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Conheça Julien Blanc, atual indesejável nº 1 do país

Texto: Guilherme Longo (guilherme.longo93@gmail.com)

Desde a última terça-feira (11), uma série de protestos tem ganhado espaço nas redes sociais. O foco é o americano Julien Blanc, conhecido por suas palestras com técnicas para pegar mulheres, utilizando métodos não ortodoxos e sexistas. Até o momento, mais de uma dezena de petições online apelam para o Itamaraty, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para que não autorizem a entrada do palestrante no país, que possui agenda marcada entre 22 e 31 de janeiro do próximo ano em Florianópolis e no Rio de Janeiro.  No Brasil, a que tem maior adesão até o momento foi criada pelo movimento “Não Mereço Ser Estuprada”, que possui 257 mil assinaturas. A assessoria de imprensa do Itamaraty disse agora a pouco ( 17h), que para o Ministério do Exterior existem elementos que indicam a não permissão de entrada de Blanc no país.

Em Santa Catarina, a dona de agência de comunicação Mariana Bleyer, administradora da página do Facebook “Beverly Hills Catarinense”, criou uma petição que já tem mais de 2 mil adesões. No texto disponível no site Avaaz, a petição catarinense defende que as atitudes de Blanc são desrespeitosas às mulheres, por exaltar o estupro, a agressão e o racismo.

Mariana comenta que ficou sabendo da vinda de Julien através de uma amiga de Curitiba, que perguntou se sabia alguma forma de ajudar. Resolveu então utilizar a visibilidade da página que administra para atrair atenção ao assunto. Através da petição que criou, diz ter intenção de conseguir apoio de setores como a bancada feminina da Assembleia Legislativa do Estado e de responsáveis legais para impedir a realização do evento. Junto com os seguidores de sua página, está tentando descobrir informações sobre quem estaria patrocinando a palestra do americano. Até o momento, não estão disponíveis na internet nenhum dado sobre possíveis locais de realização do evento.

Quem é Julien Blanc – o artista da pegação

Julien se autodenomina um pick up artist (artista da pegação, em tradução livre) e viaja o mundo ensinando a homens os “melhores jeitos” para se levar uma mulher para a cama. Entre suas estratégias estão atos de asfixia e abuso físico. Uma de suas técnicas mais conhecidas é chamada de “Como fazer ela ficar”. Em um gráfico no formato de pizza, ele descreve uma série de dicas para ajudar na sedução. As dicas estão distribuídas entre categorias como: “use crianças”, “use o privilégio masculino”, “use intimidação” e “negue, culpe e minimize”. A tabela, originalmente publicada no perfil de Julien no Instagram, está disponível na galeria abaixo:

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Além de suas palestras, Julien também possui um blog e páginas em redes sociais. Mas após os primeiros protestos contra seus métodos, excluiu alguns vídeos de sua conta no YouTube e tornou seus tweets fechados para o público. Entre seus posts, dá dicas de como deixar o apartamento arrumado para convencer uma mulher a transar com você e “humor louco que inevitavelmente chega até a calcinha dela” (Tradução livre de “twisted humor that inevitably knifes through to her panties”). Mesmo com todas as polêmicas, suas publicações chegam a atingir a marca de 15 mil visualizações. E pelo valor de 500 dólares, aproximadamente 1.300 reais, pode-se ter acesso ao jogo “Pimp”, criado por Julien para ajudar a fazer com que as garotas “peçam para dormir com você” (traduzido do site) e garantir participação em um grupo exclusivo no Facebook, onde o americano responde diretamente as dúvidas dos membros.

A vinda de Julien ao país foi confirmada pelo site oficial do palestrante na noite de segunda-feira. Logo em seguida as movimentações começaram. Essa seria a segunda visita conhecida do americano ao Brasil. Em um dos vídeos divulgados em sua página oficial no YouTube, ele aparece falando da Avenida Paulista, em São Paulo.

Essa não é a primeira vez que a visita de Julien a um país causa protestos. Na última semana, o americano teve seu visto cancelado durante uma série de palestras na Austrália. Dos eventos marcados até o final de novembro, somente um foi realizado. No Japão também teve problemas após algumas de suas declarações vazarem na imprensa. Ao comentar sobre como se relacionar com asiáticas, disse: “Em Tóquio, se você é um homem branco, pode fazer o que quiser. Faça traquinagens pelas ruas agarrando as garotas. Cabeça no pênis. Cabeça. No pênis. Todo estrangeiro branco faz isso.”. No Canadá, também existem petições para impedir que Julien realize palestras.

Mas se engana quem pensa que o americano atua sozinho. Ele é um dos representantes da empresa Real Social Dynamics (RSD), especializada em consultorias na área de relacionamentos. Além de palestras, a RSD comercializa livros e DVD’s sobre o tema. Fundada em 2002, se considera a melhor do ramo, segundo a apresentação no site. Os bootcamps estão entre os serviços mais procurados. De acordo com um vídeo de introdução, ele consiste em uma série de “eventos de imersão”, onde os instrutores levam os alunos para clubes, praias e locais movimentados para demonstrar as técnicas para pegar mulheres. Após as interações iniciais, os estudantes passam para os exercícios práticos, sendo posteriormente avaliados. Em casos mais extremos, chegam até a estar presentes caso um dos homens consiga levar uma mulher para a cama.

No vídeo de explicação do funcionamento de um bootcamp, Papa, cofundador da RSD e um dos instrutores, destaca a importância da empresa para os alunos: “deixe para os especialistas. Você não faria uma cirurgia com um médico que não opera em mais de um ano. Com a gente é a mesma coisa. Nossos instrutores trabalham todos os finais de semana”, afirma.

Por enquanto, as palestras de Julien ainda estão confirmadas. Em seu site oficial, já estão abertas as vendas para os pacotes de seus eventos. Para Florianópolis, a participação entre os dias 22, 23 e 24 de janeiro sai pelo valor de 2.500 dólares, ou 6.425 reais, segundo a cotação de 13/11.

Atualização: o Itamaraty confirmou ontem, em nota, que até agora não houve solicitação de visto de permanência por parte de Blanc, mas que existem elementos suficientes para determinar que o visto seja vetado:
“Caso uma solicitação de visto seja recebida por qualquer Embaixada ou Consulado no exterior, já existem elementos suficientes que recomendam a denegação. Para tanto, o Itamaraty acompanha o assunto em coordenação com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Políticas para as Mulheres” diz o texto.

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