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O tabu é um dos problemas da pobreza menstrual (Foto: Reprodução/Freepik)
Reportagens

Para além dos absorventes, faltam itens básicos para pessoas na pobreza menstrual

Ainda falta banheiro, itens de higiene pessoal e mesmo roupas íntimas; organizações sociais se engajam para atender parte das demandas

Reportagem por Júlia Venâncio

Helena* estava cansada após um longo dia na escola. Às vezes se sentia estranha, com dor de cabeça, incômodo incomum na região abdominal e com inchaço na barriga. A menina de 11 anos passou o dia sentindo secreções descendo da sua parte íntima, mas não prestou atenção. Ao chegar em casa, sentiu a necessidade de ir ao banheiro. Abaixou a calça que vestia, sentou no vaso sanitário e olhou para baixo. Foi então que tomou um susto: sua calcinha estava com uma mancha vermelha. Por morar em uma casa de três mulheres e ver a mãe e a irmã passando por isso todos os meses sabia o que era: tinha acabado de ficar menstruada pela primeira vez. 

Chamou a irmã, que logo acionou a mãe. Assustada pelo fato da filha ter pouca idade, chegou a pensar que a menina havia perdido a virgindade. Não era o caso. A mãe, para ajudar Helena, pegou uma blusa antiga que tinha dentro de casa, cortou um pedaço do tecido e deu para a pré-adolescente usar durante a noite. 

Nascida na periferia de Macapá (AP), só conseguiu comprar o seu primeiro pacote de absorvente aos 16 anos, quando começou a trabalhar. Antes disso, o absorvente era item de luxo para Helena e sua família – o jeito sempre foi usar pano quando o ciclo menstrual começava. A mãe até preferia, dizia ser “mais confortável”. As filhas pensavam o contrário: sentiam-se incomodadas, com constante medo do pano cair e o sangue vazar pela roupa. 

O uso de pedaços de pano de roupas antigas é comum entre pessoas em situação de pobreza menstrual. O termo é classificado pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) como “um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação”. 

O acesso à higiene menstrual é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma questão de saúde pública e de direitos humanos desde 2014. Entretanto, esses direitos não são garantidos a partir do momento que quase 500 milhões de meninas e mulheres ao redor do mundo não dispõem de instalações para o manejo adequado da higiene menstrual, de acordo com o relatório “Livre para Menstruar”, de 2021 do movimento Girl Up, grupo fundado pela Fundação da Nações Unidas em 2010 que defende a igualdade de gênero. Além disso, 1,5 milhões de brasileiras vivem em residências sem banheiro e lidam diariamente com problemas relativos ao esgoto, de acordo com o mesmo relatório. 

Dados: Relatório “Livre para Menstruar”. Arte: Júlia Venâncio.

Menstruar nas ruas

O sol estava forte em Manaus (AM) no domingo do 26 de junho de 2022. A praça XV de novembro, popularmente conhecida como praça da Matriz por estar localizada na frente da Igreja da Matriz, no centro da cidade, estava repleta de pessoas que vestiam roupas de calor – fazia quase 30 graus naquele dia. Mas havia um grupo na praça que destoava do restante: vestiam camisetas pretas com o slogan “MenstRUA” e seguravam 84 sacolas de papel. 

Entre o grupo estava Jumara Pimenta, de 27 anos. Com os cabelos amarrados – provavelmente por conta do calor intenso – distribuía as sacolas de papel, que continham absorventes, calcinhas e itens de higiene para mulheres em situação de rua e de vulnerabilidade. Não era a primeira vez que a jovem fazia isso: desde agosto de 2021, Jumara sai pelas ruas de Manaus para realizar ações com o projeto. 

“MenstRUA” surgiu através de uma paixão de Jumara. Ela se formou em Administração, mas queria mesmo trabalhar com desenvolvimento de softwares. Para isso, entrou em um curso de programação. Como trabalho final, entregou o site chamado “MenstRUA”, desenvolvido e criado para pensar na falta de dignidade menstrual enfrentada por pessoas em situação de rua em Manaus. “Resolvi pesquisar mais sobre o problema no meu Estado para ver se tinha algum projeto voltado para pessoas em situação de rua que levasse absorvente e não encontrei. Fiquei muito incomodada de não ter”, conta. 

