Reportagens

Morar sozinho não é fácil

Texto: Júlia Mallmann (juliamallmann4@gmail.com)

Estudar em outra cidade tem sido uma escolha recorrente entre os jovens que estão iniciando a vida acadêmica. Junto ao início do curso de nível superior, caminha a entrada para o mundo adulto, em que os estudantes precisam conciliar a vida acadêmica com as atividades que envolvem morar sozinho e as tais atividades domésticas.

Paulo Thiago Piazza mora sozinho em Florianópolis desde 2014. O estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) veio de Balneário Camboriú – SC. Ele diz que não teve nenhum preparo para morar longe da casa dos pais. Logo que ele iniciou os estudos na UFSC, ainda em outro curso, ele fazia o trajeto de Balneário para Florianópolis todos os dias, com transporte fretado. Um tempo depois, a empresa responsável faliu e o estudante teve que procurar rapidamente um local para morar na capital.

“Já sabia cozinhar desde antes de morar sozinho, tive que aprender a limpar e a lavar roupas. Mas não foi tão complicado”, comenta Paulo ao ressaltar que a maior dificuldade de morar sozinho é ter de criar responsabilidades “na marra”. Para ele um ponto positivo de morar sozinho é a autonomia que pôde criar e que contrasta com a saudade de casa, embora Paulo visite a família quase todos os finais de semana.

Andrey Frasson, estudante da terceira fase do curso de Jornalismo na UFSC veio de Palotina, cidade do interior do Paraná, em 2016. Andrey diz que a parte mais difícil de ter que mudar de cidade é até fazer amizade com as pessoas do novo ambiente. “É difícil também chegar em casa e ter aquele silêncio, sem ninguém pra contar alguma coisa que aconteceu durante o dia, desabafar pessoalmente, contar piadas, dar risadas ou assistir um filme”.

Andrey teve que aprender a realizar tarefas domésticas e a cozinhar. Ele diz que os pontos positivos de morar sozinho são que não tem alguém dizendo o que fazer e quando fazer: “se você tiver preguiça de limpar a casa ou lavar a louça aquela hora, você pode fazer quando quiser”.

Ilana Cardial veio de São José dos Campos também em 2016, ela diz que começou a se preparar psicologicamente para morar longe da casa da mãe ainda no terceiro ano do ensino médio. A estudante diz que a parte mais difícil é conciliar tudo o que precisa fazer: vida acadêmica, estágio e trabalho doméstico. Ilana divide apartamento com duas amigas e explica que ao deixar de realizar uma atividade doméstica, por exemplo, acaba por prejudicar quem mora com ela também.

Enquanto morava com a mãe, Ilana conta que lavava a louça da casa, mas quando veio morar em Florianópolis, precisou aprender a lavar roupas, limpar a casa, etc. Para ela, a parte mais difícil é ficar longe da família e dos amigos: “às vezes eu penso em transferência, fico buscando vagas em universidades que são mais perto da casa da minha mãe, em São Paulo. No meu primeiro ano aqui, eu pensava em parar o curso (de graduação) e fazer cursinho (pré-vestibular). Mas agora já está tudo bem e estou me adaptando”. Para a estudante de São José dos Campos, o ruim não é morar sozinha e sim ter que conviver com a falta que a família faz no dia a dia.

O setor de Psicologia Educacional da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE/UFSC) possui o projeto “Longe de Casa, e agora?”. O projeto iniciou em 2015 e visa acolher os estudantes que vem de fora. As psicólogas educacionais Michaela Accorsi e Lara Dias dizem que uma das maiores dificuldades percebidas nos estudantes que procuram por esse serviço é a questão de ter que se adaptar e conhecer o espaço. “A rede de apoio desses estudantes ficou na cidade natal e eles precisam de tempo para poder conhecer o espaço em que vivem e quais serviços estão disponíveis para eles. Na medida em que essa rede se constitui, as coisas tendem a melhorar”.

As psicólogas dizem ainda que conhecer o ambiente é fundamental, para que seja criada uma familiaridade. Também, é importante levar em consideração que o período de adaptação é diferente para cada pessoa, mas não é algo patológico. Os estudantes interessados em participar do grupo “Longe de Casa, e agora?” devem ficar atentos ao site da PRAE para saber quando abrem as inscrições online para o segundo semestre de 2017.

 

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