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Reportagens

Ivânio Alves da Luz: Guardião da Praia do Forte

Restaurante administrado pelo morador funciona numa casa de mais de um século
Reportagem por Júlia Graboski e Rafaella Junkes
Ivânio Alves da Luz em terreno de casas demolidas | Foto: Júlia Graboski

Aos 65 anos de idade, Ivânio Alves da Luz carrega nos ombros não apenas o peso do tempo, mas a responsabilidade de manter viva a memória de uma comunidade tradicional à beira-mar. Morador da Praia do Forte, em Florianópolis, ele é descendente direto de Heres Antônio Alves, um dos primeiros habitantes da região. Cresceu sob o teto de uma casa erguida por seu bisavô, homem de mãos calejadas que, segundo contam os antigos, ajudou a levantar a Fortaleza de São José da Ponta Grossa, ali bem ao lado.

Teria sido esse antepassado que fincou as primeiras estacas da família nas redondezas, logo após os embates entre portugueses e espanhóis pelo domínio da ilha. A casa, que hoje abriga o restaurante de Ivânio, permanece no mesmo pedaço de terra há mais de um século — imóvel no tempo, como um marco de pertencimento. O local pertenceu, inicialmente, a Heres, depois foi passado para seu pai até ele adoecer, quando então passou a ser cuidada por Ivânio. “Aqui no Forte, somos a única família que nunca vendeu um palmo de terra”, diz ele, com um brilho de orgulho nos olhos.

Filho da própria praia, Ivânio viveu a infância em comunhão com o mar e a terra. Os dias eram ritmados pelo arrasto das redes e pelo cultivo do essencial. “A gente plantava cebola, café. O pai trocava por farinha no mercado do Estreito”, relembra, com a voz carregada de saudade. Na juventude, partiu rumo a Porto Alegre em busca de estudo e trabalho. Serviu no Hospital Militar, mas o chamado da terra natal falou mais alto. “A vida era difícil. Ou você estudava, ou trabalhava. Eu fui trabalhar e depois voltei.”

Sua história se entrelaça com a dos irmãos, tios e sobrinhos, que formam uma rede densa de afetos e vizinhança. “É como a galinha que junta os pintos”, compara, sorrindo. “Os pais ficavam e os filhos iam se ajeitando por perto.” A convivência familiar, enraizada na terra e no afeto, ecoa os antigos modos de viver dos núcleos rurais.

Depois de tantos anos de trabalho, Ivânio enfrenta, agora, uma de suas batalhas mais amargas: a defesa da permanência tradicional na Praia do Forte. Nos últimos anos, viu casas vizinhas serem demolidas sob ordens judiciais e argumentos de que feriam o patrimônio da Fortaleza. Ele contesta. “Nos chamaram de invasores. Mas se for assim, toda a ilha é invasão. Isso aqui está registrado no SPU há gerações.”

Restaurante de Ivânio com faixas de protesto feita por moradores | Foto: Júlia Graboski

Na sua leitura, por trás da alegação de preservação histórica, escondem-se outros interesses. “Foi vingança e especulação. Derrubaram uma casa com valor histórico, que servia de cozinha militar. Ignoraram tudo isso.”

Hoje, o restaurante que administra não é apenas seu sustento. É trincheira, altar e memória viva de um tempo que resiste a ser apagado. Ivânio continua ali, onde seus antepassados fincaram raízes, lutando para que a história de sua família e de sua comunidade siga sendo contada. 

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