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Reportagens

Pesquisas para governo de SC variam e eleição ainda não está decidida

Especialistas afirmam que só é possível saber o que a população pensa no dia da eleição

Reportagem por Jullia Gouveia e Karol Bernardi

Seja para apaziguar incertezas ou reforçar favoritismos, os olhares se voltam para as pesquisas de intenção de voto às vésperas das Eleições Gerais de 2022. Mas não é em todo lugar que as disputas parecem previsíveis, com crescimento estável. Em Santa Catarina, os eleitores se deparam com resultados bastante diferentes para o governo do Estado, com os cinco primeiros colocados revezando posições e variando até 20 pontos percentuais a cada atualização. Especialistas listam diversos fatores para explicar tantos cálculos distintos, desde indecisão do eleitor até diferenças na metodologia de cada pesquisa. Esse vai e vem eleitoral não é novidade, em especial para os catarinenses.

Em 2018, o candidato eleito para o governo do Estado não passava dos 6% das intenções de voto nas pesquisas, mas chegou aos 29,72% no primeiro turno e levou as eleições no segundo, com o apoio do candidato à presidência vencedor. Este ano, outros candidatos dividem o apoio dos presidenciáveis. Para a CEO do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec, ex-Ibope), Márcia Cavallari, uma das razões para essa virada na reta final é que, cada vez mais, os votantes demoram para decidir seus candidatos. “O eleitor pode mudar de opinião na última hora. As viradas podem sim acontecer na reta final da campanha, nos últimos dias.”

Carlos Moisés (Republicanos): Atual governador de Santa Catarina. É formado em Direito e atuou como bombeiro militar por 29 anos.

Décio Lima (PT): Foi vereador e prefeito de Blumenau (SC) por dois mandatos. Se elegeu três vezes como deputado federal. Formado em Ciências Sociais e Direito.

Esperidião Amin (PP): Atual senador por Santa Catarina. Foi prefeito de Florianópolis (SC), governador e deputado federal por três mandatos. Formado em Administração e Direito.

Gean Loureiro (União Brasil): Em Florianópolis, foi cinco vezes vereador e prefeito por dois mandatos. Foi deputado estadual e é formado em Administração e Direito.

Jorginho Mello (PL): Atual senador por Santa Catarina. Foi vereador de Herval d’Oeste (SC),  quatro vezes deputado estadual e duas vezes deputado federal.
Conheça os cinco primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto para governador de Santa Catarina

Em 2022, a maioria das pesquisas para o governo de Santa Catarina aponta uma proximidade percentual entre todos os candidatos e embaralha ainda mais os resultados nas últimas posições. A depender do instituto, diferentes candidatos ocupam um novo lugar no pódio. 

Resultados das pesquisas para governador desde 23 de agosto de 2022. É possível selecionar um ou mais candidatos para conferir todas as suas variações.

Essas diferenças não significam, necessariamente, um menor nível de confiabilidade do resultado. “A pesquisa eleitoral é um diagnóstico do momento no qual ela foi realizada. Não é uma projeção de um resultado futuro”, enfatiza Cavallari. Por isso, o eleitor que usa as sondagens como oráculo pode acabar se enganando. Danilo Santana, analista de dados, complementa que uma das variáveis nos resultados é o tempo. “Pesquisas retratam o momento, e podem ocorrer mudanças de opinião. Portanto, períodos diferentes podem apresentar resultados diferentes”. Entre o registro de uma pesquisa no sistema da Justiça Eleitoral e sua divulgação é necessário cumprir o prazo de cinco dias, então os resultados publicados não refletem reações imediatas do eleitorado.

Além de se atentar para a data em que a pesquisa foi realizada, é importante verificar no registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as principais informações sobre o instituto e a metodologia aplicada. Marcelo Soares, jornalista especializado em dados e que monitora pesquisas eleitorais no site Lagom Data, ressalta alguns pontos de cautela: “Uma das coisas mais importantes para se olhar numa pesquisa é se ela revela ou não quem está pagando. Muitas vezes, se o instituto diz que está usando recursos próprios, é porque quem bancou a pesquisa não quer aparecer, principalmente nos estudos que mais fogem da média”.

Por fim, para identificar uma boa pesquisa, os especialistas elencam mais três aspectos indispensáveis: 

  • orçamento coerente com a metodologia escolhida; 
  • questionário imparcial; 
  • empresa especializada em pesquisas de mercado e opinião à frente do levantamento.

