Festas Juninas – Resgate de tradições
Texto: Marília Quezado (mariliaquezado@gmail.com)
Fotos: Cadu Fagundes
Vídeo: Associação do Bairro do Sambaqui
Paçoca, canjica e pé-de-moleque. Para muitos brasileiros estes são os únicos ingredientes necessários para se fazer uma Festa Junina, um dos eventos nacionais mais tradicionais. No entanto, pouco a pouco os outros elementos que completam esta comemoração estão desaparecendo. A quadrilha, por exemplo, que veio da Europa no século XIX e popularizou-se principalmente no interior, acoplando-se a outros ritmos e estilos de dança, tornou-se um elemento opcional nas festas modernas.
Poucos sabem, mas a Festa Junina tem sua origem nas comemorações pagãs de mudança de estação, antes do cristianismo ser predominante.. No hemisfério norte, a festa do Midsummer, dia em que o sol permanece no céu durante o maior tempo, era marcada por uma grande fogueira, banquetes e muita dança. Na Idade Média, a festa passou a homenagear São João, Santo Antônio, muito presente no Brasil, e São Pedro.
A tradição da Festa Junina foi trazida pelos portugueses, alterada, geograficamente, para a festa da chegada do inverno. Foi aqui que a quadrilha tornou-se parte da comemoração, graças à tradição de admiração de coisas francesas, desde moda até música e dança. A comida, por outro lado, se popularizou por serem os principais produtos oferecidos na época. Maio e junho são os meses da colheita do milho no Centro-Oeste e Sudoeste, enquanto no Sul o pinhão é o produto principal.
A volta da religião
Em Florianópolis, os sacerdotes da Igreja de Santo Antônio estão retomando, aos poucos, à antiga tradição religiosa. A Trezena de Santo Antônio é uma das mais tradicionais comemorações da cidade desde a instalação da paróquia, há mais de cem anos. “Com o passar dos anos, as dificuldades começaram a ocorrer menos regularmente”, explicou Frei Vanderlei, um dos responsáveis pela organização da festa. “Em alguns anos, a trezena foi encurtada para novenas e tríades, e em outros nem foram realizadas”.
Desde que assumiu a paróquia, há dois anos, o sacerdote procura reintroduzir alguns dos elementos mais tradicionais da festa religiosa. Durante os treze primeiros dias de junho, são celebradas missas duas vezes ao dia. Durante a noite, a quermesse toma conta da frente da igreja, com barraquinhas de quentão e comidas típicas. “Neste ano também quis retomar a tradição do Bolo de Santo Antônio, um bolo simples cozido com mini estátuas de Santo Antônio e um par de alianças dentro”, relembra.
O público superou as expectativas, com missas cheias todos os dias e atingindo mais de 2 mil pessoas na celebração do dia de Santo Antônio. “Para o próximo ano, vamos tentar inserir mais uma missa pela manhã e atividades para as crianças, como banquinhas de jogos e quadrilha”.
O nordeste na Ilha
O grupo Arrasta Ilha organiza, há cinco anos, a Festa Junina Arrasta Ilha. Com foco nos ritmos brasileiros, bandas parceiras tocam samba, forró e côco de terreiro nos eventos, além do show de maracatu, realizado pelos integrantes do grupo. Apesar dos ritmos típicos daquela região, a culinária é a tradicional para o inverno catarinense, com muito quentão e pinhão, além do caldinho de feijão, necessário para aguentar o frio da noite.
“Esse ano, nossa festa tomou mais força pela descaracterização de festas juninas”, acredita uma das organizadoras da festa, Alexandra Alencar. “Trouxemos um mestre de Maracatu para tocar em nossa festa. Tentamos sempre ter atrações que chamem público”, completa. Neste ano, os grupos Pife na Manga e Terreiro de Sinhá animaram a noite.
Tradição açoriana
O Boi de Mamão é uma das principais atrações do Arraiá Açoriano, realizado há cinco anos pela Associação do Bairro do Sambaqui (ABS). A encenação é feita por mais de 30 pessoas, entre elas crianças da comunidade, algumas fantasiadas de animais, enquanto outras fazem parte do Cantoria do Boi. Outro elemento essencial da festa é o Pau de Fita, feito pelas senhoras da ABS, muitas delas rendeiras.
“Nossas festas são realizadas aqui no bairro. Montamos barraquinhas de pinhão, quentão e pipoca, cachorro quente e brincadeiras para as crianças”, diz Débora Kraijnbrink, vice-presidente da Associação e uma das organizadoras da festa pelo segundo ano.