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Os desafios do parto humanizado no Brasil, país líder em cesáreas no mundo

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Texto: Vitória Greve (vitoriagreve08@gmail.com)

   É difícil fugir dos clichês ao falar sobre o momento do parto. É provavelmente o momento mais intenso da vida humana, para a mãe e para a criança. No entanto, falta informação acessível às mulheres para que possam se preparar adequadamente para o parto. Isso faz com que a maioria delas escolha a opção vista como a mais “segura”, a cirurgia cesariana, com data e horário marcados na maternidade ou hospital.

PARTO CIRÚRGICO

   Mais da metade dos 2,9 milhões de partos anuais (55%) são cirúrgicos. De acordo com dados do Ministério da Saúde (2014), 40% dos brasileiros que vêm ao mundo na rede pública nascem dessa forma. Na rede privada, os números são ainda mais alarmantes,  84%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a porcentagem adequada gira em 1torno dos 15%, pois a cirurgia só é indicada em casos emergenciais e que põe em risco a gestante e o bebê. 

   A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: o parto prematuro aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados a prematuridade. Além disso a cada 10 mil partos normais, morrem duas mulheres. A cada 10 mil cesarianas morrem sete. O Sistema Único de Saúde (SUS) paga R$ 194,79 por parto normal e R$ 293,84 por cesariana (Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2015).

   Mais da metade das brasileiras (70%), deseja um parto normal no início da gravidez, mas com o tempo são desencorajadas. O medo da dor do parto normal e a imprevisibilidade do processo são os dois principais fatores que levam as mulheres a optarem pela cesariana.

PARTO HUMANIZADO

2   O retorno ao parto normal e à humanização do parto é um processo que vem ganhando força, embora apresente limitações. Apesar de não haver uma estatística oficial, estima-se que sejam realizados 40 mil partos domiciliares por ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza o parto humanizado como um elemento importante para a promoção da saúde. Elas contribuem para a redução da mortalidade materna e neonatal, da violência obstétrica e das vergonhosas taxas de cesarianas brasileiras.

   A mulher tem autonomia para decidir como quer parir. Ela escolhe a melhor posição e tem apoio para se movimentar, comer, beber, tomar banho. Pode reduzir a luminosidade do ambiente, ouvir músicas e contar com o suporte do pai da criança ou de outras pessoas, como a doula (mulher que presta o serviço de assistência à parturiente).

4   O trabalho dos envolvidos é no sentido de garantir que ela esteja em um ambiente seguro, acolhedor e tranquilo. Humanizar, no trabalho médico, também é respeitar a individualidade do paciente. Como define a própria OMS, saúde não é apenas ausência de doenças, mas bem estar físico e psicológico.

   Desde 2011 a Rede Cegonha, um projeto do Ministério da Saúde estendido aos Estados e municípios do país, promove a conscientização do atendimento humanizado. Em Santa Catarina, o trabalho começou em 2012 e tem como principal objetivo garantir o acesso de qualidade e atenção ao parto e nascimento com início já no pré-natal, considerado o alicerce todo processo, além do acompanhamento pós-parto nos postos de saúde.

   Muitas mulheres relatam que não tiveram boas experiências no parto hospitalar, especialmente na primeira gravidez. No segundo filho, já com mais experiência e informação, é mais fácil planejar o parto de acordo com suas vontades e preferências. Esta é a história de Karen Pimenta, mãe da Amora e da Clarice. No vídeo abaixo ela conta como foi o parto de suas duas filhas.

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

   Além disso, dados e relatos sobre violência obstétrica – caracterizada por assédio moral ou físico, cortes e procedimentos invasivos realizados sem a autorização da mulher e outros tipos de violência – são frequentes. 25% das mulheres afirmaram já ter sofrido com tal.

   De acordo com a pesquisa Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre o parto e nascimento com coordenação da Escola Nacional de Saúde Pública e Fiocruz, 73% da mulheres que participaram da pesquisa não tiveram acesso a procedimentos não medicamentosos para o alívio da dor, como banho quente; apenas 26,6% dos recém-nascidos tiveram contato com a pele da mãe logo após seu nascimento e 40,9% das mães amamentou o bebê ainda em sua primeira hora de vida.

   A Lei federal de número 11.108 de 2005, conhecida como Lei do Acompanhante, que garante à gestante o direito de ser acompanhada por uma pessoa de sua confiança no decorrer do parto em qualquer instituição pública, nem sempre é respeitada.

   Para denunciar uma violência obstétrica, é preciso procurar a Defensoria Pública do município com cópia do prontuário médico, documento que registra todos os procedimentos pelos quais a mulher foi submetida desde que chegou ao hospital ou maternidade. Para obtê-lo é preciso procurar o setor administrativo da instituição e solicitá-lo.

No vídeo abaixo, você pode ver quais tipos de violência obstétrica a parturiente pode sofrer na hora do parto.

 

 

 

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