Consulta pública na UFSC: conheça as propostas dos concorrentes
Reportagem: Anna Beatriz La Marca (bia_lamarca@hotmail.com); Júlia Mallmann (juliamallmann4@gmail.com) e Pedro Bermond Valls (pedrobermondv@gmail.com)
Fotografia: Pedro Bermond Valls (pedrobermondv@gmail.com)
Com três candidatos homologados, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realiza a consulta pública para escolha do novo reitor no dia 28 de Março – o segundo turno, se necessário, está marcado para o dia 11 de Abril. Os professores concorrentes são Edson Roberto de Pieri, número 57, atual diretor do Centro Tecnológico (CTC); Irineu Manoel de Souza, número 80, diretor no Centro Sócio-Econômico (CSE); e Ubaldo Cesar Balthazar, número 52, diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) e reitor pro-tempore da universidade – tendo assumido o cargo após o afastamento para tratamento médico da vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, consequ~encia da morte do ex-reitor Luis Carlos Cancelier de Olivo.
Cabe ressaltar que a consulta tem caráter “informal” e apenas “elege” o reitor – o mandato é válido por quatro anos, ou seja, até 2022. De acordo com o regimento interno da universidade, em casos de vacância do cargo de reitor, como o ocorrido após a morte de Cau Cancellier, uma lista tríplice deve ser apresentada ao Ministério da Educação (MEC), responsável pela escolha e homologação do cargo. Assim, os eleitores (docentes, técnicos-administrativos, estudantes do Colégio de Aplicação, estudantes da graduação e estudantes da pós-graduação) votam, porém, a escolha ainda depende da chancela do Ministro da Educação José Mendonça Bezerra Filho.
Nessa consulta pública, apenas o cargo de reitor está em disputa. A professora Alacoque Lorenzini Erdmann tem mandato como vice-reitora é 2020.
O Cotidiano UFSC entrevistou os candidatos, confira suas propostas a seguir.
Edson Roberto de Pieri, 57 anos, “UFSC de Verdade”. É pesquisador da UFSC desde 1992, a partir de 2001 atuou como bolsista de produtividade do CNPQ. Assumiu a vice direção do Centro Tecnológico (CTC) em 2012, em 2016 se tornou Diretor do Centro. Em 2015 foi candidato à reitoria pela chapa UFSC+, avançando ao segundo turno.
Cotidiano: Visão da universidade: qual imagem da UFSC vislumbra enquanto candidato à reitoria?
Edson Roberto de Pieri: Atualmente, acredito que a sociedade nos olhe com um misto de preocupação, tristeza e também de confiança. A preocupação existe, pois penso que ela queira saber o que houve com a UFSC para que fossem necessárias investigações por parte dos órgãos externos de controle. A sociedade está muito triste com a morte de nosso reitor e pelo abalo na imagem de uma instituição que lhes pertence e que sempre deu exemplos positivos e boa educação aos seus filhos. Mas estou certo de que tudo isso não desfaz a confiança que ainda merecemos por parte da sociedade, considerando a nossa rica história de serviços de qualidade prestados ao povo catarinense e ao país. Vislumbro, portanto, a recuperação da plena confiança na nossa instituição em seu papel de produzir conhecimento e formar com qualidade as pessoas. Mas é necessário que haja mudanças de rumo e de dirigentes, nós estamos oferecendo uma proposta de resgate de ideia básica sobre o papel de uma universidade: sua função acadêmica.
Cotidiano: Como prevê o trabalho junto à vice-reitora Alacoque?
Edson Roberto de Pieri: Tenho plena convicção no espírito público da Professora Alacoque, a qual saberá exercer seu papel institucional como vice-reitora, no tempo de mandato que lhe resta. E isso inclui compreender e ajudar a implementar agora um novo Programa de Gestão, caso eu seja eleito. Lamentavelmente, os episódios envolvendo a Operação Ouvidos Moucos gerou um confronto entre a vice-reitora e a equipe da atual gestão, ampliando a crise institucional. Caso a postura dessa equipe não tivesse sido de confronto, talvez não tivéssemos que realizar eleições antecipadas. Portanto, a UFSC não merece estar passando por tudo isso e devemos satisfações à sociedade por tudo o que ocorreu.
Cotidiano: Qual o maior desafio da Universidade nesse momento?
Edson Roberto de Pieri: São vários. O primeiro é recuperar nossa imagem de instituição que tem práticas administrativas e políticas corretas. É preciso ainda recuperar nossa autoestima, que foi afetada pela exposição negativa da UFSC na mídia. Não obstante esses aspectos de natureza moral, a UFSC tem grandes problemas de financiamento para sua manutenção e suporte à sua expansão recente, com novos campi e aumento de vagas. Isso nos preocupa muito e vamos precisar de todas as forças políticas e sociais de nosso estado para que o governo federal dê suporte às nossas necessidades, por isso é importante que a sociedade tenha confiança em nós.
