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Motoristas e cobradores questionam mudanças no transporte coletivo

Motoristas e cobradores estão discutindo com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Florianópolis (SETUF)   as cláusulas da licitação do transporte coletivo na cidade. Firmado na última quarta-feira (30) entre a Prefeitura e o Consórcio Fênix, que agrupa as empresas de ônibus Transol, Canasvieiras, Estrela, Biguaçu e Insular, o acordo prevê redução das tarifas, maior integração e renovação da frota. Também está previsto a demissão de 50% dos cobradores para a diminuição do valor da passagem.

foto3A implementação das mudanças deve ser feita até outubro de 2015. O aumento do tempo de integração – de 30 minutos para duas horas – foi implantando na última semana. A redução de tarifa em mais quinze centavos tem como prazo 1 de agosto. Em contraposição ao acordo, motoristas e cobradores devem fazer paralisações relâmpago até sexta-feira. O Cotidiano entrevistou o secretário de comunicação e imprensa do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano (Sintraturb), Deonísio Linder, sobre o impasse.

Uma das principais reivindicações é que não haja a demissão de cobradores. Essa questão não é antiga?

É antiga, mas não tinha nada escrito. Agora é lei: tem um contrato em vigor desde o dia 1°de maio, que prevê a retirada de 350 postos de trabalho por conta dos gastos com a redução do valor das passagens. Antes eles sempre levantavam a questão, discutiam, mas sempre voltavam atrás. O então prefeito Dário Berger fez um decreto-lei que garantia dois funcionários, motorista e cobrador, por ônibus – então havia uma garantia. Tem uma cláusula no próprio acordo, na sentença normativa do Tribunal de Contas do Estado do ano passado, que garantia a presença dos cobradores. Agora eles querem vencer a sentença normativa com o edital.

O prefeito César Souza falou que nenhum cobrador seria demitido, mas realocado para outras funções.

A proposta dele, a que está em ata, é que não haverá demissão – as pessoas pedirão a demissão. Por exemplo, existe um motorista que hoje quer sair, então ele vai lá na empresa e pede demissão. Mas não é recontratado outro para o mesmo cargo. Isso é uma falácia. Eles não estão demitindo, eles vão fazer uma demissão incentivada: quem sair vai ter tudo, o FGTS, seguro desemprego. Eles alegam que não vão demitir, mas também não estão dizendo que os 350 postos de trabalho serão mantidos. Queremos que os postos não sejam fechados – e essa é a dificuldade.

Nossa sociedade está muito endividada e a nossa categoria não é diferente: é minha casa, minha dívida, é prestação de carro, de imóveis, então tem um monte de gente que quer sair porque precisa de dinheiro.

Tem como ser feita a realocação?

Não tem como. Quando fizerem a sala da inteligência do sistema, vão precisar de dez, vinte pessoas, pouca gente. Vão dar aula de informática, qualificação, mas não vai ser suficiente para demissões.

Vai ter paralisação?

Não queremos fazer a greve geral. Serão pequenas paralisações para mostrar para a sociedade que a proposta que os patrões estão fazendo, de diminuir o número de cobradores para redução das taxas é uma falácia. Eles podem dizer para a população que vão baixar em doze, quinze centavos a tarifa,  e pra isso eles dizem que tem que tirar os cobradores. Mas dá para fazer isso sem tirar os cobradores. Ninguém é contra a diminuição da tarifa, mas nós queremos a qualidade do serviço. E quero ver eles mostrarem para sociedade o exemplo de Joinville: não tem cobrador e a tarifa é bem mais alta que aqui. Então, ao longo de dois, três anos eles vão aumentar a tarifa e vai ser diluída na passagem o valor que perderiam no começo, já que tem 20 anos para explorar o sistema, prorrogável por três vezes, então 60 anos.

Você acha que a reação da população em outras greves é influenciada pela mídia ou é espontânea?

A população é jogada contra os trabalhadores em qualquer movimento social – olha só o movimento dos Amarildos. São sempre contra nós, dizendo que a greve é anual, que faz parte do calendário da cidade. Mas o salário do motorista e do cobrador estão defasados. A gente sabe que o transporte público deveria ser realmente público. Enquanto estiver previsto 6% à 8% de lucro para o empresário como previsto no edital – a cada um real investido, oitenta centavos é do patrão. Esse dinheiro não precisava ser do patrão, poderia ser da iniciativa pública.

Com a nova forma de subsídio os patrões vão ganhar muito mais. O estudante paga R$1,30 e a prefeitura vai completar até R$2,60. Hoje os empresários não ganham com idosos, mas a partir do momento que eles passarem a catraca, vão ganhar. Deficientes físicos: também vão ganhar. Eles não vão temer mais perda, por isso não é necessário tirar os cobradores.

Outras cidades já utilizam o sistema eletrônico no transporte público. Aqui em Florianópolis funcionou?

A catraca eletrônica funciona. Eles fazem o sistema que eles quiserem. A tecnologia está aí, e muito bem avançada, mas a questão é política mesmo. Melhora o sistema ou não. Há situações de assédio dentro dos ônibus, assalto, que vão piorar com a saída dos cobradores. Em Vitória, os cobradores estão sendo recolocados com a piora dessas situações dentro dos ônibus.

Funciona sem cobrador? Funciona, não vou dizer que não, mas qual é o tempo de percurso hoje, 30 minutos? E se aumentar para 45 minutos? Quem vai pagar é a população. Quem vai pagar a questão do assédio são as mulheres. Quem paga a lotação dos ônibus é a população. Estamos discutindo a qualidade do serviço. Quem que vai cobrar? Quem que vai passar informação? Toda vez que o motorista parar para dar informação? É muito mais estresse.

Os motoristas vem como necessários os cobradores?

Os motoristas estão com eles. Eles sabem qual é a importância do cobrador no dia a dia: fazer manobra, atravessar faixa, descer passageiros [com deficiência física], avisar o motorista se não há passageiros saindo do ônibus quando não há visão em ônibus articulados.

 

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