Com a falta de leis estaduais para amparar mulheres e homens trans que vivem nas ruas, projetos que combatem a pobreza menstrual ocupam um papel que deveria ser do Estado. É nesse sentido que, em setembro de 2021 aconteceu a primeira ação com a distribuição de 40 kits que continham absorvente, sabonete e papel higiênico. Ao entregar o pacote com os itens, Jumara percebeu que as pessoas que menstruam não tinham onde colocar o absorvente: faltava uma peça íntima. “Elas pedem muita roupa da gente. Então, se não tem calcinha não adianta só dar o absorvente. Por isso, incluímos calcinhas também”. 

Para combater a desinformação, o projeto vai para as ruas de Manaus uma vez por mês. A equipe, composta de 58 pessoas, divide-se e caminha entre as praças Matriz e do Relógio, ambas localizadas no centro da cidade. O primeiro passo é perguntar se a pessoa

precisa de um kit, a resposta é normalmente afirmativa. Algumas não estão abertas a conversas, outras, tudo o que mais precisam é de um ouvido amigo. “Muitas chegam para conversar com a gente para agradecer e falar que é super importante o que a gente faz”. 

Jumara e outros voluntários saem pelas ruas do centro de Manaus para, não só distribuir os produtos, mas também levar educação menstrual para pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. “A gente tem que parar com a ideia de que pobreza menstrual é só falta de absorvente. Sabemos que o problema está também na falta de informação, na falta de saneamento básico e infraestrutura para menstruar”, conta Jumara, ao relatar a importância de levar informação para as ruas. “Falar sobre menstruação, sobre o nosso corpo e sobre o nosso ciclo menstrual é muito importante. A pobreza menstrual também é isso, né? É levar informação para quem não tem informação”. 

A gratidão faz o projeto se manter firme e fortalecer suas ações. Em 26 de junho de 2022, o grupo vivenciou uma experiência diferente: após caminhar entre as ruas e distribuir 83 dos 84 kits disponíveis para entrega, Jumara ouviu de uma das pessoas que estavam na praça que havia uma mulher em busca dos produtos, sem conseguir encontrá-los. Depois de uma grande mobilização, o encontro aconteceu: a mulher que vive em situação de rua achou a equipe, se emocionou, agradeceu e pediu para tirar foto com o grupo. “Mulheres da rua também menstruam, a gente quer comida, mas também quer absorventes, quer trabalho”, contou a moça ao receber o kit. 

Mulher em situação de rua se emociona ao encontrar o projeto MenstRUA e conseguir os itens de higiene menstrual (Foto: Reprodução @menstRUA)

Carolina Carvalho, 35 anos, conseguiu enxergar a pobreza menstrual como um problema além da falta de absorventes. Em uma tarde, Carolina atendeu o seu celular. Do outro lado da linha estava uma mulher de 21 anos que havia encontrado Carol através da sua página do Instagram. Com esperança de conseguir ajuda, a moça implorava por auxílio para comprar alimentos e kits de higiene menstrual. Afinal, era mãe solo e precisava de comida para dar ao seu filho. “A assistência social da região distribui uma cesta básica a cada dois meses. Você come todo dia. Como é que você vai receber uma cesta pequena a cada dois meses?” questiona Carol. 

Carolina – ou Carol, como prefere ser chamada – é moradora do Rio de Janeiro e é formada em relações internacionais. Após a sua graduação, viu que gostava de tratar de temas femininos e criou a campanha “Orgulho de Menstruar”, focada em pessoas em situação de rua da capital do Rio de Janeiro (RJ). 

