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Os dois lados da capital

Morador de rua que vive na Beiramar mostra os contrastes de Florianópolis

 Texto e fotos: Rafaela Blacutt ( rafaelablacutt@gmail.com )
Foto capa: Jornalista Marcelo Passamai

Há alguns dias, várias pessoas têm compartilhado a foto de um homem de cadeira de rodas que está morando em uma barraca na Beiramar Norte de Florianópolis e pede dinheiro na sinaleira. Mas na verdade, ninguém sabe qual é a história por trás desse cenário.

“Será que a gente pode conversar?”- perguntei após me identificar. “Claro, vamos ali na minha casa” – respondeu apontando para a cadeira de rodas.

Silvio Schen Ferreira tem 30 anos e é natural do Paraná. Na verdade Silvio é seu nome de batizado, mas o pessoal que passa por ali já o apelidou de Marcio, Sandro, Aloísio. “Sei que esse Aloísio é jogador do Figueirense, mas poxa, eu sou corinthiano”.

Apesar das dificuldades, Silvio é um homem sorridente e entusiasmado. Foi vítima de paralisia infantil, desde que nasceu tem somente uma perna que é atrofiada. Hoje ele se locomove andando sob os joelhos ou de cadeira de rodas. “Eu tinha uma prótese, mas roubaram em abril desse ano, na praça da Liberdade ali no centro”. Desde então, Silvio pede dinheiro nas sinaleiras de Florianópolis para conseguir se sustentar – dependendo do dia ele consegue juntar até R$80. Contudo esta não é a primeira vez que o paranaense está na ilha.

Logo após perder os pais, com cerca de 12 anos de idade, Silvio começou a trabalhar descascando pinos em vários estados do Brasil. Passou pelo Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Veio para Florianópolis em 2005 e ficou até 2009. Nesse período trabalhou em obras no Campeche. “Escolhi esse lugar porque sempre via na TV e achava lindo demais”. Voltou pra cá em setembro de 2011 e é aqui que quer ficar. “Fiz muitos amigos na Beiramar, todo dia um monte de gente me cumprimenta, são mais legais que meus irmãos”. Entre irmãs e irmãos, Silvio tem doze. Mas a família nunca o ajudou. “Pra eles valho menos que essas moedinhas aqui”.

Moedas valiosas que pagam as refeições de todos os dias. Silvio toma café, almoça e janta em um posto de gasolina próximo ao local onde fica na Beiramar. Come todo dia macarrão instantâneo de copo com coca-cola. “A coca não pode faltar”.  Além  do dinheiro dado pelos motoristas, o continthiano também recebe uma aposentadoria por invalidez, no valor de um salário mínimo. O dinheiro todo é gasto em comida, produtos de higiene pessoal – Silvio paga R$4 para tomar banho todos os dias na rodoviária de Florianópolis – e roupas quando necessário. “Ah também compro pilhas para minha TV portátil. Até o Tufão eu assistia”.

Estudar ele nunca quis. Frequentou os dois primeiros dias de aula na primeira série, porém não se adaptou: “no primeiro não gostei da professora, no segundo não gostei do nescau que serviram, daí não fui mais”. Hoje, Silvio lamenta. “Tive que aprender muitas coisas com a vida: ler, escrever e até continhas de matemática eu sei fazer”.

Mesmo com a maioria das pessoas ajudando por pena, ele garante que não está sofrendo. “Claro que não é bem isso que eu quero pra minha vidá né, se eu conseguir uma outra prótese, quero voltar a trabalhar como pedreiro, é o que eu gosto e o que eu sei fazer”.

Entre tantas outras frases e ditados, Silvio repetiu umas três vezes que “a vida é bela”. Quem sabe a beleza está realmente nos olhos de quem vê, como já dizia Augusto Cury.

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