Voluntários trabalham para acabar com abandono de cães no Campus
Texto: Mariana Moreira (rmoreira.mariana@gmail.com) e Pâmela Carbonari (pamelacarbonari@gmail.com)
Fotos: Mariana Moreira
Mel, Sofia, Frederico, Latino, Ossinho e Ranzinza são antigos moradores do campus. Basta começar a movimentação dos estudantes na fila do Restaurante Universitário, eles estão passeando por ali esperando um agrado ou um carinho. Exposição e brechó montados perto da concha acústica, eles ficam deitados no sol acompanhando. São conhecidos pelos estudantes, professores e servidores da UFSC há anos. São castrados, vacinados e bem cuidados por um pequeno grupo, hoje formado por 4 pessoas, que se sensibilizaram com os cachorros abandonados no campus universitário.
Nos últimos oito anos, o número de cachorros vivendo na Universidade diminui de 22 para dez, todos catalogados por Rogéria D’El Rei, servidora há 26 anos. A redução no número dos animais é resultado do trabalho desses poucos voluntários que passaram a acessar as câmeras de monitoramento e registrar boletins de ocorrência por abandono de animais. Rogéria conta que certa vez identificou uma pessoa e a fez retornar para buscar uma caixa com oito filhotes de cachorros que haviam sido deixados no campus.
Os cachorros que vivem hoje na Universidade, os conhecidos ‘UFSCães’, não terão novos companheiros se depender da vigília dos que buscam evitar o abandono de animais. “Nós não divulgamos muito [as ações do grupo] pela questão do abandono, as pessoas acham ‘ah, eles dão comida, são bem tratados… Vamos colocar cachorro lá que eles gostam’. Mas, não é isso. Nós nos sensibilizamos, não é que nós gostamos, porque o dinheiro sai do nosso bolso”, diz Rogéria.
A solução não é simples. Se a UFSC abrisse espaço para a criação de um canil no campus, o resultado seria o aumento no número de abandonos. Rogéria explica que “resgatar não resolve o problema. Se você pegar um animal desses e levar para um canil ele vira depósito. No outro dia, quando for alimentar os animais, em cada vãozinho da grade vão ter outros que as pessoas vem e deixam ali porque sabem que vamos cuidar.”
A preocupação não é apenas com os animais do campus, mas também a conscientização dos donos com relação à saúde animal e à proliferação. A Prefeitura Municipal oferece o serviço de castração gratuita para quem recebe até 3 salários mínimos, ou então é possível comprar o vale-castração, vendido por um valor simbólico por algumas ONGs.
Nailor Boianovski , prefeito do campus, reforça que o abandono é crime, pois os animais de estimação estão sob a responsabilidade e guarda de seus ‘donos’, e acrescenta: “A prática de abandonar cães no campus Trindade é antiga. A prova disto é o grande número que tínhamos.”
Não existe nenhuma medida oficial promovida pela Universidade que faça o recolhimento, o tratamento adequado e o encaminhamento para adoção. Na gestão dos professores Lúcio e Ariovaldo – entre 2004 e 2008 – o grupo de voluntários tinha, mesmo que pequena, uma parceria com a reitoria. Na ocasião, havia assistência, espaço para divulgação do trabalho e de publicidade para conscientizar frequentadores do campus.
“A UFSC poderia sim ajudar, já que não se esforça de forma alguma. A UFSC nos procura quando um cachorro morde alguém, quando está incomodando. Falta engajamento e ver as coisas com seriedade”, desabafa a servidora que tem, há mais de oito anos, dois 2 ex-UFSCães.