Mulheres tomam controle do próprio parto e descartam intervenções
Texto: Bruna Andrade (brunandrade92@gmail.com) e Natália Duane (nataliaduanedesouza@gmail.com)
Vídeo: Natália Duane e vídeo cedido por Mayra Calvette
“Quem vai fazer o seu parto?”. Essa é uma pergunta comum feita às grávidas no Brasil, mas que soa estranho para Mayra Calvette, parteira formada no curso de enfermagem da UFSC: “A mãe faz o parto, o médico só deveria assistir”. Isso é o que preconiza o parto humanizado, que consiste em um nascimento com a menor intervenção possível.
A mulher torna-se a protagonista do momento, podendo fazer o processo no seu tempo, dar a luz na posição que preferir. O obstetra ou parteira buscam preservar o vínculo da mãe com o bebê, mantendo eles em contato depois do parto. “O resultado é um parto mais bem sucedido e saudável, o bebê nasce com mais bem-estar e a mãe vai poder passar por vários momentos de auto-conhecimento”, explica a parteira Naolí Vinaver, que traz bebês ao mundo há 27 anos.
Rubiane Soares deu a luz à Cecília em julho de 2013, aos 37 anos e optou por um processo com menos intervenções cirúrgicas.Mesmo com diabetes gestacional, descartou a cesariana. O parto domiciliar também foi descartado, devido às doenças que enfrentou durante a gestação. Escolheu a Maternidade da Ilha onde Cecília nasceu na 37ª semana, com 2,4 kg e 47cm. Veja abaixo o vídeo onde Rubiane relata o que a motivou a fazer um parto com poucas intervenções:
Rubiane trocou de médico no quarto mês de gestação, quando a obstetra não se mostrou confortável com a participação da doula– profissional que acompanha a gestante antes, durante e depois do parto – Cristiana Melo. Além disso, se inscreveu no Curso de Gestantes da HU, onde recebeu orientações de como amamentar, como proceder na hora das contrações, massagens que o pai poderia fazer na mãe, além de exercícios de respiração e yoga.
Em alguns países como Inglaterra, Nova Zelândia e Holanda, as mulheres são incentivadas a participar de grupos de gestantes, recebem DVDs e cartilhas motivando o parto mais natural possível. É isso que constatou a parteira contemporânea Mayra Calvetti, durante o projeto Parto pelo Mundo. Durante nove meses, viajou cerca de 20 países juntando relatos de partos e desvendando como funciona o nascimento em cada país.
A intervenção de médicos somente em casos de risco, a escolha da posição em que a mãe deseja fazer o parto e o local onde o filho irá nascer são características comuns da assistência na Nova Zelândia e Holanda. Na Inglaterra, o parto é realizado em “postos de saúde” da comunidade:
Por outro lado, em viagens pela Ásia ela também pode vivenciar a realidade que o Brasil passou: países como Camboja e Tibete começam a levar as grávidas para os hospitais, ou não disponibilizam um modelo humanizado, como na Tailândia. No Nepal, a parteira pode acompanhar três partos em menos de meia hora, onde tão logo o bebê nascia, o cordão umbilical era cortado. “Parece que eu regressei ao passado, vi como o Brasil era; e vislumbrei para onde devemos ir, que é na minha opinião Holanda, NZ e Inglaterra”, confessa a parteira.
PARTO HUMANIZADO NO HOSPITAL E EM CASA
No hospital, a equipe médica deve respeitar a gestante, procurar intervir minimamente no processo. Desde 2005 uma lei institui que a mulher tem direito a um acompanhante na hora do parto. Em 2011, uma portaria nacional institui a Rede Cegonha, em apoio ao parto humanizado no Sistema Único de Saúde(SUS). A rede visa a atenção ao bebê e a gestante no período pré-natal, ao nascimento(garantindo o direito à acompanhante e prover atendimento neonatal) e pós-parto(promovendo o aleitamento materno e visita domiciliar na primeira semana pós-parto).
Em casa, a mulher vai precisar do acompanhamento de uma parteira e poderá ter todo o apoio familiar. No geral, as parteiras e doulas especializadas em parto natural já possuem equipamentos para auxiliar na preparação do parto, como bolas para que as mães façam exercícios ou até mesmo uma piscina inflável. É importante que a profissional esteja acompanhando a gestação, para que haja um vínculo e relação de segurança entre a mãe e quem fará o parto.
Nem todo o parto humanizado é natural. Em casos de risco pode haver intervenção cirúrgica, o importante é que a mãe e a relação dela com o bebê sejam respeitadas. Nos casos de parto domiciliar, é contra-indicado caso a mãe tenha diabetes gestacional com um bebê muito grande, tenha feito cesárea com corte vertical ou mais de três cesarianas, tenha anemia ou o bebê esteja atravessado. Quando a gestante tem acompanhamento desde o início da gravidez, procura-se manter a saúde e contornar todos os possíveis problemas para propiciar o parto natural de modo que possa ser realizado em casa.