A nova cara da política

Embora atípico, estamos em ano eleitoral. O desejo que aparenta vir da sociedade é o de mudança. Ao mesmo tempo, a juventude parece não estar tão interessada na política tradicional. Como então se dará essa mudança? Quem são as pessoas que darão rosto aos desejos dos eleitores brasileiros no futuro? Estas são algumas das perguntas que essa reportagem busca responder

Reportagem de Gabriel Iwood

Para além das paixões, ideologias e eventuais demagogias que giram em torno da política, existem – pasmem – seres humanos. E esses seres humanos, que hoje decidem o que será da vida de milhões de pessoas, começaram de algum lugar. Jovens cheios de ideais, como José Serra, quem foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), aos 21 anos, com apoio do Partido Comunista. Ou aqueles que começaram a falar em público por necessidade, como Geraldo Alckmin, quem dava aulas de química orgânica para ajudar nas finanças de casa. Lá fora, Evo Morales só descobriu a existência das cuecas aos 14. Aqui, Marina Silva só aprendeu a ler aos 16. Guilherme Boulos se inspirou a tentar mudar o mundo ainda criança, num jogo do Corinthians. E Joice Hasselmann desistiu do sonho de ser médica para tentar a carreira de jornalista.

Os líderes do futuro ainda andam como anônimos entre nós. Desmentindo o senso comum de que os jovens de hoje são alienados, a Geração Z cresceu em um país (e em um continente) onde o campo progressista era dado como fato. Adolescentes, no início da década, viram esse modelo convulsionar, aos gritos de “sem partido!” nas ruas. E hoje veem um giro abrupto, com mudanças que vão das tendências do que é aceitável nos costumes, aos efeitos e desilusões de três décadas do “mundo conectado”.

Esses jovens chegam num momento em que a forma clássica de fazer política, dentro dos partidos, vive desprestígio em todas as camadas da população. No ano passado, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) fez uma pesquisa sobre a confiança da população nos partidos políticos. O resultado foi: 77,8%, dos entrevistados não têm “nenhuma confiança” neles. O Datafolha, em julho de 2019, divulgou um estudo que compara o crédito (ou descrédito) da população em diversas instituições. Neste, os partidos políticos ficaram em último lugar, atrás de concorrentes que passam longe de serem os queridinhos do público, como o Congresso, o Judiciário e a Presidência da República.

Não que no passado eles tenham sido celebrados como salvadores da pátria. Pelo contrário. No período do Governo Provisório de Vargas, havia uma turma de apoiadores varguistas que, hoje, chamaríamos de ala autoritária. Autointitulado Grupo 3 de Outubro, surgiu após a Revolução de 1930 para substituir os “partidos tradicionais” de então e servir de sustentação ao governo. Eles incentivavam Getúlio a ser mais duro contra aqueles que se opusessem ao seu governo e chegaram a “empastelar” jornais críticos. Resultado: ditadura Vargas.

É verdade, sim, que os jovens estão mais afastados da política e isso é preocupante. Mas mais grave é que esse afastamento não se resume aos cidadãos de pouca idade.

Segundo os cientistas políticos Dietlind Stolle e Marc Hooghe, na publicação de 2005 “Youth Organisations Within Political Parties: Political recruitment and the transformation of party systems”, o distanciamento político da juventude acontece junto a um desinteresse da população em geral sobre esse tema.

Não faz falta dizer que pessoas que não discutem e não se informam sobre as suas próprias relações sociais estão mais suscetíveis a serem dominadas por forças autoritárias.

Nesta tirinha de 1995 e republicada em 2000 no livro “O Presidente que Sabia Javanês” (Boitempo), Angeli ironiza a falta de personalidade dos partidos políticos e critica o governo de Fernando Henrique Cardoso (Foto: Reprodução)

Enquanto estudante de jornalismo, procuro histórias e me procuro na História. Em dois anos e meio nesse universo, cobri duas situações que considero “históricas”: a morte do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, em 2017; e a eleição que elegeu Jair Bolsonaro, para presidente, e Carlos Moisés, para governador do estado, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Florianópolis.

Acredito que esta reportagem entrará para minha lista, uma vez que apresentará seis jovens que discutem e vivem a política na prática todos os dias, desmistificando o preconceito de que os jovens são acomodados. Localizados em diferentes pontos do espectro político, eles mostrarão suas formas de ver o mundo, as relações sociais que nos regem e as suas soluções para o Brasil. Um novo jeito de fazer política está nascendo e eles são a vanguarda.

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