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Mesmo em condições precárias, indígenas ocuparão terminal o ano inteiro

Reportagem de Rodrigo Barbosa e Ne-gatxa Patté

Abandonado desde 2005, o antigo Terminal Rodoviário do Saco dos Limões (Tisac), em Florianópolis, virou moradia de verão para indígenas da etnia Kaingang há três anos. Atraídos pela lucrativa temporada turística na cidade, eles vêm com suas famílias para vender artesanato pelas ruas e praias. Suas origens variam: parte vem do interior do estado, parte dos estados vizinhos, Rio Grande do Sul e Paraná. 

Alojados em barracas da Defesa Civil e lonas cedidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), cerca de 70 famílias se dividiam antes entre o segundo andar da rodoviária de Florianópolis e a parte de baixo do Elevado Dias Velho, até que, em 2016, conseguiram apoio do Ministério Público Federal (MPF) para ocupar o antigo terminal. Também veio do MPF a determinação para que a prefeitura tratasse do caso, providenciando a construção de acomodação definitiva para os Kaingang. E, até que isso não aconteça, determinou ainda que a municipalidade garanta condições básicas de saneamento e eletricidade ao local provisório em que se encontram. 

2019, porém, será um ano diferente para os Kaingang do Tisac. Isso porque no último dia 22, em reunião com o MPF, foi apresentado o projeto definitivo de uma Casa de Passagem que os abrigará nas próximas temporadas. Orgulhoso, com fotos da futura moradia em mãos, o líder indígena Sadraque Lopes disse que promessas já foram feitas no passado, mas pela primeira vez o projeto foi apresentado de forma concreta à Comissão Indígena. Presidida por Lopes, a Comissão é formada por 13 membros e tem como objetivo tratar de assuntos que afetam diretamente a vida dos ocupantes. 

Lopes também revelou a tática que eles utilizarão para que, desta vez, a construção da Casa de Passagem não fique somente na promessa: vão permanecer ocupando o Tisac durante todo o ano. “Os que vão ficar aí é para ‘segurar’, né? Essas cinco ou dez famílias que estão ficando agora vão ficar até sair a Casa de Passagem, botando pressão aí”, disse. Será a primeira vez que os Kaingang ficarão em Florianópolis fora da alta temporada. 

A Casa de Passagem Indígena é reivindicação dos Kaingang há pelo menos dez anos. Trata-se de um espaço adjacente ao terminal, que abrigaria com muito mais conforto os indígenas durante as atividades de verão, de novembro ao período da Páscoa, quando então eles costumam voltar para suas aldeias. Com a casa definitiva, eles terão mais conforto, já que hoje os Kaingang que vêm à capital no verão ficam expostos à chuva e aos ventos muito comuns em Florianópolis nesse período. Além disso, se faz necessária a nova instalação principalmente em função das precárias condições hidráulicas e elétricas do local que ocupam provisoriamente no Tisac, já que lá, por exemplo, só existem seis banheiros para mais de 200 pessoas. 

Por fim, o projeto também conta com um espaço para a criação de uma horta e uma oficina para a confecção de artesanatos, o que auxiliaria a reforçar a cultura dos Kaingang, que são o terceiro maior grupo indígena do país (estima-se que sua população total supere 25 mil pessoas). Os indígenas também esperam movimentar o turismo da região, através de apresentações musicais e de dança que ocorreriam em um espaço apropriado dentro da Casa de Passagem. “A Casa de Passagem seria um jeito de ajudar a manter a nossa cultura também”, afirma Neri Francisco, um dos que irá passar a maior parte do ano em Florianópolis.

Também membro da Comissão Indígena, Francisco alerta que, apesar dos esforços para a construção da nova moradia, os indígenas seguem enfrentando problemas para permanecer na capital catarinense. Ele denuncia que os banheiros químicos instalados na ocupação não recebem a manutenção devida. “Já faz uns 12 dias que estão sem fazer a limpeza lá e o odor está terrívelA coisa mais básica é fazer essa limpeza, não vai custar muito e é um direito nosso. É um direito de cada cidadão. Assim como o povo branco têm os seus direitos, eu acho que eles têm que olhar um pouco mais para a questão da limpeza ali”, enfatiza. 

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