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Verdadeiro ou falso?

Texto: Marilia Marasciulo (mariliamarasciulo@gmail.com)

Fotos: e-farsas

Suzane Richthofen, que em 2002 ficou conhecida por assassinar os pais, foi nomeada para a presidência da Comissão de Seguridade Social e Família. Matt Groening, criador dos Simpsons, fará um episódio em homenagem aos protestos brasileiros. Facebook passará a ser cobrado e usuários terão que pagar mensalidade de US$ 9,90.

Se não fossem falsas, seriam notícias impressionantes ou curiosas. Talvez seja por isso que tantas pessoas as compartilham nas redes sociais, sem antes checarem as informações: o primeiro caso, de Suzane Richthofen, teve 50 mil compartilhamentos no Facebook, segundo o site e-farsas, especializado em desmascarar mentiras que circulam na web.

O site foi criado por Gilmar Lopes em 2002, quando resolveu confirmar se uma corrente de e-mails era verdadeira. A história é um clássico: se o usuário enviasse a mensagem para o maior número de contatos (atualizado na era do Facebook para compartilhamentos), a empresa X doaria dez centavos a uma criança com câncer/doente. Lopes entrou em contato com a empresa que supostamente iria fazer a doação e desmascarou a corrente. Começou a fazer o mesmo com outras correntes e em abril do mesmo ano resolveu reunir as pesquisas no site e-farsas.

Virais_Suzane

A professora do curso de Comunicação Social do Ielusc, Maria Elisa Máximo, doutora em Antropologia Social pela UFSC, atribui o fenômeno a um automatismo característico da sociedade atual. As pessoas compartilham as informações de forma impulsiva e passional, baseando-se principalmente no que elas se interessam, sem se preocupar com a credibilidade. Existe hoje uma grande multiplicidade de informação, com fontes de diferentes tipos, que permitem que o leitor “pesque” aquilo que lhe convém – no meio da busca, ele pode se deparar com algo que apresenta o formato semelhante a outros sites críveis, mas que seja falso, e acaba publicando boatos.

Para Lopes, embora hoje seja muito mais fácil espalhar virais falsos – basta um clique e toda a sua rede de contatos terá acesso à informação –, ao mesmo tempo as pessoas estão mais espertas. Um ótimo exemplo, explica, é o caso do professor americano que ensinava a seus estudantes a não acreditar em tudo que se lê sobre o passado.  Uma turma de 2008 inventou uma história de um pirata que supostamente seria o último dos Estados Unidos. Após alcançar um grande número de pessoas e enganar muitos veículos de comunicação, a farsa só teria sido descoberta quando os próprios alunos a desmascararam. Em 2012, outra turma criou uma história que, embora tivesse alcançado muita gente, foi desmentida em menos de uma semana.

Ao contrário de Lopes, Maria Elisa acredita que está mais difícil verificar se o fato é verdadeiro ou não, exatamente pela quantidade de informação circulando na rede, e de forma mais intensa. “Você precisa checar com muitas fontes, não bastam outras duas que confirmem. A não ser que você seja um leitor experiente, que já saiba o quê ler e onde buscar a informação.” Somado a isso, existe a influência do contexto social no qual a pessoa está inserida. Se muitos na rede estão compartilhando a informação, o individuo acaba indo “na onda”.

Virais_facegratuito

Outro fator que dificultaria a checagem de informação é a reprodução em série também por parte de veículos considerados confiáveis. Tanto Lopes quanto Maria Elisa explicam que muitas vezes os jornais acabam reproduzindo uns aos outros, numa cadeia em que fica difícil verificar mentiras. No caso do jornalismo online, segundo Maria Elisa, o fato de sites não publicarem “erratas” e simplesmente alterarem a informação sem avisar ao leitor torna ainda mais difícil desmascarar boatos.

Mas as farsas da internet possuem alguns indícios que são facilmente detectados, de acordo com Lopes. Em geral, tratam de um assunto que alcança um grande número de pessoas e usam o nome de uma pessoa famosa, para atrair a atenção do leitor. Depois, citam alguma instituição de renome, na tentativa de dar credibilidade à informação. E, finalmente, pedem para que a informação seja repassada para o maior número de pessoas.

Mesmo assim, para Maria Elisa, na dúvida, o melhor é não compartilhar. “Quantas vezes você já publicou alguma coisa e depois ficou arrependido?” Como checar tudo implicaria em um gasto de tempo muito grande, ela diz acreditar que o ideal é ter mais critério na hora de compartilhar uma informação, e não agir somente por impulso.

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