Cotidiano: Como lidar com as consequências/ os resultados da Operação Ouvidos Moucos? Como isso afeta a universidade e principalmente o ensino à distância e as Fundações de Apoio?
Edson Roberto de Pieri: Infelizmente não temos os resultados e já passou da hora de conhecermos as conclusões dos inquéritos da Polícia Federal. Não podemos ficar ad eternum sob suspeição, ainda mais porque não envolveu a todos. Sou muito crítico aos exageros que aconteceram na Operação, mas se algo foi feito de errado, que se comprove e os que cometeram erros sejam punidos dentro da lei e com direito à ampla defesa. Nós somos uma instituição pública, temos o dever da transparência e de agir dentro da legalidade com os gastos públicos, e sempre que houverem denúncias temos que apurar e ajudar os órgãos de controle.
Sobre o Ensino a distância, eu não vejo grandes problemas, pois não é a modalidade EaD que está sob suspeita, mas eventualmente práticas incorretas de gestão em alguns cursos. Nosso orçamento é basicamente de transferências diretas da União, portanto, com rigidez e certa constância na movimentação em suas rubricas. Já em programas e cursos não permanentes ou de extensão, em certa medida, os procedimentos são menos rígidos na gestão dos recursos financeiros. Nesses casos os agentes públicos têm mais dificuldades em administrar tais recursos, podendo alguns poucos desviarem-se em condutas moralmente recrimináveis ou em práticas administrativas errôneas sem haver dolo. Portanto, como consta de nosso Programa, agiremos para dar maior rigor à aplicação dos recursos financeiros e transparência nas contas. Também iremos fortalecer o uso pedagógico das ferramentas tecnológicas de informação e comunicação digital na formação à distância e na presencial.
Quanto às Fundações de Apoio (FAPs), em primeiro lugar é necessário atuar respeitando a legislação que regula o seu funcionamento, que já exige transparência, acompanhamento e fiscalização permanente por parte da Reitoria. No atual ordenamento jurídico das autarquias federais não se pode prescindir das Fundações de Apoios. Portanto, a questão é atuar e fazer cumprir o marco legal nas relações UFSC-FAPs, aprimorando o atual sistema de acompanhamento para que haja uma execução transparente das atividades de pesquisa e de extensão financiadas, como já expressamos em nosso Programa.
Irineu Manoel de Souza, 62 anos, “UFSC Necessária”. Atualmente é o Diretor do Centro Sócio Econômico da UFSC. É professor do curso de administração desde 2010 e lidera do grupo de pesquisa Gestão Social e Administração Pública.
Cotidiano: Visão da universidade: qual imagem da UFSC vislumbra enquanto candidato à reitoria?
Irineu Manoel de Souza: A imagem de uma instituição pública que atue na área de ensino, pesquisa e extensão, e que esteja constantemente preparada para dar respostas aos graves problemas pelos quais passa a sociedade. Em mais de 40 anos de atuação profissional nessa Universidade, sempre procurei dar minha contribuição para que a instituição atingisse esse objetivo. Agora quero contribuir enquanto Reitor.
Cotidiano: Como prevê o trabalho junto à vice-reitora Alacoque?
Irineu Manoel de Souza: A professora Alacoque é uma docente e pesquisadora de ponta, reconhecida internacionalmente e que possui inúmeros trabalhos publicados. Conheço a professora há muitos anos e sempre tivemos uma relação harmoniosa. Então será muito gratificante trabalhar ao seu lado.
Cotidiano: Qual é o maior desafio da universidade nesse momento?
Irineu Manoel de Souza: O fortalecimento de sua autonomia e do seu caráter público. Nos últimos anos a UFSC, assim como as demais universidades públicas brasileiras, sofreu uma série de ataques que objetivaram enfraquecer esses pilares. Por isso precisamos reavivá-los.
Cotidiano: Como lidar com as consequências/ os resultados da operação Ouvidos Moucos? Como isso afeta a universidade e principalmente o ensino à distância e as fundações de apoio?
Irineu Manoel de Souza: Defendemos a ampla apuração de todas as supostas irregularidades e a punição de quem for comprovadamente culpado. Isso vale para o objeto da investigação e também para a forma como as investigações e a operação foram conduzidas.
A fatalidade que tivemos (suicídio do professor Cancellier), a prisão e o afastamento de servidores públicos trouxe grande comoção à Universidade. O Ensino à distância, por sua vez, encontra-se em uma crise sem previsão de solução.
Faremos todas as tratativas necessárias junto ao MEC e aos órgãos de controle para que os recursos e a credibilidade do EAD sejam restabelecidos. Outra questão é que essa modalidade não pode ficar eternamente atrelada a editais que só preveem (e sequer garantem) a existência de uma determinada edição do curso. Propomos a institucionalização dessa importante modalidade de ensino e isso passa necessariamente por torna-la perene, com estabilidade orçamentária e de funcionamento.
