Caroline e Emanuel apresentam ‘’Astrolábio, acima do horizonte’’ em Balneário Camboriú (Foto: André Aragão)
Reportagens

Coronavírus: como a arte se mantém nestes tempos?

A história do casal de artistas circenses afetados pela pandemia; sem espetáculos, a dupla precisa se reinventar para garantir a renda

Reportagem de Fernanda Biasoli

“A praça está vazia, o espetáculo já não pode mais continuar’’, lamenta Caroline Voltoline, artista circense e produtora da Companhia Circo Pirata Show. A artista teve sua rotina virada de cabeça para baixo desde o início da pandemia de coronavírus. Ela e o marido, Emanuel Delgado, também artista circense, foram pegos de surpresa pelas medidas de isolamento social iniciadas em março passado. Amantes das artes e do público, das performances, risadas e aplausos, o casal está tendo que se reinventar para garantir a renda em tempos sem espetáculos.

Caroline e Emanuel se conheceram em 2013, durante a 15° Convenção Brasileira de Malabarismo e Circo em São Bernardo do Campo, São Paulo. Ela, catarinense de Curitibanos, ele, venezuelano da Isla de Margarita. Se apaixonaram. Ao final do evento, Caroline voltou para Santa Catarina, onde trabalhava na equipe de produção do Encontro de Palhaçaria Ospália e Emanuel foi para Goiás, onde morava e performava em ruas e semáforos. Mantiveram o contato e, dois meses depois, se reencontraram em Balneário Camboriú. Estão juntos desde então.

Pensando em costurar os universos do teatro de rua, do circo e da pirataria, utilizando como linha a comicidade, o casal fundou a Companhia Circo Pirata Show em 2015. Ocupando os espaços públicos e dialogando com a multiplicidade de pessoas e lugares, as apresentações da Cia contam com números de equilibrismo, malabarismo, mágica e acrobacias. O primeiro espetáculo da Companhia se chama ‘’O Desembarco’’ e conta com diversas modalidades circenses.

Apresentação do espetáculo ‘’O Desembarco’’ no Parque do Molhe da Barra Sul, Balneário Camboriú – SC (Foto: Steven Delgado)

As apresentações da Cia aconteciam ao ar livre em ruas, semáforos e praças até que o inverno de 2015 trouxe mudanças. Com muita chuva, as performances estavam tendo dificuldades para acontecer. Caroline e Emanuel resolveram, então, viajar pelo país levando arte e circo por todo ele. Conseguiram. Compraram um microônibus que pagaram em dois anos, somente com o que ganhavam com as apresentações. ‘’Ali que realmente vimos nosso potencial como dupla, casal de circo’’, conta Caroline. Viveram assim por alguns anos. Conheceram cinco estados e as cidades… perderam a conta, comentam.

Quem dirigiu o que a dupla chama de ‘’barco sobre rodas’’ foi Caroline, que também é motorista de ônibus (Foto: Celso Peixoto)

Em 2018, o casal se inscreveu e foi selecionado no edital da Lei Municipal de Incentivo e Fomento à Cultura (LIC) em Balneário Camboriú. Assim, adentraram o universo dos editais que, até então, era desconhecido. Montaram o seu primeiro espetáculo com uma equipe técnica e prática: ‘’Astrolábio, acima do horizonte’’ e, com ele, participaram de grandes festivais de teatro e circo por todo o Brasil. Com pouco mais de um ano, o espetáculo que não possui falas e tem duração de 55 minutos, já foi apresentado 29 vezes e possui média de público de 10 mil pessoas atingidas.

O espetáculo possui como palco um navio desmontável de aproximadamente meia tonelada (Foto: Divulgação)
Caroline como Capitã Valenttina, personagem do espetáculo (Foto: André Aragão)
Emanuel interpretando Torpez (Foto: Divulgação)

Mas os aplausos precisaram ser suspensos. O espetáculo, que não podia parar… parou. A Cia Circo Pirata Show não realiza apresentações desde o início da pandemia. O casal está agora se reinventando e pensando em soluções para garantir a renda que vinha toda dos shows. ‘’A pandemia nos pegou em uma fase complicada, onde gastamos todas as nossas economias para trazer a mãe, o pai e o irmão mais novo do Emanuel. Estavam há oito anos sem se ver’’, conta Caroline.

Este mês, receberam parte do cachê de uma peça que seria apresentada dia 18 de abril no Teatro Municipal de Balneário Camboriú. Conseguiram comprar alimentos para a família e medicamentos para o pai de Emanuel, asmático, mas a situação apertou. Um dos caminhos encontrados foi passar o que eles chamam de ‘’chapéu virtual’’, uma chamada online para contribuição financeira.

Além da família de Emanuel, o casal acolheu dois amigos também artistas circenses. Hoje, moram em sete pessoas na mesma casa. Novas alternativas para atravessar a crise são pensadas a todo momento e compartilhadas. Um dos amigos acolhidos pela família é artista plástico e têm feito quadros sob encomenda, a mãe de Emanuel está fabricando pães e cookies veganos, Caroline e Emanuel estão produzindo pequenas peças em madeira para venda e uma horta familiar. Fizeram também uma coleta de frutas que distribuíram entre os moradores de rua do bairro.

Um dos quadros pintado pelo artista amigo da família (Foto: Caroline Voltoline)

Eles contam que todo dia pensam em novas possibilidades e estão estudando como continuar com o compartilhamento da arte, do circo e do teatro. A articulação de uma live está sendo pensada. Teatro Lambe Lambe (teatro em miniatura), números circenses, preparação corporal e yoga são alguns dos possíveis temas. A Cia Circo Pirata Show pode ser acompanhada pelo Instagram @circopiratashow e também pelo página no Facebook, Circo Pirata Show.

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