Alunas do Curso de Jornalismo debatem o machismo na Universidade
Texto e fotos: Bruna Andrade (brunandrade92@gmail.com)
“Mulher tem uma inocência útil” é a frase de um dos cartazes que decoram os corredores do Departamento de Jornalismo da UFSC. Muitas outras citações anônimas denunciam o que as estudantes do curso já tiveram que ouvir durante a graduação. As manifestações foram afixadas ontem (18/11) após uma roda de conversa feminina, organizada pelo Centro Acadêmico Livre de Jornalismo (CALJ), que discutiu e comentou as experiências de machismo vivenciadas dentro da universidade.
A iniciativa veio da atual gestão do CALJ, que decidiu incluir a luta contra das mulheres entre as pautas da chapa na última eleição. A reunião teve a presença de cerca de 30 estudantes, apenas mulheres. A ideia era proporcionar um ambiente seguro, no qual todas se sentissem bem para dar depoimentos, trocar experiências e debater o quanto o machismo as atinge dentro do curso.
A necessidade de debater o tema surgiu da vivência diária, como mulher, estudante e jornalista. “O machismo nos afeta quando somos cantadas por professores ou entrevistados, quando ouvimos a piada de “transar com o editor” ou com a fonte, quando tentam fazer com que desistamos de cobrir uma pauta por ela ser “perigosa demais para uma mulher”. O machismo fortalece o exercício do poder simbólico dos homens sobre as mulheres quando o veterano nos manda fazer ola de bunda ou responder se cuspimos ou engolimos. Nos afeta até no que parece mais bobo, como em dias de sol, quando os meninos podem vestir bermudas confortáveis e muitas de nós não temos coragem de usar shorts ou vestidos”, relata uma das organizadoras da roda, Thaís Ferraz.
Um dos pontos abordados foram o trote e o apadrinhamento, os dois eventos de início de semestre que costumam expor os calouros. No trote, geralmente as meninas tem que dançar para a plateia e fazer a famosa “ola de bunda”. O cartaz “Cospe ou engole?” retrata uma das usuais perguntas dirigidas às calouras no apadrinhamento. O grupo entrou num consenso de que as práticas precisam acabar ou mudar drasticamente.
As meninas também debateram o costume de relevar o machismo dentro do curso, seja porque vem de atos de colegas, ou porque algumas situações são vistas como tradição do curso, como o trote, por exemplo. Dentro da sala de aula o machismo também é vivenciado através do discurso de professores.
Outro aspecto discutido foi a falta de representatividade das mulheres dentro do próprio campo do jornalismo. “Na semana acadêmica desse ano, por exemplo, não tivemos uma única convidada mulher. A bibliografia recomendada pelos professores, em geral, tem pouquíssimas mulheres, também”, relata Ferraz.
O grupo que se autodenominou Coletivo Jornalismo sem Machismo estabeleceu algumas medidas a serem tomadas. Será elaborada uma carta aberta ao curso de jornalismo, resumindo todas as questões levantadas e convocando os estudantes para discutir o assunto. Uma reunião ampliada irá debater o trote e sugerir alternativas. As meninas também pretendem, a partir do próximo semestre, realizar um encontro com as calouras antes das festas de recepção e do trote para que elas se sintam seguras e saibam que terão apoio em qualquer situação.
Estupros na USP
O machismo é uma realidade nas universidades e pode ser experimentado no discurso de professores e colegas ou na própria violência sexual. Os casos de alunas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) vítimas de estupro em festas da Atlética do curso colocam o assunto em pauta. Além de violentadas, as estudantes foram coagidas a não contar nada para não manchar a imagem da instituição. Um audiência pública foi realizada esta semana para apurar os casos e o Ministério Público abriu inquérito para investigar.
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sempre importante o combate ao machismo, mas acho que este protesto um pouco difuso: frases como nunca conheci uma feminista bonita, coloca uma gostosa nessa capa, mulher tem uma inocencia util com certeza evidenciam o machismo latente da nossa sociedade, porem, algumas das locuções colocadas em questão não tem clara conotação machista… talvez pudessem fazer uma segunda parte do prostesto deixando claro essas situacoes embaraçosas e ofensivas convividas no dia a dia do curso.