Servidores técnico-administrativos permanecem em greve por tempo indeterminado
Texto: Ayla Nardelli (aylaanp@gmail.com)
Natália Duane (nataliaduane@gmail.com)
Os servidores técnico-administrativos de cerca de 36 universidades federais entram na terceira semana de greve, reivindicando melhorias nas condições de trabalho, como jornada de 30 horas, extinção do ponto eletrônico e aumento dos benefícios de vale-alimentação e auxílio creche. A pauta da UFSC é a mesma que foi entregue à reitora Roselane Neckel em 2012. Segundo o integrante do comando de greve local, Celso Ramos Martins, aproximadamente 45% dos trabalhadores aderiram à paralisação- serviços como a Biblioteca e Restaurante Universitário estão fechados. Ainda não está prevista na agenda da greve audiência com a reitora, nem o fim da paralisação.
O Cotidiano entrevistou Celso Ramos Martins, integrante da coordenação geral do Sintufsc, sobre a situação atual da greve, as principais reivindicações e o que impede que elas sejam atendidas.
Quais são as pautas primordiais, que sem elas atendidas vocês não sairiam da greve?

Vou dar um exemplo, o vale alimentação das outras categorias é em torno de R$1.200, o nosso é de R$300. O auxílio creche é aproximadamente R$1.000 e o nosso é R$80 – a disparidade é muito grande. Mas infelizmente a nossa categoria não consegue avançar, não temos uma política de creche definida, e isso, claro, que afeta diretamente o trabalhador porque, hoje, em volta da universidade, uma creche está custando R$1.000. E por isso nossa luta constante.
Nós temos o hospital universitário, lá com 160 leitos fechados por falta de contratação de pessoal e isso é lamentável. A administração da universidade, o governo federal, com problemas seríssimos na saúde e não soluciona o impasse – não é só uma questão pessoal dos servidores técnico-administrativos, é da instituição.
Existem várias pautas locais e nacionais, em que a reitora pode influir nessas questões?
A reitora pode pressionar o governo a vir a colaborar com o movimento. Estamos pedindo inclusive que o Conselho Universitário faça uma nota de apoio aos servidores técnico-administrativos, que venha intervir junto do governo federal em relação a todos esses problemas que estão ocorrendo. A categoria pede o apoio da reitora, do Conselho, da instituição e da sociedade como um todo.
E a redução para as 30 horas semanais?
Em nível interno é uma bandeira que defendemos há vários anos. A gente vem com avanços dentro da universidade expressivos, já temos uma parcela dos técnicos administrativos fazendo as 30 horas. É agora uma questão política da universidade. Não é uma reivindicação vaga, porque existe um decreto presidencial que dá ao dirigente da instituição o poder para conduzir esse processo e proporcionar as 30 horas para a categoria inteira. Outras universidades já fizeram, e infelizmente a nossa reitora não se posicionou de uma forma clara nessa questão de implantação integral e oficialização da jornada de 30 horas semanais.
Parece que ela tem um receio com relação à Corregedoria Geral da União (CGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU) que estão tentando barrar isso em outras universidades.
É o que eu falo: é uma questão política de implantar e depois a CGU que venha intervir na universidade, nós vamos ter que trabalhar junto com a reitora e tentar negociar. Nós temos uma das melhores universidades da América Latina e que tem pessoas trabalhando as 30 horas, isso quer dizer que não está prejudicando a instituição.

Hoje estamos com DAE (Departamento de Administração Escolar), RU (Restaurante), BU (Biblioteca Universitária) , em torno de 45% dos servidores da nossa instituição estão parados. Há 36 universidades em nível nacional. Infelizmente, em Brasília, as nossa negociações não avançam. A nossa pauta de reivindicação é mínima, não foi bem elaborada (pela Fasubra), ficou uma negociação cômoda pro governo, mas estamos insistindo em vários pontos que atendam a categoria como um todo.
O MEC afirma que a categoria teve o segundo melhor acordo na última greve.
Isso é só discurso. As pessoas acabaram de receber o reajuste e algumas nem perceberam, porque foram R$25, R$35, R$40 de aumento e o que isso significa numa situação de inflação, na sexta capital mais cara do país? O que isso repercute na renda do trabalhador? Não é nada, infelizmente, não é nada. O acordo passado (na última greve) foi de 15%, 5% a cada ano, o que nem repõe a inflação.
Por 2014 ser um ano eleitoral nem todas as pautas podem ser atendidas.
Esse é outro impasse, porque o governo não pode conceder reajuste seis meses antes [das eleições], mas ele pode entrar nesse pontos específicos de pauta e conceder. Como a questão dos aposentados, que é uma classe que tá arrochada nos seus salários.