Quando ser saudável se torna uma obsessão?
Texto e arte: Beatriz Santini (beatrizfsantini@gmail.com)
Ser “saudável” está na moda. O Ministério da Saúde divulgou no último mês que cada vez mais pessoas tem aderido à esse estilo de vida, seja por influência da mídia ou por vontade própria. Claro que manter hábitos saudáveis faz muito bem à saúde e contribuem para a qualidade de vida, o problema começa quando isso se torna uma obsessão.
Ortorexia. Esse é o nome do novo possível distúrbio alimentar que tem como característica principal a obsessão pela alimentação completamente saudável e uma rigorosa restrição alimentar. O termo, com o prefixo ‘orto’, que em grego significa correto, foi cunhado pelo médico americano Steven Bratman em 1997. No entanto, a ortorexia nervosa ainda não está listada nos relatórios da American Psychiatric Association and Statistical Manual (DSM-5), que os psicólogos e psiquiatras usam para diagnosticar transtornos mentais. Atualmente, o DSM-5 lista como transtornos mentais apenas a anorexia nervosa, bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica. Mas mesmo não sendo reconhecido oficialmente como um transtorno alimentar, o conceito, os sintomas e as características da ortorexia já vêm sendo discutidos pelos profissionais de saúde.
As pessoas com o comportamento da ortorexia evitam corantes, conservantes, gorduras trans, açúcar, sal, alimentos com agrotóxicos e pesticidas, ou transgênico. Também podem se preocupar com a forma de preparo dos alimentos e tipo dos utensílios usados. Alimentos crus nunca são aquecidos acima de 44 ºC, de modo que todas as enzimas que vivem lá permanecem intactas. A remoção do glúten, laticínios, e até mesmo da carne da dieta também costuma ser comum, e essa restrição causa desequilíbrio no organismo quando feita de forma irresponsável.
Quem transforma a alimentação em obsessão costuma gastar bastante tempo cumprindo o plano dietético auto-imposto e planejando as suas refeições com dias de antecedência. Às vezes eles levam consigo um “kit de sobrevivência” da sua própria alimentação, por medo de sentirem fome e precisarem comer alimentos com gorduras, substâncias químicas ou outros ingrediente que tenham fobia.
Os ortorexicos passam a deixar de ter um convívio social normal por conta da alimentação. Saídas em turma para comer uma pizza, por exemplo, não existem para eles. Por só comer determinados alimentos que ele julga saudáveis, a pessoa pode apresentar deficiências nutricionais, perda de peso, queda de cabelo, unhas mais fracas, mau funcionamento do intestino e outros problemas.
Um grupo de pesquisadores italianos do Instituto de Alimentação Saudável da Universidade de Estudos de Roma estudaram esse tipo de comportamento, e chegaram a conclusão que pessoas que se preocupam com a sua alimentação por mais de três horas durante o dia e se sentem culpados quando quebram regras da alimentação saudável podem ter o transtorno da Ortorexia. Na pesquisa, os estudiosos também relataram que a população feminina sofre mais desse transtorno do que a masculina.
LINHA TÊNUE ENTRE SAÚDE E TRANSTORNO
Comer é o primeiro prazer que os seres humanos provam em sua vida, e o ortoréxico acaba transformando aquilo que é feito para ser bom em algo que gera extrema preocupação e sofrimento. Parte dessa obsessão vem da pressão da sociedade sob os padrões de beleza, mas a personalidade das pessoas também colabora para o surgimento da ortorexia.
Vários fatores podem influenciar o surgimento do transtorno. Pessoas que já tiveram algum transtorno alimentar no passado, como anorexia ou bulimia nervosa, por exemplo, tem mais tendência a apresentar ortorexia nervosa. Além disso, as que têm características obsessivo-compulsivas ou com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) também são mais vulneráveis.
COMO AJUDAR?
A pessoa que sofre do transtorno geralmente não percebe o problema, mas buscar ajuda médica é essencial. Um psicólogo clínico especialista em transtornos alimentares pode trabalhar os aspectos emocionais que levaram ao desenvolvimento dessa doença para tratá-la, e um nutricionista pode prever uma alimentação correta de acordo com as reais demandas nutricionias do organismo. Dependendo do caso, um psiquiatra também pode ser necessário para um tratamento mais efetivo.
POPULAÇÃO BRASILEIRA ESTÁ MAIS SAUDÁVEL
Segundo o Vigitel 2014, o brasileiro está se exercitando mais, comendo mais frutas e hortaliças e menos carne, sal, doces e gorduras. Nos últimos seis anos:
SERÁ QUE É ORTOREXIA?
O pesquisador Steve Bratman, que foi o primeiro a usar o termo “ortorexia”, elaborou um questionário com 10 perguntas para identificar os possíveis casos do transtorno. Confira: