ArquivoReportagens

Revitalização da praça da Trindade esbarra na burocracia entre setores da prefeitura

Texto: Larissa Gaspar  (larissa.gasparcp@gmail.com) e Sandy Costa  (sandycossta@gmail.com)

Imagens: Sandy Costa (sandycossta@gmail.com)

Garrafas de cerveja e embalagens vazias dividem espaço com Júlia, a menina loira de quatro anos que brinca no parque da praça Santos Dumont, na Trindade, acompanhada da avó materna. A praça é vítima do descaso do poder público desde 2011, quando o Bar do Pida foi demolido. Na época, Júlia ainda não era nascida, mas desde então pouca coisa mudou.

A avó de Júlia, Nice Mestri, moradora do Córrego Grande, a leva uma vez por semana para brincar no parquinho e reclama do descuido e falta de manutenção. “Falta o plantio de flores, a limpeza, sem falar no estrago dos brinquedos”. Para  Nice, a praça seria frequentada pela comunidade se estivesse mais bem conservada. Logo após a demolição do Bar do Pida, a expectativa dos moradores era de que uma empresa privada se responsabilizasse pela revitalização da Santos Dumont. Na ocasião, três alunos de arquitetura se empenharam na elaboração de um projeto, feito em parceira com os moradores e o Conselho de Segurança do Bairro. Até agora a praça não foi adotada e o projeto está paralisado na Prefeitura.

A responsabilidade pela conservação da praça se divide entre Secretaria de Obras de Florianópolis, a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) e a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap). A direção da secretaria alega ter feito sua parte na última semana ao consertar os brinquedos que estavam quebrados. “As pessoas acham que vamos arrumar uma praça por dia, mas não é assim que funciona. É complicado”, informou a assessora do gabinete, Paula Imperial.

MANUTENÇÃO DA PRAÇA SÓ ACONTECE QUANDO O PEDIDO É FEITO A UM POLÍTICO

A Associação dos Moradores do Bairro da Trindade (AMBaTri) tem como função reivindicar a órgãos públicos a prestação de serviço de qualidade e reais melhorias para o local. Entretanto, a manutenção e limpeza da praça só acontece quando o pedido é feito diretamente a um político ou  ocupante de cargo público. A última, realizada há três semanas, só aconteceu porque um membro da diretoria realizou o pedido diretamente ao presidente da Comcap. Para Ana Cláudia Caldas, presidente da associação, os brinquedos da praça encontram-se em bom estado, porém sem a limpeza do local e segurança, os moradores do bairro Trindade raramente frequentam o local.

O servidor da prefeitura, Marco Antonio Zanfra, informa que a limpeza da praça é feita diariamente pela Comcap. “Todas as manhãs, das 7h ao meio-dia, há uma pessoa cuidando do espaço com varrição, recolhimento dos resíduos e manutenção das lixeiras”. Esse fato é contestado pelo lavador de carros Vilson Portela, que reclama do descuido. “Trabalho aqui todos os dias e nunca deixo sujeira. O lixo é principalmente dos moradores de rua e a Comcap faz limpeza do local bem de vez em quando”. Os moradores de rua que frequentam a praça acabam deixando roupas e utensílios dispersos pelos brinquedos do parque. Zanfra ressalta que para resolver a situação, uma abordagem com suporte da equipe da Secretaria de Assistência Social de Florianópolis é feita quase diariamente.

A Floram é responsável pela manutenção dos jardins: plantio e substituição de mudas, podas de galhos, além da roçagem e capina da praça. A última roçagem, no entanto, foi feita pela Comcap em 21 de março. As manutenções não seguem uma data padrão e acontecem de acordo com um rodízio que a fundação segue. Além da Santos Dumont, outras praças e órgãos públicos de Florianópolis fazem parte do rodízio, o que dificulta manter a beleza do jardim da pracinha da Trindade. “Caso haja alguma urgência como, por exemplo, um galho que está quebrando, nós mandamos alguém para cortar”, explica Jorge Pires, assessor de comunicação da Floram.

A AMBatri conquistou em 2014, através do programa da prefeitura “Orçamento no Bairro”, o orçamento de um milhão de reais para a execução do projeto feito pelos estudantes de arquitetura da UFSC. O projeto está parado na Câmara Municipal de Florianópolis, por conta da Lei Orçamentária Municipal 2015 que ainda não foi aprovada. Em reunião realizada em 3 de março deste ano, entre AMBaTri e Conselho Municipal de Segurança, o prefeito da Capital, Cesar Souza Junior garantiu que a nova praça será feita, mas não falou em datas. Enquanto o impasse continua, Júlia e sua avó permanecem brincando em meio a sujeira da famosa Praça da Trindade.

[widgetkit id=8347]

Confira também a cobertura do Cotidiano do protesto de moradores de Florianópolis que pediam a revitalização das praças da cidade no ano passado, e o projeto “Tarde na Praça” feito em 2013.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.