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“Prezado Condômino, favor respeitar o horário de silêncio”

Texto: Pâmela Carbonari (pamelacarbonari@gmail.com)
Infográfico: Merlim Malacoski (merlimiriane@gmail.com)

Tranquilidade, bem-estar, conforto e abrigo são sentimentos que definem a sensação de estar em casa. Depois de um dia exaustivo ou de uma longa viagem, não há destino melhor que o próprio lar. Em tempos de rotina atribulada, violência urbana, grandes cidades e, por vezes, dinheiro curto, o ideal árcade cantado por Elis Regina, em 1972- “Quero uma casa no campo onde eu possa ficar do tamanho da paz” ganha cada vez mais aspecto de fascinação do que de realidade. No Brasil, de acordo com o censo do IBGE de 2010,  quase 40% das residências fixas são apartamentos.

Praticidade, segurança e pouca necessidade de manutenção são algumas das virtudes desse tipo de imóvel. No entanto, elas dividem espaço com um problema bastante recorrente em prédios e condomínios: o barulho. Festa, salto alto, criança chorando, reforma ou até o volume alto da televisão são algumas das queixas mais ouvidas por Yamandu Martorell, sindíco há cinco anos de um prédio de 98 apartamentos no centro da capital.  “Você pede uma vez, pede outra, na terceira vez as pessoas acatam”, ensina ele. O síndico conta que uma das condôminas que mais reclamava chegou a trocar o apartamento por uma casa devido a problemas relacionados ao barulho, mas que no novo endereço também se incomodou com os ruídos da vizinhança. “É muito mais difícil lidar com quem reclama que com quem produz o barulho, porque os problemas geralmente são pontuais, já as reclamações, às vezes, não cabem nem a mim resolver”, afirma Yamandu.

Não à toa, os condomínios criam seus próprios códigos de normas e conduta.Os limites de volume permitidos variam de acordo com as regras municipais, mas a maioria dos estatutos internos segue as normas NBR 10151 e 10152. Entre dois apartamentos, o nível aceitável é de 45 decibéis(dB), que equivale ao som emitido por um aparelho de ar condicionado- 65 (dB) é o máximo que o ouvido humano suporta sem que o organismo sofra algum tipo de estresse, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Clique nos sinais de + da imagem para ler o depoimento de pessoas insatisfeitas com o barulho de seus vizinhos. [swfobj src=”http://cotidiano.sites.ufsc.br/wp-content/uploads/2013/03/depoimentos.swf” width=”550 px” height=”550 px” align=”right”]

O condomínio no divã 

Frente aos inúmeros telefonemas de reclamação recebidos por Martorell e à tendência de legislar princípios comportamentais, a professora de psicologia Andréa Vieira Zanella alerta que as relações de convivência precisam ser repensadas. “Divergências que deveriam ser resolvidas com diálogo viraram questões jurídicas. A reivindicação não adianta se as pessoas não compreenderem que os seus direitos e liberdades individuais também implicam nas liberdades e direitos coletivos.”  E ao lembrar que o comportamento não é isolado das condições em que os indivíduos estão expostos, Andréa questiona “Qual é o tipo de construção que estamos vivendo que não podemos nem ver televisão ou assoviar sem que o vizinho nos ouça?”

Para o professor Erasmo Felipe Vergara, do laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC, uma das possíveis razões do problema é a utilização de materiais cada vez mais finos nas construções “Antigamente, as paredes dos apartamentos, por exemplo, eram mais sólidas e mais densas, o que proporcionava melhores condições térmicas e acústicas. Hoje, principalmente por questões financeiras e de espaço, isso é cada vez mais raro.”

Para regulamentar o cenário exposto por Vergara, entrou em vigor em fevereiro deste ano a NBR1575, a Norma Brasileira de Desempenho de Edifícios, que a partir de 19 de julho obrigará as construtoras a projetarem e executarem suas obras habitacionais seguindo parâmetros específicos de desempenho acústico, térmico, hidrossanitário, durabilidade e garantia.

Que som é esse?

Os ruídos se propagam de duas formas principais: pelo ar e pela estrutura. Os sons aéreos são aqueles cuja reprodução é feita no ar, podendo vir do barulho feito pelo rádio, televisão, conversas, assovios, instrumentos musicais etc. Enquanto os sons estruturais são gerados quando o emissor está em contato com a estrutura do edifício e produzem vibrações por impacto. O barulho do elevador, portas batendo, objetos caindo, marteladas e crianças pulando são alguns exemplos de ruídos de impacto ou ruídos estruturais.

Além desses sons serem distintos na forma de emissão, as maneiras de atenuá-los também diferem.  A qualidade acústica de um imóvel com problemas relacionados a ruídos aéreos pode ser melhorada com o uso de portas e paredes reforçadas, vidros projetados com espessuras especiais e esquadrias isoladas com borracha ou silicone. Já os sons estruturais são amenizados através de elementos capazes de absorver a energia emitida pelas vibrações, como tapetes, mantas e pisos amortecedores. “Um prédio é um conjunto de fontes sonoras conectadas. Não compensa tentar economizar em soluções acústicas na hora de realizar o projeto e resolver o incômodo depois. Quando o prédio está pronto, além de ser mais difícil, a solução dos ruídos é menos eficáz e muito mais cara”, avisa o professor Vergaro.

Clique nas imagens para saber a intensidade (em decibéis) de cada som. [swfobj src=”http://cotidiano.sites.ufsc.br/wp-content/uploads/2013/03/db1.swf” width=”950px” height=”300px”]

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