Homens saudáveis devem saber dos riscos dos exames de próstata
Texto e arte: Natália Duane (nataliaduanedesouza@gmail.com)
Tabela: Fernanda Struecker (fe.struecker@gmail.com)
Depois do término do Outubro Rosa, tem o Novembro Azul: campanha que visa conscientizar a população sobre o câncer de próstata – segunda maior causa de mortes por câncer em homens no Brasil. A última estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontou 60 mil novos casos da doença em 2012. Mas, diferente da campanha feita para as mulheres – em que é possível encontrar pacientes sem sintoma e tratá-las sem tantos riscos-, o Inca não recomenda os exames para verificar câncer de próstata em pessoas saudáveis.
[swfobj src=”http://cotidiano.sites.ufsc.br/wp-content/uploads/2013/11/cancerprost11.swf” width=”300″ height=”400″ align=”left”] Esse tipo de câncer tem evolução lenta – leva em média 15 a 20 anos para se manifestar. Segundo a médica oncologista Senen Hauff, é mais provável que o homem morra com a doença do que por causa dela. Além disso, uma vez que há suspeitas de câncer através do exame de sangue (ver gráfico ao lado), os riscos já começam na biópsia. São feitas 15 perfurações na glândula através do reto, por onde também é feito o exame de toque. Há chances de morte por infecção – cerca de uma pessoa a cada mil – e sangramentos. Ao passar pelo tratamento, cerca de 20% dos homens adquirem incontinência urinária e 60% ficam impotentes.
O exame de sangue também gera resultados falso-positivos. Dados indicam que 20% dos homens que realmente tem câncer apresentam níveis de PSA (um tipo de proteína) normais. Isso acontece porque outras células e enfermidades produzem a mesma substância, o que aumenta com a idade. Mais da metade dos homens com aumento de PSA não tem câncer de próstata. O Inca estima que 72% dos pacientes com dosagem alterada são submetidos a biópsias desnecessárias, já que esse procedimento é o único jeito de comprovar a existência do câncer.
As recomendações do Inca são baseadas em estudos internacionais que demonstram que a busca por câncer de próstata em pacientes sem sintomas não diminui o número de mortes. Antes, homens a partir dos 40 anos deveriam fazer os exames anualmente segundo algumas sociedades médicas. Agora, a Associação Urológica Americana (AUA) aconselha delimitar a faixa etária entre 55 e 70 anos, com retornos ao médico, no mínimo, a cada dois anos – embora essas recomendações não sejam referendadas por nenhum sistema de saúde público.
Confira abaixo estudo publicado na British Medical Journal, em 2011:
GASTOS
Richard Ablin, pesquisador de patologia e imunologia da Universidade de Medicina do Arizona, responsável pela descoberta do PSA em 1970, escreveu em artigo para o NYtimes que em alguns casos o exame de PSA é importante. Após tratamento, um aumento da substância pode indicar o retorno do tumor em outro órgão. Homens com histórico de câncer na família devem fazer esse exame regularmente – um aumento elevado pode significar câncer. No entanto, o meio médico se apropriou dos exames que levaram a um gasto público desastroso causado pelo aumento de consultas, exames e tratamentos a medida que a população envelhece. Com o crescimento da expectativa de vida mundial, é esperado que o número de casos novos aumente cerca de 60% até o ano de 2015.
NOVEMBRO AZUL
O novembro azul é um movimento internacional que tem como principal objetivo chamar a atenção dos homens sobre a saúde e informá-los sobre algumas doenças, entre elas, o câncer de próstata. Originalmente conhecido como Movember – junção de bigode (moustache) e novembro -, a iniciativa começou na Austrália em 2003 e hoje já envolve campanhas em diversos países, inclusive no Brasil. Só no último ano, as doações somaram cerca de US$130 milhões. Os recursos arrecadados são utilizados para financiar mais pesquisas sobre a doença, sexto tipo mais comum de câncer no mundo.
Conheça um pouco da trajetória do movimento:
Contrário à campanha americana, o “Novembro Azul” visa orientar a população masculina sobre a importância do exame de toque retal e PSA para diagnóstico precoce do câncer de próstata. Na avaliação do professor Moritz, uma campanha que só traz risco para a população ao invés de benefícios. Segundo ele, o médico deve informar sobre a doença e os riscos dos procedimentos.