Reportagens

Uma nova percepção sobre o espaço urbano

Aplicativos de trânsito e localização influenciam dinâmicas de fluxo e mudam a compreensão sobre as cidades

Texto: Natália Huf (natalia.huf@gmail.com)


Rodoviária do Tietê, 11 horas da manhã de segunda-feira. Nenhuma plaquinha com meu nome e ninguém me esperando no terminal. Saindo de Santana precisava chegar até a Vila Formosa, na Zona Leste, onde ficaria hospedada na casa de uma amiga durante uma semana na maior metrópole da América Latina. Sem companhia e sem ideia do trajeto, saquei o celular do bolso, torcendo para que os 37% de bateria me fossem suficientes: “Como chegar até o metrô Tatuapé”, Google, pesquisar.

Com as direções que o buscador me deu, abri um aplicativo. O Moovit reconheceu que eu não estava mais na minha cidade de origem — Florianópolis — e quis confirmar que eu estava mesmo em São Paulo. Sim, trocar a localização. Agora, com um clique, todas as linhas de ônibus e metrô, horários de saída e informações sobre quanto tempo eu levaria para chegar ao meu destino estavam ali, concentradas no celular (a bateria resistia, ainda bem).

Repleta de elementos que transmitem informação, a cidade por si só é uma mídia: ruas indicam caminhos, e barreiras — muros, por exemplo — mostram quais são os limites e até onde se pode ir. “Essas informações, que antes eram dadas apenas pelo espaço físico, construído, estão agora, também, em uma camada digital: o Waze te indica o caminho, aplicativos como o Foursquare ou o Whrrl te contam o que acontece em cada lugar (e ainda te mostram as avaliações de outros usuários), e assim por diante”, explica a arquiteta e pesquisadora Laryssa Tarachucky.

O simples fato de saber como transitar pela cidade e ter as informações necessárias num dispositivo que cabe no bolso altera a percepção das pessoas sobre o espaço. Morando um ano em Amsterdã, na Holanda, Carla Rocha, doutoranda em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), passou a utilizar a bicicleta como seu principal meio de transporte. “Dispor do Google Maps em meu celular me permitiu estabelecer uma relação com a cidade. Em comparação ao transporte público, eu tinha mais autonomia para gerir meus trajetos, economia de tempo e ainda uma outra noção do mapa da cidade.” Para Carla, a possibilidade de falar, enviar imagens ou trocar ideias em tempo real com uma ou mais pessoas, que podem estar inclusive em locais distantes entre si, nos confronta com uma outra relação com o espaço e o tempo e permite uma revisão de como se têm estabelecido as relações sociais.

Em São Paulo, eu contava com 12% de bateria quando cheguei à estação de metrô do Tatuapé. Dali até a Vila Formosa, ainda precisaria pegar um ônibus e mais: parar no ponto certo. Ativei os apps e fui, sozinha. Só por desencargo de consciência, perguntei: “Moço, pode me avisar na Sampaio Vidal?”. Nem precisava — a notificação do aplicativo acendeu a tela, avisando “Prepare-se para descer em 2 pontos”. Pouco depois, piscou: “Você chegou ao seu destino”. Apertei o botão e desci, sabendo exatamente onde estava, numa cidade que nem conhecia, e que é tantas vezes maior do que a que vivo hoje e ainda mais do que daquela de onde vim.

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