Movimento “Vamos juntas?” pretende combater violência à mulher
Texto e infográfico: Vanessa Farias (vanessa.fs.93@gmail.com) e Eduarda Pereira (pereira.duda96@gmail.com)
Gostosa! Linda. Delícia, hein? Esses são apenas alguns dos “elogios” mais frequentes ouvidos pelas mulheres quando estão em lugares públicos. Movimentos feministas caracterizam esse tipo de cantada como uma forma de violência. Por isso, nos últimos tempos, surgiram diversos grupos e organizações que ajudam a driblar esse problema. Criado no dia 30 de julho deste ano, a página no Facebook “Vamos juntas?” já conta com mais de 206 mil fãs. O objetivo é propôr às mulheres que tenham que andar por caminhos considerados perigosos a fazerem o trajeto juntas para diminuir a atuação de criminosos.
De acordo com uma pesquisa feita pela organização “Énóis Inteligência Jovem”, com meninas de 14 a 24 anos, 94% delas disseram já ter sofrido assédio verbal nas ruas. A análise, feita em maio deste ano, ainda mostra que é no espaço público onde existe mais insegurança quando o assunto é o desrespeito ao sexo feminino.
A página “Vamos juntas?” nasceu a partir da ideia da jornalista Babi Souza, em Porto Alegre. “O movimento surgiu como solução colaborativa para um problema real que passamos todos os dias”, conta. De acordo com a jornalista, o objetivo era apenas postar nas suas próprias redes sociais a proposta para as amigas. Mas, com a repercussão, em menos de duas horas, pessoas de fora do círculo social de Babi estavam compartilhando o projeto. “Entrei em contato com a ideia de que as pessoas têm o poder de melhorar as suas vidas através da união e que, juntos, podemos mais e somos mais felizes. A velha ideia de que a união faz a força e de que, ao invés de reclamar dos poderes, devemos nos propor a deixar o nosso mundo um pouco melhor”. Para criar a página no Facebook e a identidade visual, a jornalista contou com a ajuda de uma amiga designer.
Por causa do reconhecimento da página entre milhares de brasileiras e brasileiros, Babi também criou um grupo no Facebook para cada região do país. Para administrar todos eles, ela tem a ajuda de cinco voluntárias. Cada uma é responsável por cuidar de um grupo de uma região do Brasil. No total, são recebidas cerca de 80 mensagens de mulheres por dia. O grupo dedicado à região sul possui mais de 4 mil membros.
Para a criadora da página, o maior diferencial do “Vamos juntas?” é proporcionar esperança e valorizar a união. “Poucas páginas nas redes sociais têm esse intuito. Além disso, ela trouxe a questão do empoderamento da mulher por meio do amor, uma perspectiva diferente da maioria dos grupos que dizem buscar a igualdade de gêneros e que costumam ser carregados de raiva”.
Violência contra as mulheres em Santa Catarina
C H. estava voltando para casa quando foi abordada por um estranho na rua. “Ele me segurou e colocou a mão nos meus peitos e na região da vagina; logo pensei que não tinha mais como escapar”, conta. “Depois um cara apareceu de carro e perguntou o que estava acontecendo, o que me atacou foi embora correndo”. A história dela é apenas uma entre muitas relatadas por mulheres que caminham sozinhas pelas ruas de Santa Catarina. Para muitas, o fim é ainda pior. Na 8a edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2014, SC apareceu como o quarto Estado com o maior número de estupros e segundo no número de tentativas.
As cidades catarinenses também estão entre as que mais matam mulheres: Lages, Mafra, Criciúma, Balneário Camboriú e Chapecó estão entre os 100 municípios com maior índice de feminicídio. Para a estudante Mariana Ferreira, o Vamos Juntas é uma alternativa às jovens que caminham sozinhas pela rua da capital. “Não podemos depender da sorte, muitas mulheres estão sendo mortas e enquanto a polícia não faz nada, a gente precisa encontrar os nossos meios de proteção”, desabafa a estudante.
Para unir cada vez mais mulheres que procuram segurança, o “Vamos Juntas?” tem promovido encontros em várias cidades Brasileiras, e Florianópolis será a próxima. O evento acontece no próximo domingo, 27, às 15 horas, no Parque da Luz.