O branco do luto
Texto e fotos: Mariana Moreira (rmoreira.mariana@gmail.com)
Arte: Marília Quezado (mariliaquezado@gmail.com)
Lylyan Karlinski Gomes, estudante da primeira fase do curso de Oceanografia da UFSC, foi atropelada por um ônibus da empresa Insular por volta das 8h de segunda-feira, dia 1 de julho, e morreu horas depois. Hoje pela manhã, colegas da aluna e ciclistas da cidade protestaram próximo ao local do acidente, na rótula da Trindade, em frente a entrada da Universidade.
Pela oitava vez na Grande Florianópolis, uma bicicleta fantasma (Ghost bike) foi colocada na região do atropelamento para demarcar o local onde mais um ciclista perdeu a vida. A fixação da bicicleta branca é uma forma de manifestação que começou em 2008. Daniel Costa, presidente da ViaCiclo – principal associação cicloativistas de Florianópolis – doou a bicicleta aos estudantes da turma de Lylyan que organizaram e divulgaram a homenagem através do evento no Facebook. “A colocação da bicicleta é uma lembrança para que isso não aconteça mais”, explica.
O acidente desta semana retoma o debate sobre a educação no trânsito, principalmente a relação de disputa de espaço entre motoristas e ciclistas. Daniel entende que isso é o resultado da falta de infraestrutura, da falta de respeito dos motoristas e da pressa em cumprir horários com o conhecimento insuficiente de todos os participante nas vias: pedestres, ciclistas e motoristas. “É um somatório de coisas que deu nisso.”
O Código de Trânsito Brasileiro determina que a bicicleta também é um veículo e tem preferência sobre os veículos automotores. Quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, deverá circular nos bordos das pista de rolamento, no mesmo sentido dos outros veículos. O que acontece hoje, para Daniel, é que “ônibus e carros andam muito rápido, não deixam espaço para a bicicleta e com isso os ciclistas tem que subir na calçada e ultrapassar pela esquerda, por exemplo”.
Ciclovias
Entre as principais discussões dos ciclistas está a carência de ciclovias, principalmente na região próxima à Universidade. Cinco professores da Engenharia Ambiental, uma professora da Arquitetura e dois estudantes estão desenvolvendo o projeto Rede Cicloviária UFSC, com a criação de mais de 10 km de ciclovia no campus da Trindade. Leia mais sobre o projeto aqui.
O projeto da UFSC contempla apenas o espaço interno do campus. No entorno, a responsabilidade é cobrada da Prefeitura Municipal. A assessoria do Instituto de Planejamento Urbano (IPUF) informou que já foi projetada a criação de uma ciclovia que ligue o campus da Universidade Federal ao da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). O projeto está pendente na justiça. Uma nova audiência para acelerar o andamento das obras está programada para outubro deste ano. Veja abaixo o que está previsto no projeto:
No dia 22 de setembro do ano passado, em comemoração ao Dia Mundial sem Carro, a repórter do Cotidiano Pâmela Carbonari fez o trajeto do Terminal de Centro (Ticen) até a UFSC. Leia abaixo o depoimento sobre o trajeto e as dificuldades encontradas ao longo do caminho de pouco mais de uma hora:
“Saí do Terminal do Centro ao meio-dia e meia. O início do trajeto foi o mais complicado, do Ticen à Beira-Mar não há ciclovia e da rodoviária à Beira-Mar não há passagem nem para pedestres. O jeito foi atravessar a Avenida correndo mesmo. Depois que cheguei à ciclovia, apesar do vento estar contrário, o trajeto foi tranquilo. A faixa para bicicletas da Beira-Mar Norte é a maior ciclovia contínua da cidade, é bem sinalizada e conservada, foi por isso que escolhemos esse percurso. Uma das maiores dificuldades que tive foi cruzar a passarela que liga a Beira Mar à Avenida Professor Henrique da Silva, ali demorei uns 8 minutos, porque tenho medo de altura. A passarela é o único jeito de passar a pé de um lado à outro da Avenida. Às 13:05, cheguei ao Shopping Iguatemi e saí da ciclovia para entrar na Rua Professora Maria Flora Pausewang. Embora a Rua do HU seja larga, não tem faixa para ciclistas. Quando passei por ali, o trânsito estava intenso então achei mais prudente andar pela calçada, que está bastante irregular, com muitos buracos e poucas rampas, o que dificulta também a acessibilidade dos cadeirantes. Às 13:15 cheguei à UFSC e logo encontrei espaço no bicicletário do CCE. A linda vista da Beira-Mar e o vento no rosto compensaram o esforço físico.
Dia-a-dia: Moro no bairro Itacorubi, a 4km da UFSC, não tenho carro e para ir à universidade costumo pegar o ônibus a 700 metros da minha casa. Uma única linha sai do Itacorubi e vai até à UFSC, sem parar em nenhum terminal, é a Santa Mônica. Os horários dela são bastante esparsos e leva 15 minutos, quando não há engarrafamento na Avenida Madre Benvenuta. A pé chego à universidade em 40 minutos, mas como todo o percurso é plano e de ruas largas, o ideal seria ir de bicicleta. No entanto, como não há ciclovia e o trânsito na região é intenso, o trajeto se torna perigoso para ser feito sobre duas rodas.”
Olás! É meio que ilusão achar que isso vá parar de acontecer enquanto bicicletas e carros compartilham do mesmo espaço: são no mínimo tamanhos, velocidades e riscos diferentes. Quando eu era criança, na escola, ensinaram a andar contra o fluxo, justamente para ver os veículos, por que na época, assim como hoje, não existe pista exclusiva para todos (e quem foi o esperto que achou que era melhor mudar, sendo realista?). Não dá pra por pura e simples culpa no motorista nem no ciclista. Quando estou atrás de um volante, um ciclista ao lado me apavora, porque ele é muito frágil; quando estou sobre uma bicicleta, os carros me apavoram, porque eu sou muito frágil!
“Cidades com maior número de Bicicletas nas ruas, apresentam uma melhor qualidade de vida, é fato.”
“Andar de Bicicleta não é perigoso, perigoso é como se permite conduzir(?) motorizados em nossas ruas.”