Reportagens

Agricultura familiar: o modelo que alimenta o país

Texto: Dener Alano e Ana Carolina Vaz

Fotos: Gabriel Neves

colheitadeira

A produção proveniente da Agricultura Familiar é responsável por 70% dos alimentos que abastecem as casas dos brasileiros, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em Santa Catarina, o modelo de agricultura familiar é predominante. Hoje são cadastrados 180 mil famílias na Secretaria de Agricultura e Pesca. Esse modelo fez o Estado atingir uma receita de R$ 21,4 bilhões em produção agropecuária. Para a professora do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Paola Rebollar, o estado se diferencia dos outros: “Santa Catarina tem uma situação bem diferente dos outros estados porque aqui predomina a produção familiar, a produção em pequena escala dentro de propriedade que não são latifúndios como na maior parte do Brasil. Essa produção pequena tem uma relevância do ponto de vista econômico muito importante pro Brasil”.

A agricultura tem uma parcela na contribuição para geração de renda e empregos no Estado. Em pequenos municípios ela é extremamente importante para o equilíbrio do desenvolvimento em termos regionais. Além disso, influencia muitos jovens a optarem por cursos voltados para a área rural. O Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC é exemplo disso. Para o estudante de agronomia Gleison de Oliveira, as aulas têm contribuído bastante para sua família: “Meus pais têm uma pequena propriedade. Ele é produtor de café. Algumas coisas que eu adquiri aqui no curso consegui adaptar de certa forma na propriedade e ajudar na qualidade da safra”, conta o estudante.

O conhecimento adquirido na Universidade, as vivências no campo e os problemas na produção de alimentos contribuem para o desenvolvimento e pesquisa da agricultura. Outro bom exemplo é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) defendido pelo estudante Renan Tramontin, também aluno de Agronomia do CCA UFSC. Em 2014, ele começou uma pesquisa que envolve a propriedade dos pais na cidade de Turvo, a 260km de Florianópolis. O município possui uma população de 12 mil habitantes e uma área de 244,941 km², um terço da área de Florianópolis, e a agricultura é a principal atividade econômica. A renda da família, hoje, é proveniente da produção e venda de queijos para estabelecimentos locais. “Faz nove anos que os meus pais abriram uma fábrica de laticínios e foi a partir da minha formação em técnico agrícola que senti a necessidade de agregar valor nessa produção de leite que eles tinham. Antes a renda era menor vendendo leite, assim eles processam na própria propriedade e comercializam na cidade”, explica o estudante.

A  produção de queijo na propriedade começou a causar um problema. Para cada quilo do laticínio produzido são gerados nove litros de soro de leite. Em um mês, a produção atingia três mil litros de soro. A quantidade era muito grande para conseguir ser aproveitada pela família e passou a ser descartada. Há dois anos, Renan começou a desenvolver uma pesquisa para poder reutilizar o material descartado. O resultado foi a combinação do material com dejetos animais. O projeto foi apresentado como o Trabalho Final do aluno. “A partir disso eu tive a motivação de fazer meu TCC que seria com a utilização do Soro que era liberado em uma área e estava causando alguns danos ambientais e poluição dos recursos naturais”. A pesquisa foi uma importante contribuição para o curso de Agronomia e para propriedade da família.

Membro da banca avaliadora de Renan, o Doutorando Lucas Benedet estuda há sete anos o uso de dejetos animais no solo. Para ele “foi um trabalho inovador por utilizar como adubo e analisar os atributos químicos. Se ele começar a levar para propriedade muito conhecimento e inovação esse local pode virar um modelo para os outros agricultores”, afirma.

O secretário adjunto da Secretaria de Agricultura e Pesca do Estado de Santa Catarina, Airton Spies, faz projeções sobre o cenário do estado. “’Eu costumo dizer que a última geração de agricultores por acaso vai se aposentar nos próximos 15 anos. São aqueles agricultores já estão ficando idosos e que não tiveram escolhas. O agricultor do futuro é um agricultor por escolha, por opção. É um jovem que decide e enxerga que o meio rural tem alternativas. Essa é a agricultura do futuro”.

Para a professora Paola Rebollar, é de suma importância o retorno do conhecimento que os alunos adquirem no âmbito universitário: “Se o aluno consegue voltar pra casa com alguma coisa que realmente faça com que os pais consigam continuar produzindo isso é muito bom. Pode melhorar muito a condição da agricultura familiar no Brasil como um todo, não só em Santa Catarina”, enfatiza.

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