Reportagens

Grupo de mulheres realiza “fogueira de libertação”

Texto: Marina Gonçalves (marinajulianag@gmail.com)
Fotos: Instagram/divulgação

Noite de lua cheia. A praia da Daniela, no norte da Ilha de Florianópolis, está com a maré baixa, mas a areia ainda mostra marcas do mar que se agita com a influência lunar. Uma fogueira crepita, mas quase não se ouve. O som é abafado pelas conversas de 15 mulheres que se esquentam com fogo e vinho.

Esse foi o cenário da “Fogueira da Libertação” que aconteceu no final do mês de maio, durante um sábado a tarde e a noite. A atividade foi ideia de quatro mulheres: Carol Mariga, Lara Koer, Maria Fernanda Bin e Viviane Mayumi. Todas são do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina. O ritual envolta da fogueira será a abertura da websérie SUPER, criada por elas.

O objetivo do evento, contudo, era muito maior. A ideia foi fazer com que cada uma das participantes pensasse em um objeto que representasse a opressão que elas sofreram enquanto mulheres. Em roda, cada uma contou o porquê da escolha. Uma balança, fita métrica, revistas femininas, chapinha, lâmina de depilação, brincos, boneca, panelinhas de brinquedo. Cada um desses itens carregava uma história.02

“Como a nossa intenção com o projeto como um todo sempre foi envolver o maior número de mulheres em todas as etapas de desenvolvimento, quando começamos a pensar a abertura, pensamos que além dela ser desenvolvida criativamente e tecnicamente por outras mulher artistas, seria interessante ela ser feita da mesma forma que o restante do projeto foi, de forma colaborativa. Mulheres colaborando e trabalhando juntas foi e é nosso foco constante nesse projeto”, explicam as criadoras.

A aluna de jornalismo Manuela Tecchio escolheu as revistas ditas femininas. Ela contou que esse material sempre representou um tipo de mulher que ela não se encaixava e que priorizava rituais de beleza que não faziam sentido pra ela, como dietas duvidosas e regras do que ela poderia ou não vestir.

Outra participante, que preferiu não se identificar, aproveitou o espaço acolhedor para criticar as imposições sobre o que uma mulher deve ou não vestir. Itens como vestidos e maquiagem – culturalmente ligados a feminilidade – nunca a representaram como mulher, explicou.

Os objetos foram informados previamente para a equipe de gravação, que os providenciaram para o evento. Depois dos depoimentos, uma por uma jogou seu objeto na fogueira, simbolizando a libertação não só do item, mas da opressão que ele representa. “A gente acredita que parte do processo de empoderar-se é também libertar-se das opressões que impendem que nós enxerguemos os nossos direitos, que impedem nossas escolhas, que impedem que utilizemos o nossos poderes de forma inteira. Libertarmos desses simbolos de opressão também é empoderar-se do que é nosso e deixar para trás o que é do patriarcado, do opressor, da estrutura”, reforçam as criadoras.

A wesbérie SUPER fala de empoderamento de jovens mulheres e narra como é descobrir a existência de poderes que sempre se teve, mas não se conhecia e ou sabia como lidar com eles. Através de quatro personagens poderosas, a série falará sobre essa descoberta de força e também sobre a união de mulheres.

Mas não é só na frente das telas que a presença feminina foi garantida. Por trás das câmeras, as quatro criadoras fizeram questão de que a equipe fosse majoritariamente feminina. Além de dar espaço para mulheres exercerem funções dentro do set de gravação que muitas vezes é negado a elas, também tenta mudar o cenário ainda dominado por homens. “O mercado audiovisual é extremamente machista. Quando se ver os créditos subirem no fim dos filmes já dá para perceber. Eles recebem mais reconhecimento, maiores salários, mais oportunidades para mesmas funções e trabalhos de mulheres. Justamente por isso que queríamos incluir mulheres e trabalhar junto com elas. E mostrar que mulheres podem sim desenvolver projetos audiovisuais em qualquer função. Se não for a gente que teve oportunidade de estar na universidade e entrar em contato com o feminismo para levar essa discussão para dentro do nosso meio profissional, ninguém mais vai fazer”.

As imagens gravadas para a abertura ainda não foram liberadas, mas confira abaixo alguns registros feitos pelas participantes:030401

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