Facebook, pela jornalista Raquel Wandelli, José Hamilton Ribeiro surge condenando os excessos cometidos pela Polícia Federal nas investigações envolvendo a UFSC e pontua sobre o falecimento do reitor Luis Carlos Cancellier de Olivo. Veja o vídeo aqui.

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