Durante as suas ações nas ruas, Carol percebeu que mulheres em vulnerabilidade social são normalmente esquecidas pela sociedade. “Essas mulheres precisam de item de higiene. Elas menstruam”, relata Carol, ao relembrar o porque começou a campanha. Além disso, a carioca afirma que não basta dar absorventes, é preciso frisar que o problema vai além desse único item. “Ninguém pensa, de fato, que não é só um absorvente. Uma coisa que eu vi que as mulheres ficaram muito alegres era quando eu entregava sabonetes”. 

Menstruar nas escolas

Na manhã do dia 24 de outubro de 2022, Laura Correia de Vargas, 53 anos, acordou animada. Tomou o seu café da manhã, vestiu a sua blusa rosa claro e se dirigiu para a escola EBM Luiz Cândido da Luz, localizada no norte da ilha de Florianópolis. Laura é professora de Português da unidade desde 2015 e faz parte da equipe pedagógica, sendo responsável pelos projetos que acontecem na escola. 

A sua animação tinha um motivo: começava naquela segunda-feira a “Semana do Outubro Rosa”, organizada por Laura e outros professores. O momento tinha como objetivo falar sobre a saúde da mulher e pobreza menstrual para alunos do sexto ao nono ano do ensino fundamental. “Quando a gente reúne um grupo e começa a pensar sobre outras

coisas que não estão no currículo escolar e que não é o professor de sala falando, os alunos ficam mais atentos”, diz a professora. 

Na tarde daquele mesmo dia, os alunos do oitavo e nono ano reuniram-se em uma sala onde havia um telão. Animados, os estudantes iriam assistir ao documentário “Absorvendo o tabu”, vencedor do Oscar de 2019, que conta a história de meninas indianas que viviam em situação de pobreza menstrual e, por isso, deixavam de ir à escola. Laura conseguia ver no olhar das meninas a identificação com as cenas transmitidas no documentário e as estudantes respondiam verbalmente o que viam na tela. “Também já deixei de ir à escola quando o fluxo estava intenso”, diz uma das alunas para a professora Laura. 

Professores da IBM Luiz Cândido da Luz reunidos na “Semana do Outubro Rosa” realizado pela escola (Foto: Acervo Pessoal)

 

Momentos como esses, criados por Laura, são importantes para combater a desinformação e trazer dignidade menstrual para pessoas que menstruam dentro das escolas, uma necessidade da rede municipal. “Acontece delas usarem um absorvente o dia todo, que é tão perigoso quanto. 

“Vocês precisam trocar a cada duas horas, dependendo do fluxo”, diz a professora Laura para suas alunas. “É sério mesmo?”, respondem as estudantes, demonstrando a falta de informação a respeito do assunto. 

Usar o mesmo absorvente por longos períodos do dia pode causar problemas de saúde, segundo a ginecologista Camila Gonçalves, de 33 anos. “Quando não há a troca do absorvente, fica muito abafado ali. O pH da vagina pode ser alterado e causar Candidíase e Vaginose”, explica a médica que também relata o problema da Síndrome do Choque Tóxico. “É uma bactéria que acaba se proliferando e gera uma infecção generalizada bem grave que pode levar até a morte”. 

A escola municipal Luiz Cândido da Luz faz parte do Programa de Combate à Pobreza Menstrual, a partir da lei sancionada pelo ex-governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (Republicanos). O programa estabelece a distribuição gratuita de 16 absorventes por mês para meninas entre 10 a 18 anos das redes municipais de ensino. 

Em março de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que institui a distribuição gratuita de absorventes pelo SUS inclusive a pessoas trans. O decreto regulamenta a Lei que institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, vetado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo veto foi derrubado pelo Congresso Nacional. Segundo portaria interministerial publicada em junho pelo Governo Federal, “os absorventes poderão ser distribuídos em estabelecimentos da Atenção Primária à Saúde e escolas da rede pública, além de unidades da rede de acolhimento do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, presídios, instituições para cumprimento de medidas socioeducativas e outros equipamentos que atendam as especificações do Programa”.

