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Programa busca conscientização de usuários da rede

Texto: Ariane Cupertino (ariane.mcupertino@gmail.com)

O caso da transexual Verônica, espancada por policiais na prisão após agredir uma idosa, repercutiu fortemente nas redes sociais. Pessoas defenderam e atacaram, debatendo o fato por dias. Em meio às discussões, uns buscaram defesa com base nos direitos humanos enquanto outros apoiaram e incitaram a violência contra Verônica. Isso é um exemplo de como a internet pode gerar opiniões extremas que resultam em discursos de ódio sobre qualquer tipo de assunto. Com a intenção de diminuir esse e outros problemas virtuais, o programa Humaniza Redes foi desenvolvido.

O Humaniza Redes é uma iniciativa do Governo Federal, criada a partir do Pacto Nacional do Enfrentamento às Violações de Direitos Humanos, e prevê a utilização da internet na tentativa de garantir mais segurança nas redes sociais. O projeto é voltado principalmente para crianças e adolescentes, mas abrange todos os tipos de violação aos direitos humanos, como racismo, homofobia, ou discriminação a qualquer tipo de diversidade.

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O site, criado para denunciar as ocorrências de intolerância via redes sociais, também traz informações sobre os primeiros passos a serem seguidos após a agressão sofrida na internet. O movimento, inicialmente, funciona com três eixos: denúncia, prevenção e segurança.

A ouvidoria online, disponível no site, recebe, apura e encaminha as denúncias para a seção que melhor atenda a necessidade da vítima, seja a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, da Igualdade Racial ou da Mulher. Funciona da mesma forma que o disque 100, só que em plataforma online.

O projeto tem apoio de formadores de opinião, como o cartunista Laerte Coutinho, que declarou para o site: “O Humaniza Redes veio super em boa hora. Todo mundo está vendo que o crescimento da truculência, das linguagens de crueldade, ameaças e todos os tipos de infração, e até mesmo crime, estão acontecendo nas redes. A internet é um espaço livre, um espaço aberto, mas, que nem por isso, deve estar abandonado.”

Além disso, há uma página no Facebook, com mais de 48 mil curtidas, que publica diariamente textos e imagens para disseminar as ideias do programa.

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Desde que foi criado, o Humaniza Redes enfrenta problemas com os usuários das redes sociais. Em sua página do Facebook, o programa é acusado de tentar implantar a censura e limitar a liberdade de expressão. Além disso, critica-se o valor gasto para a implantação e a manutenção do projeto. Através do Portal da Transparência, é possível constatar que o gasto total até agora foi de cerca de R$ 300 mil.

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Para o professor universitário de Mídias Sociais Marcelo Barcelos, apesar da desaprovação de algumas pessoas, a iniciativa é positiva e o ganho é inquestionável. “No momento político atual com gastos, reflexos de corte e corrupção, qualquer investimento pode virar motivo para críticas, mas vejo o programa com bons olhos e torço para que não seja uma manobra política.”

As principais polêmicas surgiram através da página no Facebook, e vão desde opiniões contrárias às postagens até discursos de ódio da parte de usuários. Alguns comentários não falam exclusivamente das imagens ou citações publicadas, mas sim de casos isolados, como o da transexual Verônica, citada no início do texto. Com uma imagem em defesa das transexuais, a página recebeu muitos comentários, gerando debate sobre o caso em si, ao invés de promover a discussão do assunto como um todo.

Outro problema que o projeto encontra é a criação de páginas falsas com o mesmo nome no Facebook, na tentativa de espalhar opiniões diferentes das que a original propõe. Além disso, o comediante Danilo Gentili criou uma página chamada  Desumaniza Redes, que já possui mais de 70 mil curtidas e tem o objetivo de ironizar a página oficial. A página Humaniza Redes está ativa, e com exceção dessa última, tem conseguido excluir, através de denúncias, contas falsas com o mesmo nome.

Apesar das opiniões contrárias, o programa tem cumprido sua proposta, promovendo a cyber cidadania, tentando fazer com que as pessoas pensem mais antes de publicar em redes sociais e criando assim uma consciência maior por parte dos usuários. Segundo os próprios organizadores, esses são os primeiros passos para diminuir a prática de crimes virtuais.

Liberdade de Expressão

Embora algumas pessoas defendam que o programa é uma tentativa de coibir a liberdade de expressão nas redes, o que de fato se percebe é que o movimento visa a proteção de quem está sujeito a crimes online, tentando esclarecer as diferenças entre opinião e discursos de ódio.

Sobre o que o Humaniza Redes apresentou até aqui, Marcelo Barcelos sugere medidas que poderiam ajudar na sua ampliação: “Promover debates dentro das universidades, em congressos e simpósios. Fazer com que o canal funcione como objeto de estudo. A rede tem que vir para rua e ouvir o que as pessoas têm a falar.” Ele, no entanto, prefere não fazer previsões sobre o futuro do Humaniza Redes. “Ainda é muito cedo para dizer se vai dar certo ou não”.

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