Um novo clássico?

Reportagem de Gabriel Iwood

Enquanto alguns ainda não têm certeza de seu futuro na política, outros já se jogaram de cabeça há algum tempo. Para Israel Rocha, 23, a política faz parte do seu dia-a-dia desde criança. Filho de pai pedreiro e mãe professora, o estudante da oitava fase do curso de Direito da UFSC aprendeu cedo que a política permeia todas as relações entre pessoas. “Meu pai nasceu surdo, então a questão da vivência da deficiência dele fez eu ter um valor de justiça social muito forte. Meu primeiro ato político foi de defender meu pai, aprender a falar com ele”, relembra.

Aos 17 anos, um divisor de águas: Israel foi aprovado no concurso de Jovens Embaixadores do governo estadunidense. Junto com outros 34 brasileiros e brasileiras, o “manezinho da ilha” foi conhecer os Estados Unidos, passou por formações e visitou a Casa Branca. Seu décimo oitavo aniversário foi comemorado por lá, onde se deu conta de que poderia fazer a diferença sendo justamente quem era.

De volta a Floripa, o estudante tomou para si a missão de inspirar outros jovens a causarem o que chama de “impacto”. Para isso, trouxe à cidade o projeto “Líderes do Amanhã”, no qual ele capacitava e dava instrumentos para que outros jovens comprometidos pudessem gerar transformações em suas comunidades. O objetivo, segundo ele, era “quebrar dois paradigmas: que projetos sérios não podem ser feitos por jovens, e que as coisas precisam de alguém de fora para promoverem transformação”.

Pouco a pouco Israel foi se sentindo mais à vontade no mundo da política. Hoje, ele é um verdadeiro político à moda clássica, nos tempos de hoje: boa oratória, um discurso claro de suas ideias e o envolvimento quase onipresente em movimentos políticos.

Isso tudo ficou evidente em nosso encontro na praça de alimentação no Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Tive de esperá-lo por alguns minutos, pois ele acabava de sair de um compromisso político e o trânsito ao redor da Universidade lá pelas 17h é terrível, mais ainda com obras em uma das principais vias das redondezas. Simpático, me cumprimentou, se desculpou pelo atraso e recusou o café. Quis ir direto à entrevista. 

Em 2018 desenvolveu mais ainda o traquejo na relação com as pessoas. Israel se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e se candidatou a Deputado Federal. O primeiro desafio foi a passagem de membro atuante em movimentos sociais, a candidato de um partido político. “Acho que os partidos não estão conseguindo ser claros naquilo que eles defendem, acho que não têm o interesse genuíno de mostrar”, critica. “Aí a gente entra em um debate muito difícil, porque não podemos negar os partidos. Eles foram criados para fortalecer a democracia, só que estão atrofiados”.

E essa atrofia pode ser uma das responsáveis pela incapacidade dos partidos políticos de dialogarem com os jovens. A forma na qual eles se organizam, com poucos manda-chuvas decidindo o que é ou não feito, repele a participação da juventude.“Se a gente quer participar de alguma coisa, a gente precisa se ver, se enxergar nela”, explica Israel. 

A alternativa que muitos jovens têm encontrado para atuarem politicamente, sem precisar de recorrer aos antigos partidos, são os chamados movimentos de renovação política. Nesses, acontecem formações e discussões desde um ponto de vista específico e a atuação deles não é, necessariamente, na política institucional, com mandatos. Até há pouco tempo, o mais expressivo era o Movimento Brasil Livre (MBL). Porém, nos últimos anos, outros mais progressistas apareceram. Exemplos desses são o Renova BR, o Acredito e a RAPS (Rede de Ação Pela Sustentabilidade). Israel é membro ativo nos três. 

O jeito mais moderno de fazer política desses movimentos passou a ser antagonizado com a maneira clássica dos partidos políticos no meio deste ano. O estopim foi quando a Deputada Federal por São Paulo, Tábata Amaral, não seguiu a indicação de seu partido, o PDT, de votar contra a Reforma da Previdência proposta pelo governo. Explicações e justificativas à parte, Tábata era a menina prodígio do partido e especulava-se um futuro grandioso para ela lá dentro. 

No entanto, a deputada é co-fundadora de um desses movimentos que Israel participa, o Acredito. Isso foi responsabilizado pela “insubordinação” da parlamentar em relação ao PDT. O estrago estava feito: para uns, esses movimentos são partidos clandestinos, pois têm candidatos eleitos usando da estrutura de partidos regularizados pelo Tribunal Superior Eleitoral, uma vez que só eles podem registrar candidatos. Essa não é a opinião de Israel, para ele é possível que os dois coexistam em harmonia. “A questão da renovação política não é apagar legado, não é falar ‘Vocês fizeram errado’. Mas, sim, ter a habilidade de olhar pro que deu certo e mudar aquilo que está errado”.  

Rapidamente o estudante entendeu que dentro de um partido, as discussões são a regra e que é através delas que se chega a conclusões e decisões. Superados os tabus, era hora fazer a campanha. “Eu digo que eu fiz uma campanha de vereador e o meu município foi Santa Catarina, porque foi uma campanha de formiguinha, um a um, de entrar nas casas, falar com as pessoas”, conta. Meio sem saber o que poderia acontecer, o estudante teve contato com milhares de pessoas e aprendeu sobre as peculiaridades do estado. 

Os 9.907 votos não foram suficientes para elegê-lo como deputado, mas com certeza deram mais força ainda para continuar em seus movimentos políticos. “Eu viajo e acho uma ou outra pessoa que votou em mim, mas votou muito porque acredita, porque alguma coisa a tocou”. 

Para as eleições municipais de 2020, ele tem um pouco de pudor em dizer se vai ou não participar. Ele afirma que reuniões para discutir isso estão acontecendo, mas que a candidatura ao Congresso mostrou que esse processo precisa de muita energia. “Colocar a minha vida, colocar aquilo que eu acredito pra cidade… Eu sou manezinho da ilha, eu nasci aqui, eu tenho uma família muito grande…”.

Num futuro mais distante, Israel se vê como um cara dedicado ao que se propuser a fazer: seja na política ou na advocacia. Ainda assim, vê a política como o instrumento mais forte para fazer realidade as mudanças que sonha. “Eu sinto que a minha missão passa pela política, acho que ajudar as pessoas é algo que eu pude começar a fazer com bastante força, sabe?”

Os movimentos ainda não são conhecidos por grande parte da população, que acredita que política, necessariamente, é sinônimo de mandato e partido. Se a moda pegar mesmo, eles têm a chance de escrever as suas histórias de maneira diferente. Basta não incorrer em erros passados e demonstrar que eles, de fato, têm uma alternativa completamente nova, não apenas um velho reembalado. Em Santa Catarina, Israel é uma figura a ser observada nos próximos anos.