 

Projetos como esses garantem a dignidade menstrual das estudantes da escola Luiz Cândido da Luz. De acordo com a professora Laura, a rede de ensino é localizada em uma área de fragilidade social e atende famílias vulneráveis. “Isso ajuda na renda e é uma coisa menos a se preocupar. Um item a menos para comprar”. De acordo com o relatório “Livre Para Menstruar”, estima-se que uma pessoa que menstrua gasta entre R$ 3 mil e R$ 8 mil durante a sua vida menstrual com absorvente. 

“Professora, posso levar um pacote de absorvente para a minha mãe que está desempregada?”- diz um dos estudantes do oitavo ano para a professora Laura. 

Dentro da escola onde Laura leciona, não são apenas as meninas que se preocupam com a segurança menstrual. Devido à condição financeira das famílias, é comum os meninos se preocuparem em garantir o absorvente para mães, irmãs e namoradas.

Carolina – ou Carol, como prefere ser chamada – é moradora do Rio de Janeiro e é formada em relações internacionais. Após a sua graduação, viu que gostava de tratar de temas femininos e criou a campanha “Orgulho de Menstruar”, focada em pessoas em situação de rua da capital do Rio de Janeiro (RJ). 

Durante as suas ações nas ruas, Carol percebeu que mulheres em vulnerabilidade social são normalmente esquecidas pela sociedade. “Essas mulheres precisam de item de higiene. Elas menstruam”, relata Carol, ao relembrar o porque começou a campanha. Além disso, a carioca afirma que não basta dar absorventes, é preciso frisar que o problema vai além desse único item. “Ninguém pensa, de fato, que não é só um absorvente. Uma coisa que eu vi que as mulheres ficaram muito alegres era quando eu entregava sabonetes”. 

Dados: relatório “Livre para Menstruar”. Arte: Julia Venâncio.

 

A falta de recursos para lidar com a menstruação tem impacto na vida escolar de milhares de pessoas que menstruam. Mais de 4 milhões de menstruantes não possuem acesso aos itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas e 321 mil alunos estudam em escolas que não possuem banheiros em condições para uso. Os dados foram divulgados pelo relatório Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violação de direitos, produzido pela UNICEF em parceria com o Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA) e publicado em maio de 2021. 

Para Helena*, não foi diferente. “Tinha muita vergonha de ir para escola com pano porque dava volume na área da vagina, né? Então eu achava que todo mundo ia ver”, relata a menina que chegou a faltar alguns dias de aula quando estava menstruada. Mas, como não podia faltar sempre à escola, em algumas ocasiões ia sem o pano e se sujava de sangue. “As minhas colegas tinham acesso ao absorvente. Então eu achava que aquilo era a coisa mais esquisita do mundo”, explica, ao falar porque tinha vergonha de usar o pano. 

Carolina Menache, de 17 anos, ao contrário de Helena*, não é uma das meninas que precisam usar pano para ir à escola. Pelo contrário, a adolescente tem absorventes e remédios para dor garantidos todos os dias do mês em que menstrua, mas, no segundo ano

do Ensino Médio, viu que a sua realidade não era igual à das pessoas que menstruam e que moram na comunidade em frente a sua escola, na capital paulista. 

Decidida a ajudar a mudar esse fato, entrou, em 2021, para o projeto “Nosso Período”, criado por três meninas do terceiro ano do Ensino Médio que se sentiram comovidas pela realidade da pobreza menstrual no Brasil. “Elas ficaram chocadas e começaram a fazer campanhas de educação e de doações na escola”, conta Catarina. 

O projeto faz doações de kits de higiene menstrual para comunidades que ficam perto da rede de ensino e distribuem panfletos com informações a respeito do ciclo menstrual. A equipe, composta por 19 pessoas, teve o seu primeiro membro homem no ano de 2022. “Ele nem sabia que podia ajudar. Foi uma surpresa para ele”, relata Carolina. A menina acredita que a falta de interesse de homens em ajudar projetos como o “Nosso Período” está no tabu que envolve o tema. 

