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Com quase 100 mil seguidores, grupo de pais e mães busca combater o consumismo infantil

Texto: Gabriel Lima (gabrielduwe@gmail.com)

O Movimento Infância Livre de Consumismo, também conhecido como Milc, surgiu em março de 2012 devido a indignação dos participantes do Grupo de Discussão Consumismo e Publicidade Infantil. Nessa época, alguns membros do grupo resolveram participar do debate sobre a campanha Somos Todos Responsáveis, lançada pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap). Contudo, o grupo considerou que a campanha tinha como objetivo eximir a responsabilidade das agências de publicidade e transferir a responsabilidade do consumismo infantil integralmente para os pais e mães, levando-os a criar o movimento.

Após três anos, o Milc já alcança quase 100 mil curtidas em sua página do facebook e conta com vários apoiadores. O foco é a atuação na web, com a postagem de conteúdos diários sobre o tema, criando engajamento e debate entre os seguidores. A campanha dos últimos dias era contra os ovos de páscoa com brindes e, segundo o movimento, o resultado foi perceptível. “Recebemos inúmeros depoimentos de pessoas que nesta Páscoa trocaram os ovos licenciados por ovos caseiros ou outras alternativas. Nosso grande diferencial é que não ficamos apenas denunciando problemas, nós apontamos soluções”, comenta Débora Diniz, cofundadora do Milc.

O movimento defende a criação de canais de diálogo entre pais, governo e agências reguladoras de publicidade, buscando fomentar o debate e expor ações da mídia que podem interferir no desenvolvimento da criança. Débora também explica que o grupo espera conscientizar e não acabar com a propaganda infantil. “Não estamos propondo o fim dos produtos infantis nem o fim da publicidade, mas sim encontrar meios de fazê-lo de maneira consciente, sem afetar as crianças”.

Apesar de ter como público-alvo tanto mães quanto pais, o movimento tem dificuldade em encontrar homens engajados com a infância. Tanto que das 11 pessoas que coordenam o Milc, todas são mulheres. A explicação para isso, segundo Débora, vai muito além de defender ou não os ideais do Milc. “Nossa sociedade acaba colocando os filhos como responsabilidade das mães, o peso da educação é nosso. Tanto que é comum ouvirmos, em cada problema relativo à criança: “onde está a mãe desta criança”. Nós temos colaboradores homens, alguns são pais, outros não, mas não são os mais ativistas.”

Segundo Débora, o Milc tem colaboradores espalhados em vários lugares do Brasil. Contudo, o movimento por enquanto se restringe à internet, divulgação na mídia e participação em eventos sobre publicidade infantil. “Antes de nós, em todos os eventos havia a voz dos publicitários, dos empresários, dos especialistas, mas não havia a fala dos principais interessados: os pais. Agora tem!”. Aos que se interessarem pelo movimento, a sugestão dela é curtir a fanpage no facebook, acompanhar os debates, compartilhar as postagens e espalhar a ideia.

 

A Legislação

A publicidade infantil voltou a ser tema de debate público após a aprovação da resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) em quatro de abril do ano passado. Contudo, depois de um ano, o projeto baseado na resolução segue em tramitação na Câmara dos Deputados, sem tornar-se de fato uma lei. De acordo com a resolução, é considerado abusivo o direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança, com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço que se utiliza de elementos como linguagem infantil, efeitos especiais, personagens ou celebridades com apelo ao público infantil, promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis, dentre outros.

O Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu artigo 37, a proibição da publicidade abusiva que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança até 12 anos. Para especialistas, a nova resolução reforça o que já estava previsto e faz com que as propagandas sejam dirigidas aos pais, e não mais às crianças. Débora reconhece a importância da resolução, principalmente para formalizar as denúncias, mas lamenta que o projeto esteja a 13 anos tramitando sem sair do papel. “É uma luta de Davi contra Golias. Há muito lobby envolvido. Acredito que só sairá do papel mediante a pressão social. Mas somos como o Suassuna, “realistas esperançosos”.”

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