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Fernando Morais fala sobre rumos do jornalismo em entrevista ao Cotidiano

Texto e imagens: Larissa Gaspar (larissa.gasparcp@gmail.com) e Luiza Kons (lupkons@gmail.com)

Lá estava na recepção do Hotel SESC Cacupé um homem de óculos com aros redondos e camiseta preta. Sujeito de olhar penetrante e doce a um só tempo. Fernando Morais faria uma palestra de abertura no 2º Prêmio Fecomércio de Jornalismo, com a temática “Rumos do jornalismo, crise na mídia tradicional e credibilidade das informações em tempos de redes sociais”. E nós não queríamos perder a chance de entrevistar esse sujeito que é referência em biografias de gente polêmica.

-Vamos ver, já dei cinco entrevistas hoje! Tenho que comer alguma coisa e tomar um banho ainda.

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Tudo o que conseguíamos pensar era “que droga, não avisaram o Fernando Morais que iríamos entrevista-lo às 17 h30”. Olhei diretamente para ele e em tom persuasivo:

-Eu nasci em Assis Chateaubriand! Mereço uma chance.

Morais abriu um sorriso diante da afirmação e disse quem sabe depois de ele comer alguma coisa. Ele se dirigia até a porta e nós já nos conformávamos em esperar. Por alguma razão, se virou e nos convidou para ir com ele. Entramos dentro da minivan do hotel SESC e fomos a um restaurante a poucas quadras dali. Morais estava louco para comer um croquete de siri, que considera uma das maravilhas gastronômicas. Mas, assim que se sentou próximo a uma parede azul e começou a divagar sobre jornalismo e internet  se esqueceu da fome.

Com a voz grave e a fala mansa de mineiro, Fernando confia na permanência da atividade jornalística  nas plataformas digitais. Acredita que a profissão  vai passar por uma espécie de seleção natural, onde apenas os profissionais competentes sobreviverão na era da internet. E,apesar de ter escrito longos livros impressos, afirma que prefere muito mais seu e-book, onde cabem vastas bibliotecas. Fez questão de tirar o aparelho da mochila preta e nos mostrá-lo, talvez como vício de jornalista experiente que quer dar credibilidade a informação.

-Agora o tablet tem um problema. Sabem qual é? Está sem bateria mas, também isso é fácil, tem tomada em tudo que é lugar!

Com o aparelho Morais pode viajar pelo mundo com sua biblioteca imensa e compacta, e quase se esquecer que por mês gasta aproximadamente R$ 500,00 para guardar cerca de 8.000 mil livros em um depósito.

Pausa para comer um “croquetinho” e tomar uma dose de vodca , enquanto fala da pequena neta Clarice que recebeu o nome em homenagem  a música de Caetano Veloso Que mistérios tem Clarice.

Pausa aproveitada para fugir das temáticas óbvias da entrevista.

-Posso fazer uma pergunta aleatória?

-Pode.

-Quando li seu livro do Chatô ( Chatô, o rei do Brasil), tinham tantas informações que já não lembro de um monte de coisa. Você se lembra de tudo depois que termina um livro?

-Eu também não lembro. E nunca li um livro meu.

Morais não lê porque considera que todo texto pode ser melhorado e revê-los seria encontrar várias erros.

Sem Título-2

A escrita é uma atividade dolorosa para o homem de óculos redondos, quando começa uma obra tudo o que deseja é acaba-la o quanto antes. Talvez, seja a ânsia de Morais, que antes de tudo se considera um jornalista, em trazer revelações surpreendentes o mais rápido possível, talvez seja a dificuldade em lidar com o próprio senso crítico, ou talvez seja a intensidade das personalidades dúbias que registra. Não sei. Só espero que essa matéria publicada em uma plataforma online esteja nos rumos certos, e não sejamos engolidas pelas teorias de Darwin.

Veja aqui a entrevista com Fernando Morais

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