Menstruar como tabu

Amanda Medeiros, 22 anos, prestava atenção na aula de matemática quando sentiu uma estranha sensação na sua região íntima. Fechou os olhos quase não acreditando que aquilo estava acontecendo: tinha ficado menstruada e não usava absorvente. Com medo de ter sujado a sua calça e a cadeira da escola de sangue, ficou com o seu rosto todo avermelhado. A menina de 17 anos na época, não sabia como agir. “E se eu me levantar da cadeira e todo mundo me ver suja? Vou morrer de vergonha”, pensou Amanda.

O tabu é um dos problemas da pobreza menstrual  (Foto: Reprodução/Freepik)

Naquele dia, nunca uma aula havia sido tão longa. A sensação de ser vista com a calça marcada de fluxo menstrual corroía o corpo da menina. Com o fim da classe, olhou para um lado e depois para o outro, tinha a intenção de observar se os seus colegas de aula estavam olhando na sua direção. A sensação de ser o centro das atenções estava apenas na sua cabeça, afinal, “é o que acontece quando estamos passando por momentos que consideramos constrangedores”, diz. Tomou coragem e se levantou da cadeira, olhou para baixo e, para a sua surpresa, não havia nada ali. Conseguiu, por fim, voltar a respirar aliviada. 

A vergonha em relação à menstruação não é exclusividade da Amanda. Para a estudante de Jornalismo, Sheila Pinheiro , de 24 anos, o ato de menstruar ainda é considerado um tabu. Segundo ela, meninas e pessoas que menstruam são educadas desde cedo a esconder o seu sangue como forma de silenciar a sua menstruação. “Quando tem que pedir um absorvente emprestado, tem que ficar escondendo até chegar no banheiro para poder colocar”, conta Sheila. 

Para ajudar a combater o tabu e trazer dignidade menstrual para pessoas que menstruam em vulnerabilidade social, Sheila é voluntária do projeto “Sobre Nós”, na capital de São Paulo (SP). Um domingo por mês, os 40 voluntários vão para as comunidades para levar kits de higiene com absorventes e ajudam a combater a desinformação. “A gente precisa levar informação para essas mulheres sobre a saúde feminina, então fazemos uma cartilha ou um muralzinho com informações. Buscamos estar sempre desmistificando a menstruação e dando apoio”. 

Para a ginecologista Camila Gonçalves, o tabu não envolve apenas a menstruação, mas todo o universo feminino. “Para se referir à vagina, você vai falar pepeca, perereca, florzinha, enfim vários nomes que a gente usa. Já pênis todo mundo parece que não tem tanto problema em falar”, explica a médica que vê dentro do seu consultório mulheres com vergonha dos termos femininos. Tem paciente que tem dificuldade em falar que está com coceira na vagina, por exemplo”. 

A menstruação é um tabu não só nos consultórios ginecológicos, como também dentro das escolas. No caso da EBM Luiz Cândido da Luz, não é diferente: dentro das salas de aula, a professora Laura consegue observar as suas alunas e o constrangimento de

quando precisam realizar a troca de absorvente. “Quando acontece de a menina ter que ir pedir absorvente na secretaria da escola, é engraçado o movimento. Às vezes, é a amiga da amiga que vai pedir”. 

Apesar de ter crescido em uma casa onde falar sobre menstruação era um tabu, aos 25 anos, Helena* não vê mais o tema dessa forma. “É algo natural do corpo da mulher”, diz. Ela se mudou de Macapá para Florianópolis em dezembro de 2018, junto com a irmã, para conseguir experiência na sua área de formação, a Administração. Ingressou logo em seguida no mercado de trabalho e tornou-se mãe do seu primeiro filho. 

Helena* não tem mais medo de um pedaço de tecido de roupa antiga cair da sua calcinha. Pode escolher se prefere usar seu coletor menstrual ou o absorvente comum durante os seus ciclos menstruais. Tem dentro da sua casa remédios para quando sentir cólica, possui a infraestrutura necessária para os cuidados de higiene e tem acesso à informação sobre o assunto. Helena* conquistou aquilo que pessoas que menstruam nas ruas e nas escolas buscam quando não têm acesso ao que é do seu direito básico: a dignidade de menstruar. 

*Os nomes com asterisco foram alterados para proteger a identidade das fontes.

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