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Que seja infinito enquanto dure

Cresce o número de divórcios entre pessoas com mais de 50 anos

Texto: Pâmela Carbonari ( pamelacarbonari@gmail.com )

Foi-se o tempo em que as palavras do padre no altar deveriam ser seguidas pelo casal como uma lei. “Até que a morte os separe” vem, cada vez mais, ganhando sentido de metáfora e adquirindo novas interpretações. Os distintos rearranjos sociais e familiares trazidos pela vida moderna e o aumento das liberdades individuais mostram que a felicidade independe da duração do casamento. O “infinito enquanto dure”, do Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes, parece mais apropriado que as palavras deterministas ditas ao pé do altar.

Segundo um estudo realizado pelo IBGE, em 2010, de cada quatro casamentos, um termina em divórcio. Os dados, que registram apenas os divórcios oficializados em cartório, podem esconder um número ainda maior de separações informais. A pesquisa mostra também que, de 2000 a 2010, a média de divórcios entre pessoas acima dos 50 anos cresceu 28% – seis pontos percentuais a mais que o registrado entre os casais que têm de 20 a 50 anos.

Maria Eleonor Fialho, de 77 anos, casada durante mais de três décadas conta que quando seus filhos já estavam crescidos, chegou um momento em que percebeu que só tinha se dedicado a eles e a seu casamento “Meu marido, que fora meu primeiro e único namorado, e eu esquecíamos que não éramos felizes. Logo que propus o divórcio ele não aceitou, então eu mesma saí de casa. Fui morar de aluguel, voltei a trabalhar fora e me aposentei. Apesar de ter sido muito doloroso, não me arrependo. Desde então, nunca mais tive um relacionamento. Hoje vivo bem, não dependo de ninguém, não sinto solidão, tenho muitas amizades, viajo bastante e faço trabalho voluntário. Sinto-me realizada como mulher. Estamos no mundo para sermos felizes”

Desconstruir a imagem do idoso de pijama em casa é essencial para compreender o fenômeno das separações grisalhas. De acordo com o IBGE, a expectativa de vida dos brasileiros hoje é de 73 anos, enquanto que 70 anos atrás, ela era de apenas 41,5 anos. Aliado a isso, soma-se uma maior estabilidade financeira atingida depois dos 50 e mais opções de consumo voltadas para esse público. Entre os anos de 2007 e 2010, o Ministério do Turismo registrou 600 mil pacotes de viagens vendidos a idosos. Outra prova de que estes não são mais os velhinhos que passavam o dia jogando dominó é que o número de assalariados com mais de 65 anos cresceu 12% em 2010, segundo o Ministério do Trabalho.

A revolução sexual na terceira idade propiciada pelo avanço da medicina e uma maior capacidade física também contribuem para o fenômeno. “Por mais que reposição hormonal e o Viagra deem mais possibilidades para as pessoas exercerem sua sexualidade, eles podem também salvar casamentos. O fim dos matrimônios nessa idade não se restringe a problemas relacionados a sexo. Eles querem mais carinho, atenção e independência.” acrescenta Leandro Oltramari, professor e pesquisador de psicologia da UFSC. Outro fator importante a ser lembrado é que a maioria desses casamentos começaram em uma época em que as mulheres casavam-se muito jovens e tinham um papel submisso em relação aos homens, consequentemente, quando esses relacionamentos terminam, elas se sentem libertas.

A separação pode ser vista como uma possibilidade de recomeço de uma vida mais plena e prazerosa. No entanto, o divórcio em um estágio avançado não traz só benefícios, mas também problemas peculiares. Maria Eleonor, na época com dois filhos casados e outros dois na faculdade, afirma que o diálogo franco e a transparência foram fundamentais “Quando quis sair de casa, deixei meus filhos decidirem com quem morariam, eles vieram comigo por livre e espontânea vontade. Compreenderam o divórcio porque viam que nosso casamento não era feliz.”

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