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Jornalistas protestam contra demissões e descaso dos grandes grupos de mídia

Texto e arte: Amanda Ribeiro

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e os sindicatos de jornalistas convocaram profissionais, docentes e estudantes da área para se vestirem de preto em protesto nacional contra a precarização das condições de trabalho e as demissões em massa que se intensificaram nos últimos meses. Também vai ser realizada uma passeata pelas ruas de São Paulo, que saíra do auditório do Sindicato dos Jornalistas rumo à sede do jornal Folha de S. Paulo que, no começo do mês de abril, demitiu cerca de 50 funcionários de sua redação. Além do Grupo Folha, grandes empresas de comunicação, como o Estado de São Paulo e a RBS, realizaram cortes no quadro de funcionários de 2012 até agora.

Pouco antes da caminhada, às 13h, os representantes de sindicatos e a Fenaj vão se reunir para discutir medidas jurídicas contra as demissões em massa. Ainda no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, vai ser realizado o Ato Nacional, às 15h, que deve promover uma discussão mais ampla entre profissionais, pessoas relacionadas à área, autoridades e entidades convidadas para o evento. A Fenaj também planeja divulgar amplamente o evento pelas redes sociais, de forma a ganhar mais adesão de simpatizantes à causa e jornalistas de outros estados.

Ainda em 2012, grandes grupos de comunicação, como o Estado, a Folha e a Abril demitiram um total de 1283 empregados, segundo informações da Agência Pública. Em 2013, esse número cresceu quase 50%. As principais justificativas são a diminuição da verba publicitária, o pouco lucro dos jornais impressos e o remodelamento dos negócios dos grupos, que em sua maioria vêm apostando no jornalismo online como forma de escapar à suposta crise do impresso. O presidente da Fenaj, Celso Augusto Schröeder afirmou, em texto publicado em uma rede pessoal, que a análise dos balanços das empresas indica que o lucro passa longe de ser desprezível. “Há uma ação articulada de caracterização de uma crise no setor que não existe e de irresponsabilidade social quanto ao emprego dos jornalistas. Precisamos reagir e lutar em defesa dos nossos direitos, por isso convocamos a categoria a assumir e participar desta mobilização”.

O exemplo mais próximo de Florianópolis aconteceu em agosto do ano passado, quando o grupo RBS anunciou o corte de 130 funcionários como parte de um projeto de remodelamento dos negócio da empresa. As demissões foram divulgadas em nota assinada pelo presidente do grupo, Eduardo Melzer, que negou a existência de crise na empresa e anunciou o objetivo de investir em negócios fora da mídia, como o comércio de vinhos e cervejas. Também usou como justificativa para a demissão a necessidade de aumentar a eficiência da empresa. “São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém acredito que tanto os profissionais quanto as empresas precisam repensar o modo como atuam”.

Além das demissões em massa, a segurança dos jornalistas no exercer de sua profissão também vem sendo ameaçada. Segundo um relatório publicado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras no ano passado, o Brasil é considerado o segundo país mais perigoso da América para se trabalhar como jornalista. Até o fim de 2014, foram 82 profissionais feridos e 2 mortos, sendo que dois terços dessas agressões foram causadas por policiais. Também foram citadas no relatório as dificuldades na cobertura de temas como o crime organizado e a política.

Para tentar conter esses índices de violência, foram desenvolvidos alguns projetos, como o Observatório da Violência contra Profissionais da Comunicação, instituído em 2014 pelo Governo Federal para apurar denúncias de violência e acompanhar o desdobramento dos casos junto à Secretaria de Direitos Humanos. Além disso, um projeto de lei, apresentado em 2011, previa a participação da Polícia Federal na investigação de crimes cometidos contra jornalistas durante o exercício da profissão caso as autoridades estaduais não conseguissem resolver o problema em até três meses. O PL 1.078/2011, no entanto, foi arquivado no começo deste ano.

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