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Balbúrdia: clínicas odontológicas da UFSC oferecem atendimento gratuito à comunidade diariamente

Reportagem por Georgia Rovaris (georgiarovaris1@gmail.com) e Rodrigo Barbosa (rodrigobpp@hotmail.com)

Fotografia por Rodrigo Barbosa

No dia 30 de abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o contingenciamento de 30% do orçamento para custeio e investimento de três Universidades Federais. Uma das justificativas para o congelamento do repasse foi de que a UnB (Universidade Federal de Brasília), UFF (Universidade Federal Fluminense) e UFBA (Universidade Federal da Bahia) estariam promovendo “balbúrdia” em seus campi. A balbúrdia, de acordo com o ministro, se daria por conta da realização de eventos de debate político, manifestações partidárias e festas dentro das universidades, que, historicamente, são ambientes para a construção de ideias e fortalecimento da democracia.

Dias depois, foi anunciado que o congelamento seria aplicado a todas as instituições federais de ensino. No meio do primeiro semestre letivo de 2019, instituições de ensino básico, médio, técnico e superior sofrem a ameaça de não cumprirem o calendário acadêmico por falta de verbas para serviços como energia elétrica, água, limpeza, segurança e compra de equipamentos.

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mais de 60 milhões da verba para o ano de 2019 foram bloqueadas. O reitor Ubaldo Cesar Balthazar já afirmou que, caso o bloqueio não seja desfeito, a UFSC não tem condições de funcionar após o mês de agosto.  

Além de afetar diretamente a rotina e a formação de milhares de estudantes, professores e técnicos, a medida do governo ameaça projetos de extensão e pesquisa realizados dentro dos campi. Hoje, mais de 90% das pesquisas realizadas no Brasil são desenvolvidas dentro das Universidades Federais.

Com o intuito de divulgar a importância de um ensino público gratuito e de qualidade, o Cotidiano UFSC lança uma nova editoria: Balbúrdia. A partir dessa semana, publicaremos conteúdo a fim de divulgar projetos de pesquisa, extensão e atendimento à comunidade realizados dentro da UFSC. Nossa primeira matéria apresenta a Clínica Odontológica da universidade, que oferece atendimento gratuito à comunidade catarinense diariamente e auxilia na formação de novos profissionais.

Vinculada ao Departamento de Odontologia, a Clínica Odontológica da UFSC oferece atendimento gratuito à comunidade nos períodos matutino e vespertino, durante o período das aulas. Os serviços são oferecidos em parceria com o SUS (Sistema Único de Saúde) e englobam diversa variedade de especialidades, como radiografias, cirurgias, atendimento pediátrico e de urgência. Os pacientes são acolhidos e recebem informações sobre sua situação. Dependendo da capacidade de atendimento do período, são atendidos de acordo com prioridades estabelecidas.

Na Clínica, o atendimento é realizado por professores e alunos do Curso de Odontologia. A prática é obrigatória no currículo dos estudantes e visa à capacitação dos futuros profissionais da área, que têm a possibilidade de colocar em prática o que aprendem em sala de aula. Os alunos começam a atender na Clínica a partir do sexto período da graduação sob supervisão de professores.

Somente no ano de 2018, quase 1.500 pessoas receberam atendimento eletivo na Clínica. Atendimentos eletivos são aqueles programados, não sendo considerados de urgência ou emergência. Dentro desses atendimentos, estão procedimentos como tratamentos de canal e ortodontia (correção da posição de dentes e ossos maxilares).

No mesmo período, foram 5.777 pessoas contempladas em atendimentos de profilaxia (prevenção de doenças), realizadas mais de 3.500 restaurações e 750 procedimentos de exodontia (remoção de dentes). O serviço que atende o maior número de pessoas é o de radiografias: mais de 6.700 foram realizadas no ano passado. Morador da Lagoa da Conceição, Heraldo Jozino, 56 anos, veio até o campus da Trindade em busca de uma radiografia. Ele afirma que, se não fosse pela Clínica Odontológica da UFSC, ele não teria acesso a outro tipo de tratamento. “Se você vai lá no [Hospital] Celso Ramos para ser atendido leva o dia todo. Às vezes espera 15 dias, 10 dias”. Segundo ele, o atendimento oferecido pela Clínica da UFSC é bem mais rápido.

Com o congelamento de verbas imposto pelo governo federal, a expectativa é de que a Clínica Odontológica tenha condições para funcionar até o início de setembro. A partir daí, faltaria material para que os atendimentos ocorram dentro da universidade. Quem afirma isso é Mario Vinicius Zendron, professor e Chefe do Departamento de Odontologia da UFSC.

Zendron explica que 352 itens são constantemente renovados para garantir o funcionamento da Clínica. “Se falta um ou dois itens, já acabou. Não precisa faltar todos eles porque é uma sequência. Então a gente vai ter muita dificuldade. Estou muito preocupado. Todos nós estamos muito preocupados com a situação nacional”, lamenta o professor.

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