Defenderemos que os recursos enviados pelo governo federal para o EAD devam integrar ao orçamento da UFSC e a alocação dos mesmos devam seguir os procedimentos adotados pela SEPLAN e Pró-Reitora de Administração.
Cotidiano: Houve alguma mudança em relação às suas propostas de 2015 para este ano? Se sim, quais são e o porquê delas?
Irineu Manoel de Souza: De um modo geral, nosso programa foi readequado ao momento atualmente vivenciado pela Universidade e há também propostas que não tínhamos em nossa plataforma nas outras ocasiões em que concorremos. Na permanência estudantil, por exemplo, estamos propondo que o Restaurante Universitário sirva, em todos os campi, três refeições diárias com opção vegetariana/vegana. Com relação ao corpo técnico-administrativo, além das 30 horas para todos (com exceção dos ocupantes de cargos de direção), também encampamos a proposta do controle social de assiduidade, que é muito mais eficaz se comparado ao famigerado controle biométrico. Para a categoria docente, defendemos a instituição de programas de capacitação continuada e atualização tecnológica, ampliando a participação dos professores na elaboração dos referidos programas.
Mas é importante dizer que uma característica se manteve em todas as vezes que concorremos: as propostas sempre foram construídas em reuniões abertas ao público e amplamente divulgadas. Entendemos que a política e a gestão devem ser feitas de forma transparente e participativa: foi assim que sempre fizemos na construção do nosso programa e será assim que faremos na Reitoria.
Ubaldo Cesar Balthazar, 65 anos, “A UFSC Pode Mais”. Atua nos Cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado em Direito da UFSC. Professor titular desde 1978, tem vários livros e artigos publicados em sua área. Professor convidado de várias universidades brasileiras, como ministrante de disciplinas em cursos de Pós-Graduação lato sensu. É o reitor pro-tempore da UFSC até a posse do eleito.
Cotidiano: Qual imagem da UFSC o senhor vislumbra enquanto candidato à reitoria?
Ubaldo Cesar Balthazar: Uma universidade sem medo, saudável e harmônica. Em que as pessoas tenham orgulho de pertencer à quarta melhor universidade brasileira e possam desenvolver suas atividades com segurança e tranquilidade. Uma instituição onde a pesquisa, a extensão e o ensino caminhem no sentido da eficiência e da competência, respeitando a diversidade e privilegiando o diálogo e a transparência.
Cotidiano: Como prevê o trabalho junto à vice-reitora Alacoque?
Ubaldo Cesar Balthazar: De forma absolutamente tranquila e equilibrada. Ambos temos mais de 40 anos de UFSC e conhecemos como poucos esta instituição. E a professora Alacoque é a vice reitora legítima até maio de 2020. Aliás, defendo que, ao término de seu mandato, possa seguir até 2022 como vice, pro tempore, se assim o Conselho Universitário entender. Ela já me disse que teria muita satisfação em trabalhar conosco. Eu e a equipe dela e do Cancelier estamos torcendo muito para que ela retorne o quanto antes.
Cotidiano: Qual é o maior desafio da universidade nesse momento?
Ubaldo Cesar Balthazar: Seguir qualificando ainda mais sua imagem e dando mostras de que, como o próprio Cancelier disse, é superior a toda a crise que lhe quiseram imputar. Recuperamos a autoestima e devolvemos o orgulho de ser UFSC. Racionalizamos processos, economizamos recursos, captamos outras fontes, restabelecemos a normalidade dentro do possível. Jamais esqueceremos a tragédia que abalou a todos. Mas, vamos seguir consolidando a UFSC nos próximos quatro anos.
Cotidiano: Como lidar com as consequências/ os resultados da operação Ouvidos Moucos? Como isso afeta a universidade e principalmente o ensino à distância e as fundações de apoio?
Ubaldo Cesar Balthazar: A rigor a operação não teve qualquer resultado, do ponto de vista formal. Não há relatório, não há sequer indiciamentos e o prazo foi prorrogado. O único resultado foi a demonstração de truculência e abusos de que os presos e conduzidos foram vítimas. E isso terá que ser minimamente reparado. Nossa imagem pode ser reconstruída pelo nosso trabalho e pela crença de que os problemas da UFSC podem ser resolvidos pela própria UFSC. Há quase 60 anos fazemos isso, e vamos continuar fazendo, com seriedade e respeito às pessoas e sem intimidações e ameaças.
Cotidiano: O candidato diz que daria continuidade ao trabalho começado pelo Reitor Cancellier. Por quais meios isso se daria ?
Ubaldo Cesar Balthazar: Por meio das mesmas premissas que levaram Cancellier e Alacoque a conquistar a aprovação na eleição que os levou à reitoria: competência, excelência acadêmica, gestão responsável, respeito à diversidade e interação com todos os setores da sociedade. Fizemos isso em 18 meses. E em quatro anos vamos fazer muito mais.