Cabos eleitorais atuando no Centro de Florianópolis (Foto: Endy Christine)
Reportagens

Cabos eleitorais: as motivações que explicam o envolvimento em campanhas políticas

Motivados pelas próprias convicções ou por questão de conveniência, pessoas trabalham diariamente para angariar votos aos candidatos

Reportagem por Camilly Iagnecz e Endy Christine

Com as eleições municipais marcadas para este domingo (6), os apoiadores dos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores intensificam os trabalhos de campanha nas ruas. De acordo com o calendário eleitoral, a distribuição de material gráfico ou realização de caminhadas nas ruas pode ocorrer somente até as 22h de sábado (5). Quem anda pelas ruas de Florianópolis, vê uma variedade de pessoas envolvida com essas mobilizações. Mas quais são as motivações que as levam a dedicar tempo e esforço neste trabalho?

Chamados de cabos eleitorais, essas pessoas são encarregadas de obter votos para um determinado partido ou candidato. Esse trabalho envolve atividades como panfletagem, bandeiraços e distribuição de adesivos, podendo ser realizado de forma voluntária ou remunerada. O artigo 100-A da Lei 12.891 estabelece limites para o total de cabos eleitorais. Conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os candidatos a prefeito em Florianópolis podem ter até 681 cabos eleitorais, enquanto para candidatos a vereador esse limite é reduzido para 341.

Zerbo Russo, de 51 anos, é militante político desde sua adolescência. Tradutor de profissão, esta é a décima eleição em que participa voluntariamente nas campanhas do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). Sobre o que o motiva a tirar tempo da própria rotina para participar da propaganda eleitoral, Zerbo menciona a insatisfação com o sistema atual. “Não recebemos fundo partidário, não temos tempo de televisão e não nos chamam para os debates, então fazemos um esforço militante. Aproveitamos os intervalos, quando não estamos com a família ou trabalhando, para divulgar nossas posições”, explica.

Grupo de cabos eleitorais do PSTU (Foto: Endy Christine)

Também do PSTU, a professora de artes Elizabeth Bernardo reitera que o fato de o trabalho ser voluntário faz parte dos princípios do partido e de seus militantes. “Não recebemos dinheiro de empresas, somos financiados pelos trabalhadores, então seria incoerente receber algo”.

“O jogo político é assim, entende? Se eu não faço, alguém vai fazer. Os candidatos precisam de pessoas segurando bandeiras, pedindo votos”, declara Betina Davila, assistente social. Com 35 anos, essa é a primeira campanha eleitoral de Betina, motivada pela sua proximidade com uma candidata do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Ambas são colegas de trabalho na área de assistência social e compartilham ideais políticos.

O trabalho da assistente social é totalmente voluntário, segundo ela. A justificativa é o desejo de participar da campanha e se cercar de pessoas que acreditam no mesmo que ela, o que fez com que se sentisse mais fortalecida e determinada. “Eu, como colega de trabalho, não quero que venha ninguém de fora que trabalhe contra a gente. Preciso, por acreditar nesse trabalho e querer defendê-lo, colocar a minha cara a tapa”.

Reginaldo está fazendo campanha para a reeleição da candidata a quem ele assessora. Junto a um grupo, participa de bandeiraços e entrega de adesivos na Beira Mar Norte. “A maioria das pessoas aqui já trabalha com ela, são apoiadores voluntários e membros do gabinete, o que acaba sendo parte do trabalho inerente aos comissionados”, explica. Ele menciona que, durante a semana, apoiadores e pessoal de gabinete se reúnem às 7h da manhã, antes de irem para seus empregos, para contribuir com a campanha.

Cabos eleitorais atuando no Centro de Florianópolis (Foto: Endy Christine)

Por outro lado, há aqueles que unem militância com conveniência, aproveitando para advogar pelo que acreditam, enquanto recebem para isso. É o caso de Júlia* de 22 anos, que estuda matemática na Universidade Federal de Santa Catarina e é cabo eleitoral do PT (Partido dos Trabalhadores). Com um contrato mensal de R$ 1.500, Júlia trabalha de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h, ajudando na campanha aos sábados voluntariamente. Moradora de São Pedro de Alcântara, a estudante não irá votar nos candidatos para os quais está panfletando, porém sente proximidade com os ideais. Além disso, vê esse trabalho como um investimento para o futuro. “Minha cidade não tem oportunidade para a gente que é jovem, então eu tenho certeza de que vou ter que migrar para cá para construir minha vida”, justifica.

Já Pedro, Mateus e Thiago* tiveram sua primeira experiência em uma campanha eleitoral após serem dispensados do trabalho. Peixeiros no Mercado Público, o grupo chegou atrasado para o expediente. “Nosso chefe não deixou a gente trabalhar, então fomos procurar emprego. De algum jeito, precisamos garantir um dinheiro para o final de semana”, afirmam os jovens. Cada um recebeu R$ 70 para panfletar até as 13h. Embora tenham trabalhado na campanha eleitoral nesse dia, nenhum deles votará em Florianópolis, já que os três são de outro Estado e não transferiram o título de eleitor.

Enquanto alguns têm uma experiência pontual como freelancers em campanhas, outros, como Vinicius, aproveitam essas oportunidades para complementar a renda. Para ele, cada trabalho temporário é crucial para seu sustento, já que não possui emprego fixo. Embora atue em diversas áreas, como DJ, bartender e staff, esta é sua primeira experiência na política. Vinicius recebe R$ 120 por um dia de trabalho de oito horas, realizando atividades como panfletagem e bandeiraço. Ele é mais um dos que não vão votar onde estão trabalhando, pois é residente de Palhoça.

*Nomes fictícios para preservar a identidade das fontes que preferiram não se identificar.

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