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Sabores de um Ribeirão: Conheça a história de dois moradores e sua relação com a comida vinda do mar

Texto e Fotos: Luiza Kons  (lupkons@gmail.com)
Vídeo e Edição: Miriam Amorim (amorim.miriam@gmail.com)

Lídia Solange de Souza, a Lidinha, de 59 anos é dessas que não tem medo de falar. Com a voz rouca e grave, faz longos diálogos sobre sua vida e histórias dos filhos. O jeito de pronunciar as palavras de modo rápido é próprio de quem nasceu e morou a maior parte dos anos no Ribeirão da Ilha; já a  impostação invejável é característica de Lidinha mesmo.

Quando soube que iria aparecer diante da câmera fez questão de passar um batom para acentuar seus lábios carnudos e colocar um lenço na cabeça. Lidinha sentou na poltrona amarela coberta com um pano florido e começou a relembrar do tempo em que o pai pescador voltava para casa com vários peixes, inclusive arraias. Para Lidinha e os irmãos, a alimentação repleta de iguarias do fundo do mar não era novidade “é o que tínhamos para comer”.

Então naturalmente a manezinha foi crescendo e aprendendo dentro de casa como deveria preparar cada peixe. Há cincos anos vende diversos tipos de bolinhos e outros pratos:  bolinho de Siri, de camarão, de peixe e de berbigão. Para os apaixonados por camarão, tem à milanesa e recheado com batata e ostra. Tudo feito com a ajuda do marido Norberto Cardoso de Souza de 61 anos, com quem é casada há 38 anos.

Desde o final de 2014, Lidinha e Norberto também começaram a vender seus pratos na Associação de Mulheres Aquicultoras e Ambientalistas da Ilha (AMAQUAI). O lucro maior acontece durante a temporada quando os dois ficam em um quiosque próximo a casa. O freezer chega a armazenar mais de 200 bandejas de salgados, afora outro recipiente que o casal mantém do lado de fora da casa.

Apesar de a culinária local estar presente no dia-a-dia do casal, Lídia comenta que a ligação com o mar não é tão forte quanto antes “hoje comemos mais frango”, e que algumas espécies de peixes e a própria arraia não são mais encontrados com tanta facilidade na baía. Dos três filhos, apenas a mais velha sabe cozinhar “tão bem quanto a mãe”, afirma Noberto.

As mudanças nos alimentos que consomem não são encaradas com tristeza pelo casal, e sim vistas como parte de um novo tempo. Talvez a maior preocupação dos dois, que se conheceram em um “bailinho”, seja a de deixar o lugar que escolheram morar pela vida toda. Norberto não esconde o orgulho “nasci na Agronômica, tenho parentes lá, mas há 30 anos aqui já dá para dizer que sou do Ribeirão”.

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