Uma das coisas mais importantes para se olhar numa pesquisa é se ela revela ou não quem está pagando. Muitas vezes, se o instituto diz que está usando recursos próprios, é porque quem bancou a pesquisa não quer aparecer.

Marcelo Soares, jornalista
Cada pesquisa tem uma receita

Na questão prática da pesquisa, outro fator que influencia no placar é a amostra estudada. Neale El-Dash, doutor em Estatística, compara a parcela de entrevistados a um pedaço de lasanha. “Se eu pegar só a primeira camada da lasanha, é uma amostra enorme, mas só que vai ter gosto de uma massa normal, e não de uma lasanha. Se o meu objetivo é saber o gosto da lasanha, com uma fatia pequenininha atravessando todas as camadas, eu vou sentir o sabor dela”. 

Essa fatia contendo todas as partes é chamada de amostra estratificada. Santos explica que uma pesquisa que reflita bem a realidade precisa contar com um retrato da população que considere as proporções corretas de sexo, faixa etária e outras variáveis demográficas. Essa dinâmica, porém, em que a seleção da amostra é mais importante do que o tamanho, só é aplicável em pesquisas chamadas “face a face”.

Em geral, nesse método em que as pessoas são entrevistadas presencialmente o custo é mais elevado. Já que é necessário deslocar o pesquisador para o pontos de fluxo de diferentes bairros e cidades. Tanto face a face quanto por ligação, os lugares escolhidos para a pesquisa podem ser determinantes. Quando são escolhidos por sorteio, garantem que não haja um desequilíbrio na proporção de moradores de um mesmo município ou bairro selecionados, evitando um resultado enviesado.

El-Dash, que também é diretor metodológico do site de consultoria em pesquisas de opinião PollingData, explica que as pesquisas telefônicas têm uma logística mais simples. Não é necessário um entrevistador para fazer as ligações, é o discador automático que realiza a pesquisa. Apesar disso e do baixo investimento envolvido, o especialista ressalta que esse método tem um buraco. “A pesquisa telefônica não consegue falar com 10% da população brasileira, a que não tem acesso a telefone fixo nem a celular.”

Por outro lado, a pesquisa face a face, favorita de institutos consolidados como Ipec e Datafolha, também enfrenta dificuldades. Quando realizada em pontos de grande fluxo de pessoas, a população com mais chance de participar é a de jovens adultos, deixando de fora os mais velhos que passam mais tempo em casa, por exemplo. Já os levantamentos que vão de porta em porta entrevistar não conseguem chegar a todos os lugares, como áreas de risco, condomínios de luxo e prédios com porteiro.

El-Dash atesta que, em nível nacional, esses dois métodos de pesquisa têm apresentado diferenças consistentes, mas é difícil apontar qual deles consegue representar melhor a opinião pública. Sobre o páreo para o governo de Santa Catarina, ele afirma que a parcela de eleitores ainda indecisos, cerca de 15% do total, pode mudar o jogo no dia da eleição: “Todos os cinco primeiros candidatos variam entre os 10 e 20 pontos percentuais. Uma eleição como essa, de votos bem divididos, é muito mais difícil de prever.” 

Próximo domingo

Este ano, pela primeira vez desde a redemocratização, os institutos não realizarão a pesquisa de boca de urna, que entrevista eleitores de todo o Brasil na porta de suas seções eleitorais e, por isso, é uma das mais exatas – e mais caras. Em 2018, o levantamento realizado pelo Ibope (atual Ipec) no dia da eleição abordou 30.000 pessoas e custou ao instituto mais de R$ 340 mil. As últimas pesquisas eleitorais para os cargos executivos serão divulgadas neste sábado, dia 1 de outubro.

No domingo, as urnas estarão abertas das 8h às 17h e a apuração começa assim que todos os aparelhos forem lacrados, simultaneamente para todo o país. Para votar, o eleitor só precisa apresentar um documento oficial, como título de eleitor, carteira de identidade, de trabalho ou de habilitação. As versões digitais de todos os documentos nos aplicativos oficiais, como e-Título e CNH Digital, têm a mesma validade. O celular, porém, só vale na hora da documentação, já que não pode ser levado até a cabine e deve ser entregue ao mesário antes de se dirigir à urna. Por isso, é aconselhado que eleitores levem uma “colinha” com os números de seus candidatos para não se confundir.

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